Euflauzino 25/03/2014Na iminência de frustrar o leitorO maior problema de um livro em primeira pessoa, e daí a dificuldade em desenvolvê-lo, é que ele deixa um vácuo enorme em relação às outras personagens – o que estariam pensando? Como reagiriam psicologicamente a determinado evento?
Pensando nisso, JamieMcGuire resolveu nos brindar com a versão da personagem Travis Maddox para os acontecimentos que se desenrolaram em “Belo desastre”, no qual apenas Abby tinha voz. Então nasceu Desastre iminente (Verus, 405 páginas).
Confesso que estava ansioso para ler este livro, já que havia gostado do primeiro. Não me identifiquei com as personagens, mas tratei o livro como um filme da Sessão da Tarde e acabei me dando bem. As mulheres deveriam ficar loucas pelo bad boy Travis “Cachorro Louco” Maddox, e como não? O cara parte pra porrada por qualquer coisa, é campeão do clube de luta do colégio, anda numa moto potente e pra defender seu amor não mede consequências. Certamente uma lenda. As meninas suspiram – o cara é realmente fodão.
Bom, então voltemos ao livro. De cara percebemos que Maddox irá quebrar a cara, já que seu lema é “faça sexo e mande a mina embora”:
“Enfim. Nenhuma mulher me faria ficar acabado de tanto chorar e caindo de bêbado por tê-la perdido. Se elas não permaneciam comigo, é porque não valiam a pena de qualquer forma.”
Ahhh grande Cachorro Louco, em breve iria mudar de ideia. Alguém iria lhe quebrar a espinha e esse alguém seria Abby Abernathy:
“— Tem algo nela que eu preciso. É isso. É tão estranho assim que eu ache a Abby legal pra caramba e não queira dividir com mais ninguém?”
Pronto, o bichinho da paixão picou o grande e fodão Maddox (até o sobrenome do cara é viril). Daí entramos na cabeça do personagem, um cara sofrido que criou uma casca dura nas brigas com os irmãos e com a perda da mãe. Não consegue entender Abby, mas não consegue largá-la:
“… Bem que tentei manter a calma, mas aquela mulher me irritava. Conversar com ela era como bater um papo com um buraco negro. Não importava o que eu dissesse, até mesmo nas poucas vezes em que fui sincero em relação aos meus sentimentos. A audição seletiva dela me enfurecia. Eu não conseguia fazer com que ela me entendesse…”
Fiquei me imaginando conversando com um buraco negro, sinistro isso. E pior, a tal da audição seletiva, lembrei-me na hora de uma charge que rola na net em que o marido acidentado liga pra mulher e diz: “— Querida, sofri um acidente e a Ângela me trouxe para o hospital. O carro teve perda total. Quebrei duas costelas e uma delas perfurou meu pulmão. Estou respirando por um aparelho, mas não corro mais perigo de morte”. A esposa toda ofendida dá o cheque-mate: “— Quem é Ângela?”
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