Lauraa Machado 28/12/2017
Um final completo, mesmo que longe de ser incrível
Nota: 3,5 estrelas.
Se eu pudesse dar um único conselho à autora da trilogia Divergente, diria que ela deveria focar em livros únicos. A história da trilogia está longe de ser ruim, ainda mais depois de todos os detalhes que foram explicados nesse livro, mas é incrível como o nível do primeiro livro caiu nos dois seguintes. Tudo era melhor antes, as cenas, a narrativa, a Tris e até o Tobias. A explicação da distopia foi bem inteligente e eu gostei de ver como cada peça se ligava à outra, mas não dá para fingir que esse livro foi muito bom ou que não foi bem chatinho.
Minha primeira crítica é ao enredo. Não consigo entender o que leva autores de YA a escreverem livros tão grandes desnecessariamente. 500 páginas são deliciosas em livros mais leves, mas quando o tema é um pouco mais pesado, a chance de ficar arrastado é muito grande. Foi isso que aconteceu aqui. Esse terceiro livro tem a grande explicação de tudo, mas cenas de ação de verdade acontecem só nas últimas setenta páginas. Setenta páginas! De 526! O resto todo é uma grande espera, com várias repetições da explicação do mundo, várias intrigas, mil lados de mil guerras que chegaram bem perto de serem exagerados. Não existia a menor necessidade de ela ter escrito uma trilogia com dois livros tão grandes, a não ser pelo fato de ser moda na época. Era moda escrever trilogias e os próximos livros serem maiores que os anteriores. Tenho certeza de que hoje em dia essa história teria sido publicada como duologia, que daria tempo o suficiente para tudo ser abordado sem se perder em cenas inúteis e paradas.
O Tobias foi um personagem que me encantou no primeiro livro. Ele não era simples, nem completamente bom e era bem interessante. Mas, desde Insurgente, a autora veio quebrando essa personalidade cada vez mais e ela tirou qualquer mistério e apelo dele ao começar o livro intercalando a narração da Tris com uma dele. Não só porque estávamos dentro da cabeça dele, mas porque finalmente descobrimos pelo jeito que ele pensa que ele é bem qualquer coisa. Ler capítulos pelo ponto de vista dele só ficou relevante a partir das últimas cem páginas, quando a missão dos dois se divide. Antes, os capítulos dele só serviram para serem ainda mais chatos que tudo e me fazerem ficar torcendo para o próximo ser da Tris (mesmo que nada fosse acontecer neles).
No livro extra, que conta a história do Tobias antes da trilogia, a autora diz na introdução que tinha começado Divergente pelo ponto de vista dele, mas que a história empacou nas primeiras trinta páginas. E agora eu entendo por quê, já que a narrativa dele nesse livro empacou nos primeiros capítulos também. Não sei se é porque a autora não consegue se colocar no lugar dele ou o quê, só sei que essa parte dele foi bem ruinzinha. A narrativa era feita praticamente só de ações, de fatos, e não de sensações, sem quase nenhuma descrição sensorial. Mas o pior ainda foi quando ela roubou a chance de a gente ler certos momentos pelo ponto de vista da Tris. Sacanagem.
Eu gostei da Tris desde o começo, para falar a verdade. Acho que ela é uma das minhas personagens favoritas de livros distópicos, mesmo tendo passado por uma fase muito, muito chata e repetitiva no segundo livro. Nesse terceiro, eu senti que a autora estava fazendo ela ser um pouco poética e cheia de epifania bonita demais, e, para ser honesta, eu já tinha perdido um pouco do interesse em vê-la sempre nas mesmas situações de ação. Mas preciso dizer que adorei o final dela! Sim, achei que fez total sentido. É dolorido, claro, mas fez bem mais sentido do que qualquer outro final para ela e dá para ver nos seus últimos capítulos aquela mesma personagem do primeiro livro, que me fez sentir como ela é forte e corajosa, sem medo de assumir seus próprios defeitos e entender até onde está disposta a ir.
Só que (e, sim, tem um "só que") o final dela foi bem mal narrado. Aquela cena foi mega superficial e corrida. Eu imaginaria que a autora iria tentar se esforçar para fazer um final melhor para ela, mas não foi assim. Estou criando na minha cabeça algo mais emocionante e impactante, para eu poder guardar a personagem com o carinho que ela merece.
O final do Tobias foi um pouco mais sem graça. Gostei dos capítulos curtos, mas os próximos me pareceram arrastados demais também. Eu já tinha lido uma trilogia inteira e estava considerando a possibilidade de pular as últimas vinte páginas porque não aguentava mais a narrativa dele - esse é o maior sintoma de que não estava funcionando.
Aliás, se prepare que a autora gosta de matar quase todos os personagens em volta da protagonista desde o primeiro livro de um jeito tão, mas tão aleatório, que eu acho que ela queria ficar conhecida por isso (conseguiu?). É tipo Grey's Anatomy, já leia se desapegando dos personagens, porque "todo mundo" morre.
É pela Tris e pela explicação da distopia que eu dei essa nota (se dependesse do Tobias e do enredo, seria lá perto de uma e meia). A trilogia Divergente não é perfeita, mas é diferente de outras e é bem incrível ver mesmo um mundo desses sendo criado por uma pessoa. Aconselho que, se você tiver interesse em ler, se esforce um pouco, porque vale a pena conhecer todo o alcance dessa ideia.