Vivian San Juan 16/03/2014Sensível na medida certa.Essa resenha acredito que seja para mim, uma das resenhas mais difíceis de escrever, pois a sinopse praticamente já disse tudo e alongar mais seria acabar com o propósito do livro e revelar o segredo que a protagonista, Melinda, não revela a ninguém. Mesmo assim, vou tentar descrever para vocês como foi ler essa famosa obra literária de Laurie Halse Anderson.
Melinda acabou de entrar para o ensino médio e desde que chamou a polícia na festa dos veteranos, suas amigas não falavam mais com ela, as pessoas a ridicularizava, suas notas começaram a cair e vários problemas começaram a surgir.
"Eu tinha feito um megaesforço para me esquecer de cada segundo daquela maldita festa, e cá estou eu, no meio de uma galera hostil, que me odeia por causa do que tive que fazer. Não posso contar para eles o que realmente aconteceu. Não consigo nem pensar naquela festa. Um rugido animal brota do meu estômago. (Página 42)
Vivia em seu mundinho solitário, apenas com seus pensamentos que a torturavam dia após dia. Além disso também provocava um tipo de tortura em si mesma, se machucava, era uma maneira de extravasar toda a dor que estava sentindo em seu peito.
"Está cada vez mais difícil falar. A minha garganta vive ferida, os meus lábios, em carne viva. Quando acordo de manhã, o maxilar está tão contraído que me dá dor de cabeça. (...) Sempre que tento conversar com os meus pais ou um professor, balbucio ou congelo. O que tem de errado comigo? É como se eu tivesse algum tipo de laringite espasmódica." (Página 67)
Melinda pouco falava com as pessoas que convivia. No colégio não tinha ninguém para ouvi-la, muitas vezes se sentava só na hora do almoço e com o tempo também foi matando as aulas. Conseguiu achar um refúgio na própria escola para passar o tempo. Ficava em um cubículo por horas, pois era um local onde se sentia mais confortável e tranquila. Em casa, seus pais, eram pessoas totalmente negligentes, não prestavam atenção na própria filha. Quando estavam juntos viviam brigando, quando estavam separados se dedicavam ao trabalho, Melinda, se sentia só também em seu próprio lar, pois ninguém tinha tempo para olhar para ela e entender o que estava de fato se passando.
" A minha família não conversa muito e tem nada em comum, mas, se a minha mãe preparar uma ceia adequada nesse feriado, isso significa que então seremos uma família por mais um ano. Lógica Kodak, aparência é tudo. Só nos comerciais de TV esse tipo de coisa funciona." (Página 75)
Voltando para o colégio, Melinda conseguiu se destacar apenas na aula de artes. Suas notas eram altas nessa matéria, pois através da arte ela transmitia tudo o que estava sentindo, suas angústias, seus pesadelos, suas dores e principalmente conseguia falar com as imagens.
Ao longo da leitura, vamos acompanhando o drama de Melinda e vamos saber o que realmente aconteceu na festa. O livro tem poucos diálogos, pois a maior parte é o pensamento da menina que domina a história que é contada em primeira pessoa.
Esse é o segundo livro que leio da autora (o primeiro que li foi Garotas de Vidro) e só venho a admira-la cada vez mais pelo excelente trabalho. Nunca conheci nenhum autor que escrevesse tão bem histórias de pessoas problemáticas de um modo tão brilhante e cheio de sentimentos. Ela consegue fazer com que você entre no personagem e sinta a dor que o mesmo esta passando naquele exato momento, sem se tornar uma leitura chata e cansativa. Outro aspecto que acho interessante é a construção de todos os personagens envolvidos e não só apenas a protagonista, pois cada um possui uma função importante para entendermos o que se passa com a nossa Melinda. A autora consegue nos mostrar como muitos seres humanos são cruéis e que só se preocupam com os seus próprios problemas. Os pais da menina é um exemplo disso. São nitidamente pessoas despreparadas e que nunca deveriam ter tido filhos, pois só se preocupam com eles mesmos e não conseguem nem reparar os problemas notórios de Melinda. Também podemos presenciar a inserção do bullying na história. Infelizmente, tudo o que se retrata no livro é uma realidade constante diante dos nossos olhos, tanto no ambiente familiar como no escolar.
Fale! foi escrito em 1999 pela autora Laurie Halse Anderson e foi um dos seus trabalhos mais premiados até hoje, sendo adotado por várias escolas americanas como leitura fundamental e em 2004 foi levado para os cinemas com o filme chamado "O Silêncio de Melinda", tendo a atriz Kristen Stewart como protagonista. Confesso que fiquei na vontade de assistir o filme, mesmo sabendo que normalmente o livro sempre é melhor.
Quero aproveitar e parabenizar a Editora Valentina por ter lançado esse livro maravilhoso e pelo magnífico trabalho em relação a capa e a diagramação (e ilustração) das páginas. A capa ficou muito bonita e tem tudo a ver com a história.
Virei fã de Melinda e, para mim, ela é uma heroína. Com certeza ouvi-la dentro de cada página deste livro foi uma experiência grandiosa e que me fez enxergar como os nossos problemas muitas vezes são nada comparados com o de outras pessoas. Fui a melhor amiga de Melinda essa semana e ouví-la foi um lindo presente.
Obs: Resenha encontra-se no blog Saleta de Leitura.
site:
http://saletadeleitura.blogspot.com.br/2013/09/resenha-premiada-do-livro-fale-de.html