Flavio.Muniz 17/04/2022
O Homem de Preto fugia pelo deserto...
Último de seus pares, uma elite guerreira outrora respeitada e temida em todo o Velho Mundo, Roland avança em um território em ruínas, entre os escombros do que já foi uma grande civilização... Quem esperaria ouvir ressoar o versos de "Hey Jude" em um mundo aparentemente não relacionado ao nosso?. Por quase vinte anos, ele acompanha com inegável ferocidade o Homem de Preto, um mago misterioso com poderes tão obscuros quanto suas motivações, mas acima de tudo o único elo que permite a Roland alcançar sua única obsessão: a Torre Negra.
Para conseguir isso, o pistoleiro está pronto para tudo, mesmo que tenha que arrasar a última aldeia desta terra devastada e exterminar os últimos habitantes. Mas será que ele será capaz de sacrificar a estranha criança descoberta por ele no meio do deserto, essa criança tão corajosa e perdida que o surpreende com seu afeto e dedicação? Esse pequeno Jack que veio de um mundo estrangeiro e uma cidade misteriosa onde enormes edifícios de vidro subir para apunhalar os céus?
Stephen King é um autor que admiro tanto quanto o aprecio. Manejando a arte narrativa com facilidade a ponto de me fazer ler qualquer coisa, capaz do melhor e do pior, transmitindo uma mensagem sobre a tolerância, sobre o pervertido sonho americano, a infância ou a unidade familiar, ele sabe ser terno ou cruel, audacioso ou banal.
Nessa mistura de gêneros, a saga de sete volumes da Torre Negra se destaca por sua importância. É ao mesmo tempo a espinha dorsal da sua obra, misturando todos os temas e influências num grande pot-pourri, mas também marca a diversidade das facetas da sua obra, muitas vezes denunciadas: valendo-se do fantástico, da fantasia, da ficção científica e do descarado western, tirando suas fontes de lendas arturianas, histórias pulp ou mesmo filmes B, é uma espécie de síntese do autor em uma única saga. Especialmente porque os sete volumes foram escritos com um intervalo de tempo significativo entre os primeiros volumes. E é perceptível a influência do jovem escritor que aos poucos chega a maturidade e com ela os temas mais profundos e sérios. Se divago tanto antes mesmo de mencionar este livro, é porque, na minha opinião, ele encarna algo de especial na longa bibliografia do autor: a busca ao escrever pelo prazer do leitor ao ler.
Cheio de frases de efeito, um texto fedendo à pólvora, suor, adrenalina. Não tem como não se deixar levar pela ambientação desértica do mundo que vai se espraiando a nossa frente. Mas, ainda é o trabalho de um jovem escritor, cheio de dúvidas sobre qual o mesmo caminho seguir, tanto quanto ao estilo, quanto a própria temática e isso irá percorrer toda a série, essa titubeação sobre o que King quer nos dizer, que tipo de coceira artística ele quer coçar aqui.