Renata (@renatac.arruda) 27/05/2014
Quase de verdade é um dos cinco livros infantis que Clarice Lispector escreveu ao longo de sua prolífica carreira. A narrativa é contada por Ulisses, um cachorro "com olhar de gente" que late as suas histórias para Clarice, sua dona. Logo no início Ulisses declara que sua história até parece de mentira e até parece de verdade, explicando (em uma frase que ecoa Manoel de Barros) que "só é verdade no mundo de quem gosta de inventar", criando uma cumplicidade direta com o universo infantil.
A história que Ulisses conta se passa em outro quintal, no de Onofre e Oniria, esta que, segundo o cãozinho, se torna meio mágica ao entrar na cozinha. Imagine, ela consegue fazer explodir um bolo misturando ovo, farinha de trigo, manteiga e chocolate! O enredo é padrão: no quintal de Oniria vivem galos e galinhas liderados por Ovidio e Odissea e uma figueira. Incapaz de dar frutos, a figueira se torna invejosa e resolve procurar uma nuvem-bruxa má (Oxélia) para tomar todos os ovos produzidos pelas galinhas e ficar rica. Mas como toda magia (e injustiça) tem seu preço, logo as galinhas exaustas de botar ovo noite e dia se uniram e bolaram um plano que desse bastante prejuízo à árvore exploradora. Livres da exploração, as galinhas ainda procuram a poderosa nuvem-bruxa boa (Oxalá) para redimir Oxélia e perdoar a figueira arrependida.
E não será preciso um leitor mais observador para notar a metáfora sobre a exploração do trabalho e direito dos trabalhadores. Para que não reste dúvidas da sagacidade de Clarice ao introduzir temas complexos em um livros infantis, retiro dois trechos:
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