Stella F.. 07/12/2021
Disgrace
Desonra – J. M. Coetzee- Companhia das Letras – 1999
J. M. Coetzee nasceu na África do Sul em 1940. Foi agraciado duas vezes com o Booker Prize e recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 2003. Após esse último prêmio ficou bastante conhecido por este livro, Desonra.
David Lurie é professor universitário na cadeira de Comunicação, apesar de ser especialista em Literatura, e tentar escrever uma ópera sobre Byron. Vive na Cidade do Cabo, na África do Sul. Leva uma vida corriqueira, que é satisfatória a ele, mas já percebendo o avanço da idade (52 anos) e suas consequências. Foi casado duas vezes e é divorciado, e possui uma filha, Lucy, do primeiro casamento. Relaciona-se com uma prostituta, e tem em seu currículo envolvimento com alunas. Envolve-se, após deixar de encontrar com a prostituta às quintas-feiras, com a aluna Melanie, de uns 20 anos. Usa de sua influência como professor para atraí-la. Ela não recusa, mas também não se mostra amorosa com ele, apenas vai vivendo a situação. Mas começa a faltar as aulas, não ir às provas, e no final, por pressão, resolve denunciá-lo.
Começa então o declínio do professor. Instala-se uma comissão onde pedem que ele se declare culpado. Ele o faz, mas eles querem mais, um pedido de desculpa, uma declaração pública de seus atos. Ele se recusa a ir contra os seus princípios e acaba sofrendo uma punição severa: sua demissão.
A saída que encontra é ir ao encontro de sua filha Lucy no interior, onde ela tem um pedaço de terra, em que planta e cuida de cachorros. Uma vez por semana ela participa de uma feira onde vende seus produtos. Lucy gosta da sua vida com a natureza e os bichos e tem pessoas que a ajudam na fazendola, caso de Petrus.
A princípio David tenta se acostumar com aquela vida que não é a dele, fica reticente, e então vem um segundo revés. Sofrem um atentado por três negros, onde David sofre queimaduras e Lucy é estuprada. Lucy fica deprimida, não quer denunciar o abuso, apenas a perda de objetos para fins do seguro, e o pai não a entende, a questiona.
Descobre que um dos invasores era parente do Petrus, “amigo” de Lucy que a ajuda na fazenda, mas que cada vez mais está tomando posse, comprando parte dela, tornando-se sócio, construindo uma nova casa, adquirindo rebanho e deixando de ser o “empregado” de Lucy.
A relação entre pai e filha vai deteriorando, esse pai que era ausente na vida da filha, e agora quer resgatar essa relação falha, tentar ajudá-la com essa questão do abuso. E vai embora, mas volta ao descobrir que sua filha ficou grávida e que pretende assumir o filho.
David encontra um meio de viver no que a princípio era um tédio para ele, ajudando a filha em suas tarefas e ajudando a uma amiga, Bev Shaw, com a clínica em que ela finaliza a vida de cachorros sem futuro.
A invasão seria um tipo de retaliação, de vingança, e de resgate dos “donos” da terra do que eles acham que os brancos devem a eles, brancos que os dominaram por muitos anos, e que invadiram e colonizaram o seu país, e agora após o apartheid, os donos querem de volta o poder.
O livro é denso, difícil, mas com questões interessantes. O que é abuso? Lucy foi abusada, mas Melanie não foi? David é um egoísta, mas quando Petrus resolve que quer as coisas dele, que gosta da ambição de possuir, ele o acha egoísta. E vemos a decrepitude do professor e dos cachorros. Além de podermos questionar se é legítima essa vingança, essa retaliação por parte dos negros.
Pelo título brasileiro Desonra, fiquei pensando na desonra do professor, da Melanie e da Lucy. Ficaram desonradas, por atos de terceiros e o professor por seus próprios atos, sua escolha. Mas, quando fui procurar resenhas para melhor entender o que havia lido, a discussão era em cima do título original, Disgrace, e não apenas nos atos desonrosos, mas nas muitas desgraças que acontecem ao longo do livro.
Os vídeos foram muito esclarecedores, por isso vou deixá-los aqui:
https://youtu.be/tXTpSjBW_PQ (Desonra (J. M. Coetzee) | Carmem Lucia) e https://youtu.be/SR_UaXu3wnY (Literatura Fundamental 84 - Desonra, de J. M. Coetzee - André Correia).