DIRCE 27/03/2013
Preciso falar sobre a Eva
Comprei esse livro por constatar que estava meio escasso na net, mas não pretendia lê-lo no momento por vários motivos , e um deles foram as impressões deixadas aqui no Skoob, que muito me assustaram.
Bem, e o livro chegou.Comecei a folheá-lo um tanto cética e desdenhosa – acreditava que,apesar das excelentes e favoráveis resenhas que li, deveria se tratar de mais um dentre os muitos best-sellers destinados às adaptações cinematográficas. Estava enganada: realmente foi feita a adaptação para o cinema, mas o livro que estava em minhas mãos não era do tipo Sessão da tarde. A escrita era simplesmente sedutora, e quando dei por mim, já estava na página 67, lendo a carta escrita em 08 de dezembro de 2000 ao Querido Franklin(é dessa forma que tomamos conhecimento da história – por meio das cartas que Eva escrevia, e que eram destinadas ao Franklin). Meus olhos percorriam , avidamente, cada linha escrita e constatei, pelas cartas pré- Kevin,que Eva (sugestivo esse nome...),a mulher executiva,de origem armênia, que resolve engravidar aos 37 anos para satisfazer o desejo do marido( Franklin), era dotada de grande senso de humor – era o que eu costumo chamar de uma “figurinha”.Um tanto surpresa,lembrei-me dos comentários de alguns leitores no qual diziam que o início do livro era entediante. Não é mesmo, não para mim. Eu me vi, muitas vezes, rindo e conversando com Eva: ara! ara! deixe de ser ingênua. Você teve seu primeiro filho beirando os 40 anos, parto ”normal” e, ainda para ajudar a obstetra que a assistiu era totalmente desprovida de compaixão, você queria o quê? Tocar os céus com as mãos? Calma, é só esperar a exaustão se esvair e aí sim. Aí sim, você estará “babando” pelo seu bebê. Pois é...parece que a ingênua era eu. Mas Eva se esforçou – ela se esforçou para ser uma boa mãe para Kevin.
Lá pelas tantas, eu me vi conversando, não mais com a Eva, mas com a Lionel Shriver( a escritora), me vi dizendo a ela: menos, Lionel, menos. A leitura ficava cada vez mais tensa, e eu mais ainda. Uma frase da Clarice Lispector retumbava na minha cabeça: “ Filhos dão alegrias. Mas também tenho dores de parto todos os dias“. Frase que dá para ser traduzida na famosa: “ser mãe é padecer no paraíso”, só que os dias da Eva eram um inferno dantesco.
Entretanto, ainda assim, aos 45 anos, ela resolve engravidar novamente e dá a luz a Alice,o que me levou a me perguntar:o que Eva quer provar a si mesma? Que imprudência!
A leitura prossegue e constato que a vida de Eva se assemelha a uma tragédia grega, especificamente a de Édipo, mas , no final do livro, concluí que o Mito de Prometeu era mais adequado a Eva. Assim como Prometeu o seu “fígado seria devorado diariamente por uma águia”. Não visualizei a possibilidade de algum Hércules libertá-la da sua maldição.
Terminei o livro toda dolorida devido à tensão, mas minha dor não era só física; me doía a alma. Um banho de sal grosso poderia aliviar a dor física, mas e a dor da alma? A dor pela história em si, e por saber que no livro “ Precisamos falar sobre o Kevin” predominam fatos reais.
Precisamos falar sobre o Kevin não é um livro que eu li. É um livro que eu devorei, e que só não irá para os meus preferidos porque me deixou em frangalhos.