Piter 18/10/2022
Ele é psicopata, narcisista, egoísta, cruel e rude.
Jörg foi jogado em um arbusto de roseira-brava quando era criança. A mãe e o irmão foram mortos pelo conde de um dos reinos nas proximidades. Ainda na infância, ele libertou os prisioneiros das celas de seu pai e fugiu do castelo, tornando-se líder do bando enquanto seguia um caminho de matança. Ele quer se vingar, mas algo tece sussurros em sua cabeça, pedindo que ele se torne Rei. Sua vida tem sido uma mentira, ou ele toma as decisões por si?
Foi difícil no começo. Estranhei a introdução, o narrador… Mas compreendi depois, aos poucos. O ponto mais alto com certeza é o protagonista. Jörg é psicopata. Não resta a menor dúvida. Cada cena dele era mais perturbadora do que a outra. A escolha pela 1ra pessoa para narrar ajudou a entender como ele enxergava o mundo - puramente um jogo onde, no final, basta vencer. O narcisismo dele irrita, o egoísmo, a falta de empatia. Sua construção de fato convence. Cansei de escrever respostas nas páginas à sua filosofia deturpada.
Aqui, não há herói para se apegar. A linguagem é muito visceral, crua. Os eventos traduzem uma travessia sanguinolenta cheia de situações revoltantes. A ambientação não foi inovadora, porém serviu ao que propôs. Existe um pequeno envolvimento com a magia no universo que também foi suficiente para o arco.
O enredo caminha bem, embora facilite tremendamente as coisas para o Jörg no nível ex-machina. Há uma explicação, mas a considero pouco convincente. Os demais personagens também não foram tão visíveis. Senti uma escassez de descrições físicas. Adiante, a temporalidade da narrativa não é clara. Sabe-se que há um clima medieval, mas, ao mesmo tempo, existem invenções anacrônicas que são citadas. Outro quesito é a falta de verossimilhança com a idade do prota, mesmo com a justificativa do amadurecimento rápido pelo passado traumático.
Assim, Príncipe dos Espinhos chama atenção pelo espanto. As ações de quem deveria ser puro, a crueldade intrínseca à época. Cenas que perturbam por serem impensáveis, mas possíveis. Um tom sombrio que jorra da escrita em capítulos breves. A trama desafia nossa moralidade, repensa nossos valores. Evoca uma armadilha na qual tantos podem cair se não forem com calma.