Daniel.Chagas 05/10/2017A morte e a vidaUm romance bastante sensível. A medida que avança a sensação é de ir submergindo na alma dos personagens, que são gente bastante simples e humilde. Pra quem gosta dos velhinhos nossos de todo dia, avós, avôs, ou mesmo esses que se vê passar, a leitura pode ser bem tocante e também agradável. O universo deste livro é o dos velhos, mesmo os personagens que não estão na terceira idade passam uma velhice, uma vida desgastada pelo tempo. Em alguns momentos me lembrou algumas obras únicas +/- nesse viés, como o filme Amour, do Haneke; Era uma vez em Tóquio, do Yasujiro Ozu; ou o romance Memorias de Minhas Putas Tristes, do Márquez.
O personagem narrador regressa à sua terra natal Luar-do-Chão por causa da morte de seu avô. Vindo da cidade tudo é muito estranho lá. Um lugar separado da civilização por um rio, esquecido pelo tempo. Lá o menor dos acontecimentos importa, e os maiores também. Na cidade há crimes, mortes e desgraças todos os dias, mas ninguém se importa. Nessa ilha abastada porém, é o oposto, o que há de mais humano sobrevive.
Luar-do-Chão é um lugar pequeno e triste, mas é ao mesmo tão mágico, tão cheio de vida e mistérios. Lá a superstição nao existe, pois tudo que poderia ser superstição é visto de forma natural. Os encantamentos brotam do chão. E com essa estranheza nosso personagem Mariano é obrigado a conviver e reaprender. De encontro com seu passado e com o passado de seus parentes, Mariano vai redescobrindo uma vida de tradições, descobrindo sua propria história e de sua família. Nesse aprendizado percebe ele, e o leitor, que a vida e a morte se confundem a todo instante, e os antepassados nunca morrerão enquanto seus filhos, netos, ainda viverem.