roberta | @robertabooks 15/11/2021
li faz tempo mas to pensando nele até agora
Em O último Dia de um Condenado, o autor nos apresenta pensamentos sobre o quão justa é a pena de morte, se ela realmente traz justiça e como ela poderia ser substituída, melhorada ou extinta (essa última sendo o principal objetivo do autor com toda essa obra). Em um momento histórico que a pena de morte era realmente relevante, que o "dente por dente, olho por olho" ainda era bem visto, mesmo a sociedade estando quase no período da pré-modernidade, Victor Hugo se coloca no lugar de um condenado à morte para questionar que tipo de sociedade é esta que se diz desenvolvida, mas continua presa a pensamentos muito antigos.
Durante o texto, o personagem vai relembrando momentos dele antes da prisão, com sua família, sua filha, os pais, amigos e demais conhecidos, como eles influenciaram sua história, seu modo de viver, e como tudo isso de alguma forma se liga ao momento que ele se encontra agora, à beira da morte por meio da guilhotina. Ainda, há ponderações sobre os homens que aplicam a pena, que se consideram homens da lei, cumpridores da justiça, analisando se eles estão apenas cumprindo com seu trabalho ou se são tão criminosos quanto os homens que estão sendo julgados; analisando até que ponto o homem é capaz de realmente julgar outro, onde que acaba a integridade de um homem e começa a do semelhante, bem como se essas capazes de coexistir, mesmo um sendo considerado digno de viver e o outro não.
Isso pode ser visto em vários momentos, como, por exemplo, o fato de ele ser bem tratado na prisão, ter uma cama, um teto, comida, um médico e um padre à disposição, para então morrer "com dignidade", mas enquanto era um homem livre, sem antecedentes, não tivera acesso à nenhuma condição digna de vida, lhe faltando coisas básicas como acesso à saúde e um emprego estável e capaz de lhe dar o que comer e à sua família.
O livro fala que o homem não nasce ruim, ele se torna. Não que não haja homens ruins de nascença, mas que é preciso analisar todo o histórico do sujeito, não cabendo a ninguém fazer um julgamento definitivo num primeiro momento. É necessário que, para evitar que tais tipos de crime sejam novamente praticados, que novos criminosos nasçam, a raiz do problema seja tratada, melhorada, cuidada e que políticas públicas voltadas para isso sejam postas em prática.
O livro é do século XIX, mas é absurdamente atual.
A escrita é bem formal, com a linguagem típica da época, mas ainda assim não é muito difícil de ler e entender. O texto não é cansativo, de modo que a leitura flui bem.