Lucas André 23/02/2024
Dedos tamborilantes, dor, religião, política e lodo!
Elantris, era a magnífica cidade mágica e de grande poder, assim como seus habitantes, os elantrinos, seres mitológicos, praticamente deidades caminhando sob a terra. Eram criaturas de cabelos prateados e pele radiante, imaculados e provedores de tudo que fosse possível para uma sociedade utópica. Eram mestres da magia, pela qual conseguiam tudo aquilo que fosse necessário, desde água, comida, luz e até cura. A magia era canalizada com os aons, símbolos que eram desenhados no ar, formados com círculos e linhas, onde para cada coisa tinha um símbolo específico.
Porém tudo se fora quando cai uma maldição que acaba definhando a linda cidade e seus colossais habitantes. Os cabelos caem, a pele enruga e fica escurecida. Tudo aquilo que antes era venerado agora era uma aberração. Elantris então é fechada e todos aqueles que recebem a maldição são jogados dentro dela para sofrer.
Tudo isso é um grande motivador para construção do livro. E que me chamou muita atenção para lê-lo.
Após dez anos deste acontecimento são introduzidos os personagens principais e se inicia a narrativa.
Sarene, a princesa de Teod prometida em casamento ao príncipe de Arelon, a fim de criar uma aliança política que poderia ser de grande benefício para ambas as nações. Sarene é bonita, inteligente, ousada, destemida e determinada, além de rica.
Raoden, o próprio príncipe que se casaria com a bela princesa (para ambos ficarem ainda mais ricos). Porém, de súbito é amaldiçoado. O caso é abafado pelo próprio rei, seu pai. Então o querido, simpático, intelecto e amado príncipe é jogado para dentro de Elantris para definhar.
Hrathen, com sua opulenta armadura vermelha, um astuto sacerdote de uma seita religiosa, também conhecido por gyorn, é enviado para Arelon por seu superior para converter todos os habitantes e instaurar uma nova crença, seja por meios brandos ou violentos. As intenções do sacerdote não são apenas religiosas, mas também tem a função apossar do trono alguém que seja maleável e manipulável às intenções de controle de seus mestres. Apesar de ser mandado, Hrathen estava determinado a cumprir sua missão.
Os capítulos são intercalados pelas perspectivas destes três personagens.
Os quais são bem interessantes, mas que no decorrer da narrativa vão deixando a desejar, não porque são ruins ou mal construídos, mas pela maneira que o autor organiza toda a narrativa.
Então vamos a alguns pontos.
Se passa da metade do livro e tudo parece que ainda é uma grande introdução. As coisas demoram acontecer e dificilmente algo que acontece de fato surpreende. A narrativa padece de uma monotonia.
O autor vai construindo, construindo e construindo. Ou pelo menos dá a entender que está fazendo isso.
Em alguns momentos acontece aquela suspensão e se imagina que algo vai eclodir, mas infelizmente não acontece algo relevante. Em momentos a leitura flui, em outros ela trava. Esse ritmo se estende e se repete pela maior parte do livro.
Vale ressaltar que o livro é dividido em três partes.
A primeira é basicamente a introdução, a qual vai até mais da metade do livro. Até então ok. Quando cheguei nessa parte achei que eram apenas duas.
A segunda parte pouco se difere da primeira, porém mais curta. Seguindo aquele mesmo padrão vai e trava, vai e trava...
Aí vem a terceira parte.
Tinha bastante coisas a serem resolvidas e explicadas.
E de fato aconteceu o que estava me preocupando tanto: o autor decide acelerar as coisas de maneira abrupta.
O que antes era organizado em capítulos longos, separados pelas perspectivas dos três personagens, agora se misturam em fragmentos e com capítulos ainda menores.
Sabe quando se está tranquilo e de repente você olha no relógio e pensa "poxa, tô atrasado, tenho que acelerar o passo ou então não chegarei onde quero".
O desfecho não foi ruim, mas foi mal organizado.
Na minha perspectiva, o autor tinha todas as ferramentas nas mãos. Os personagens, a ambientação, as motivações e o pano de fundo, que era Elantris.
Tinha tudo isso, mas acabou se perdendo e dando atenção para coisas que no fim da história não mudariam nada se fossem removidos da narrativa.
O autor se estendeu tanto em coisas fúteis e poderia ter depositado mais um pouco de interesse pelo desfecho da trama.
Penso também que Sarene poderia ter mais companheiras de narrativa, não junto dela, mas na construção da história. Tem algumas espalhadas pelas páginas, mas exceto Katara, nenhuma outra se sobressai tanto assim. O livro está cheio de personificação masculina, tem Raoden, Galladon, Kiin, Roial, Hrathen, Dilaf e etc. Coitada né.
O autor se preocupou muito mais em dizer varias vezes que "Sarene tamborilou os dedos na bochecha", do que trazer coisas mais interessantes.
Já estava claro que Raoden estava com dores, porém o autor não se cansou de dizer isso muita e muitas vezes. As dores tinham um motivo, mas não de maneira tão repetitiva.
Além da dor tinha lodo.
Elantris tem muito lodo. Lodo por tudo. Lodo, muito lodo. Já foi falado que tinha lodo em Elantris? Pois é, tem muito lodo. Lodo nas roupas, lodo nas paredes, nas ruas, nos becos, na comida. Mas se esquecer, lembre-se que tinha lodo.
Hrathen, inicialmente, se mostrou ardiloso e alguém interessante, que com o passar das páginas, o personagem me chamava cada vez mais atenção. Em alguns momentos estava mais interessado em saber sobre ele do que sobre Sarene ou Raoden. Fiquei com muitas esperanças de ele surpreender, porém quando isso acontece, parece repentino. Ficou a sensação de que poderia ter sido mais do que foi.
Desnecessário tanta explicação sobre política pra no fim se entender o básico para solucionar o problema. Placebo.
E o mesmo serve para religião.
As coisas sobrenaturais que tem na história poderiam ter sido melhor explicadas e aprofundadas. Tanto a magia Elantrina, quanto os "sacerdotes" inimigos e os Mistérios.
Eu de fato, quando iniciei a leitura, estava muito otimista e queria ter continuado assim até o final. Torci muito para que tudo fosse dar certo com o passar das páginas, mesmo que não via isso acontecendo, cada capítulo me deixava muito esperançoso.
Fico muito intrigado, pois me pareceu que o autor estava tentando fazer as coisas acontecerem de um modo que fosse dar muito certo, mas não deu conta daquilo que ele mesmo construiu.
E se você que leu e por um acaso sabe quem era o enviado pelo pai de Sarene pra ficar de olho nela, me diga. Fiquei na dúvida, se eu não prestei atenção ou realmente não foi revelado.
E no fim...
Que experiência meus amigos!