Flavio.Muniz 17/04/2022
O Homem de Preto revelou a Roland o seu futuro através de três cartas de tarô: o PRISIONEIRO, a SENHORA DA SOMBRA e finalmente a MORTE. Três cartas que vão abrir três portas para outro mundo e não um mundo qualquer: o nosso, em Nova Iorque na segunda metade do século XX.
O início do livro começa forte e prende o leitor desde as primeiras páginas. Roland, depois de atacado por monstros, se encontra muito fraco, para não dizer moribundo, e é quando ele vê a primeira porta e, ao atravessá-la, é projetado diretamente para onde está Eddie Dean, um drogado que vive em Nova York durante a segunda metade do século XX e que está tentando entrar em Manhattan contrabandeando um quilo de cocaína pura para o mafioso Enrico Balazar.
A passagem por este mundo estranho e desconhecido é bastante brutal para Roland, o que proporcionará uma excelente oportunidade para King incluir um pouco de humor neste segundo volume e que tanto fez falta no primeiro volume. As incursões do pistoleiro em nosso mundo notavelmente trazem à história um elemento que faltava até então: humor! É certo que o tom permanece sombrio e às vezes pouco saudável, mas é preciso admitir que há um lado extremamente gratificante em ver Roland tentar, com a maior seriedade e a mais total ineficácia, entender as regras de um universo completamente estranho.
O segundo volume do ciclo da Torre Negra apresenta mais perguntas do que respostas e o leitor só pode ir em busca ao lado de Roland. Se a história é abertamente fantástica com suas passagens entre mundos, também ressoa com os acentos de um compromisso que assumimos ser do autor. Implicitamente, apontam-se a Guerra do Vietnã e a segregação: em termos da honra que o autor atribui a Roland, o valor de uma vida inocente não pode ser submetido aos ideais falhos de um mundo, por mais imenso que seja. Roland, o pistoleiro, é um cavaleiro de uma nova era: responde a um código de honra ancestral e exigente e está pronto para fazer qualquer coisa para finalmente chegar à Torre Negra, um farol sinistro em um mundo cujo significado escapa incessantemente.
Enquanto o primeiro volume se destinava principalmente a apresentar o mundo e situar o leitor, este é muito mais ativo, embora mantendo um aspecto ainda introdutório. Assim como eu fiquei perdido nos significados para o que é a Torre Negra, acredito que o próprio King se encontrava ainda em posição idêntica, criando, como ele próprio sempre reiterou, a obra enquanto a escreve, sem planejar como a grande maioria dos escritores o fazem.
É um romance completamente louco e senti que King se deixou levar, sem necessariamente saber para onde estava indo, mas avançando efetivamente, conduzindo o leitor ao mistério que ele próprio mal compreende.