Soube que a Novo Conceito iria lançar o livro de Lou Aronica no final do ano passado e desde então fiquei bastante curiosa com a mistura improvável de fantasia com sick-lit, que é um dos novos subgêneros do jovem adulto. A temática câncer em histórias costuma incomodar-me mais do que tudo porque já tive câncer, porém procurei superar esse detalhe e comecei a leitura pouco tempo após o livro ter chegado da editora. Lou Aronica nos surpreende com uma história criativa e contada de um ponto de vista inusitado, mas que cumpre bem seu papel e deixa uma bela mensagem no ar.
A história começa nos apresenta Chris Astor, um homem que tinha a vida perfeita até ter que enfrentar o tratamento de leucemia da filha. Lidando da melhor maneira que pôde o custo do apoio incondicional a filha foi o casamento. Chris ficou sem reação quando a mulher pediu para que saísse de casa e ainda hoje morando em um pequeno apartamento não acredita que se separaram. Para piorar Becky está crescendo e cada vez mais distante. As conversas que antes eram naturais ficaram mecânicas e nada de histórias sobre mundos fantásticos. Becky por outro lado se sente abandonada pelo pai, como ele pôde sair de casa daquela forma logo após ela ter entrado em remissão? Esse impasse dura até o dia que Becky cai no sono e acorda em Tamarisk, o mundo mágico que o pai havia criado para ela durante o tratamento do câncer. Becky não consegue acreditar que Tamarisk seja real e mesmo deslumbrada com o lugar percebe que nem tudo está bem por lá. O mundo está enfrentando uma praga que acaba dia após dia com as belas flores azuis de toda Tamarisk. A rainha Miea não sabe mais o que fazer quando nota que a presença de Becky em seu mundo causa um efeito sobre a praga. Enquanto isso no outro mundo Becky e seu pai nunca estiveram tão próximos quanto agora. Juntos eles tentam entender o mistério de Tamarisk, não só como o mundo se tornou real como a doença que devasta as flores. Porém nem tudo vai bem, Becky começa a desconfiar que a leucemia está de volta e dessa vez pode não ter saída para ela neste mundo...
Esse é o ponto de partida do enredo fascinante criado pelo autor Lou Aronica, que há anos trabalha com ficção científica, fato que transparece no livro. Seja na escrita cativante e convincente ou na beleza tocante da trama que enche os olhos do leitor com descrições precisas e uma ambientação vívida. A narrativa se alterna entre dois pontos de vista, o pai de Becky e a rainha Miea, além de ter uma pequena aparição de um terceiro e misterioso ponto de vista. A voz narrativa de ambos é carregada de beleza assim como a construção das relações entre os personagens do livro.
Lou Aronica surpreende o leitor com uma história mais do que bem escrita, com uma premissa criativa, muito bem construída e executada, personagens cativantes que marcam o leitor. O paralelo entre a doença de Becky e o mundo de Tamarisk é harmoniosa e a forma que o autor coloca a questão desse mundo surgido em uma hora de dor e sofrimento é fantástico. É delicado e belo, triste e arrebatador. Outro ponto que merece destaque é a opção do autor de colocar o pai de Becky na narração, ele já passou dos quarenta, sua visão da doença da filha e dessa inusitada situação que é ver o mundo que criou ganhar vida é tocante e tão cheia de surpresas quanto o próprio leitor diante do desenrolar da trama. O final do livro é um misto de esperança, beleza e sofrimento, a capacidade do ser humano de aceitar, adaptar e deixar ir.
Leitura rápida, que merece ser lida com tempo e que absorve o leitor com facilidade. Lou Aronica é um fantástico contador de história e conseguir mesclar realidade com ficção de maneira única, que pode parecer estranha em um primeiro momento, mas que funciona ainda melhor pela sutileza, estranheza da situação. Pela primeira vez senti que um autor conseguiu captar com fidelidade a fragilidade das relações de quem tem câncer com quem não tem, os sentimentos que a doença traz e causa. A edição da (...)
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