Ricardo Silas 13/04/2014
Bilhões e Bilhões.
Diante dos escritos do condecorado Carl Sagan, e pelo seu brilhantismo e apego ao uso do método científico, pela propagação do ceticismo e divulgação científica, imbuído de fascínio, poesia, e uma inebriante paixão pelo cosmos, este livro foi, para mim, como um encontro de aprendiz e mestre.
Bilhões e Bilhões rompe qualquer opinião parca que imputa à ciência a responsabilidade infame de reduzir as maravilhas e encantos da natureza. Quem se atreveria? A Ciência tem feito com que seus adeptos tenham acesso às informações que constituem toda a complexidade e magnitude que envolvem as constantes leis da física, biologia, química. Somos capazes de voar a alturas antes inimagináveis; mergulhar nos mais profundos e obscuros oceanos; conhecer a diversidade da vida, a estrutura de uma célula, a ingente anatomia de uma estrela. É impossível ler os livros do Sagan sem captar a cândida essência da percepção do universo assombroso que nos abriga.
Em seus artigos, Carl Sagan exprime sua inquietante preocupação acerca dos problemas advindos da má administração da natureza, da displicência da nossa espécie e, sobretudo, da firme permanência nesses enganos intempestivos que, gradativamente, nos encaminha ao colapso global. A indiferença dos humanos aos seus semelhantes e seus absortos e frenéticos empreendimentos para a criação de armas termonucleares e bombas de hidrogênios por parte do governo norte-americano e russo, capazes de extirpar a nós mesmos, são problematizações trazidas pelo Sagan. Além disso, sua perícia meticulosa ao tratar de temáticas que só geram polêmicas desnecessárias, como o aborto, me fez observar eticamente quais as prescrições e questionamentos sustentam com maior coerência a ambivalência quase que impassível dos pró-escolha e pró-vida.
Cada capítulo deste livro merece atenção especial e repetitiva. Não se deve abrir mão de uma leitura como esta. Meu senso de proporcionalidade foi expandido ao máximo graças à visibilidade cosmológica do Carl Sagan. Afinal, somos bilhões de bilhões de seres vivos, sozinhos num dos bilhões de bilhões de sistemas solares que integram bilhões de bilhões de galáxias. Qualquer um que seja tolo o bastante para ignorar este fato aterrador, e se omita ao reconhecimento enobrecedor que nos qualifica como seres humanos insuficientes, efêmeros, frágeis e falíveis, não compreenderá as palavras intrincadas em Bilhões de Bilhões.
Triste perda. Pouco conheço das obras literárias produzidas por este nobre pensador. Mas, assumo saber o suficiente para admirar todo seu trabalho, com peculiar afinco e admirável amabilidade que incita a nossa espécie a ser mais gregária no que toca aos assuntos de premência coletiva e global. Grato ao Carl Sagan pelo seu legado racionalístico de valor inestimável.