Policaio 24/04/2023
Um livro difícil de digerir, mas rico em nutrientes
Eu ouvi falar de Joseph Campbell pela primeira vez no ano de 2016 no primeiro semestre de História nas aulas de História Antiga ministradas pelo professor Jorge Miklos. Então me apaixonei pelo antropólogo. Todavia, andei apenas flertando com as ideias do autor pelo ouvir falar, mas este dei um basta, comprei "O Herói de Mil Faces" numa promoção da Amazon e resolvi embarcar em um novo romance (verídico).
Sete é o número da perfeição para os mais místicos, sete anos se passaram desde 2016 e acredito agora ter bagagem mínima para alguns livros mais acadêmicos, por isso faço essa resenha. Em "O Herói de Mil Faces" nos é apresentado o monomito cunhado por Campbell, os mais "nerds" se familiarizam melhor com o termo "Jornada do Herói", para quem é amante de mitologia, religiões, filmes e quadrinhos a leitura é um deleite.
Campbell explora as religiões, os folclores e as mitologias da humanidade e liga os pontos em comum, como a existência de heróis, heróis que sempre mexeram com o nosso imaginário, presentes em nossas crenças ou fantasias. O autor divide a jornada do herói em três partes: partida (onde o herói é chamado para a aventura); iniciação (onde os treinamentos e tentações se iniciam); e retorno (onde o herói volta para o local de onde saiu com alguma salvação).
É interessante ver a comparação de diversas crenças, divindades que se fizeram "carne" ou que se sacrificaram para salvar a humanidade; semi-deuses ou deuses que começam uma jornada buscando contato com sua figura paterna. Campbell compara até mesmo os elementos sagrados masculino e feminino de cada crença, o pai relacionado aos Céus e a mãe à Terra, mesmo o cristianismo dito monoteísta há a presença da Virgem Maria.
Podemos pegar os elementos abordados e relacionar às franquias fantásticas de sucesso da literatura e cinema, como O Senhor dos Anéis, Star Wars e Harry Potter que beberam do monomito. Fica explicada a importância e procura pelas obras do autor por escritores, cineastas e estudiosos da Cultura Pop.
Terminei o livro dentro do ônibus voltando do trabalho, olhei para a pessoa ao meu lado que lia sua orientação de estudos bíblicos, desejei que ela pudesse ler o que eu li (em vista de muitas turbulências sociais e políticas que temos passado com a presença do elemento "fé").
Pois a intenção do autor não é promover o ateísmo, mas confrontar, talvez, nossos dogmas que vão contra o mandamento de "amar o próximo" sob a luz da ciência; o livro também não prega ideias esotéricas, mas mostra o Herói existente em qualquer um e uma proposta para a Jornada do Herói Contemporâneo onde o Estado se fez maior que a Religião (mesmo que tais coisas sempre estiveram intrínsecas).