spoiler visualizarKimIssaMoon 15/05/2024
As meninas Lisbon, pareciam guardadas dentro de vidros.
A narração pela visão dos meninos (agora já homens de meia idade) é de uma dualidade fascinante, anos se passaram e eles contam quais eram suas percepções da época, ao mesmo tempo que estão falando coisas claramente sem lógica e fantasiosas, que compactuam muito bem com a mentalidade de um garoto por volta dos 13 anos, eles nos surpreendem com o próprio choque do descobrimento do mundo, é extremamente impactante o filtro da realidade polida lhes sendo tirado de uma vez, e me fez pensar em quando eu perdi o meu...
Mais do que o mistério por trás da morte, o livro mostra como o suicídio das irmãs Lisbon mudou não só a rotina da família, como a de todos os vizinhos, a escola, e o bairro perfeito (que eles tanto lutaram para cultivar essa aparência após guerra), se viram como um castelo de cartas desmoronando.
Para mim uma das partes mais impactantes foi a deterioração da casa, como aos poucos ela vai definhando, descuidada, apática, morta em vida, exatamente como a família Lisbon, o retrato perfeito da depressão. A forma como é descrito o incômodo dos vizinhos também faz um paralelo bem claro de como pessoas depressivas são vistas/tratadas socialmente. No primeiro momento, a solidariedade deles parece ser genuína, mas após algum tempo é perceptível que essa compaixão passou assim que a depressão da família interferiu na realidade polida do bairro, e tudo que sobrou foi a curiosidade e as especulações. A aparência e o cheiro da casa incomodaram no começo, mas depois foi facilmente ignorada, já haviam se acostumado, e mesmo com aquilo ali, sendo um claro sinal de socorro, todos seguiram suas vidas, talvez por já terem visto coisas tão perturbadoras quanto, talvez por falta de interesse.
Mas acima de tudo nós não podemos esquecer que não sabemos de fato quem são as irmãs Lisbon, o que levou elas a se suicidarem. Os meninos tinham um fascínio, quase que doentio, por elas, e em alguns momentos é mostrado como isso afetou a imagem delas para eles, e como algumas informações podem ser somente projeção da mente infantil somado ao esquecimento de anos. E as entrevistas com o pai e mãe provam essa divergência de acontecimentos.
Ao meu ver, a melhor teoria era a do psicólogo, elas só eram adolescentes, só queriam viver. O mais irônico que pra poder viver elas tiveram que morrer.
Uma coisa que me incomodou bastante foi a inconstância no tamanho dos capítulos, enquanto o primeiro e segundo eram proporcionais, o terceiro foi exorbitantemente longo (começou na pág 44 e terminou na pág 129), somando isso a quantidade de informações irrelevantes, tornou o capítulo cansativo e trouxe a sensação de que a história não avançaria nunca. Contar sobre o que acontecia com o entorno da família era importante para a contextualização e reflexão do livro, mas em excesso prejudicou.
Disclaimer: li na versão ebook, não sei se essa sensação de capítulo extremamente longo também aconteceria no livro físico, pois eu tenho muito mais ritmo de leitura com os físicos.
PS.: Sra. Karafilis sendo a mais sensata de toda essa história, e esse trecho prova isso:
"Nós, gregos, somos um povo de humor instável. O suicídio faz sentido para nós. Instalar luzes natalinas depois que a própria filha se matou ? isso não faz sentido algum. O que minha yia yia nunca conseguiu entender sobre os Estados Unidos é porque as pessoas passam o tempo inteiro fingindo que estão felizes.?