forbrekker 29/08/2022
Tinha tudo pra ser bom.
Eu já digitei e apaguei uma introdução a essa resenha pois não faço a mínima ideia de como começar ela. Tenho muitos pensamentos e ao mesmo tempo não sei como expressar eles. Estou meio atordoada com esse final. Mas decepcionada também.
Primeira coisa que eu queria falar sobre: a introdução de mundo. Esse livro é pra ser o nosso primeiro contato com o Grishaverse, no caso esse mundo que tem tantas subsagas e spin offs. É uma Alta Fantasia, um universo que tem suas próprias regras. As quais a autora convenientemente jogou no nosso colo e esqueceu de desenvolver. Indo além, ela fazia uns arrudeios totalmente desnecessários pra explicar algo que era básico - e no meio desses arrudeios ela enfiava várias informações e nomes estranhos os quais não faziam o menor sentido e/ou lógica. Principalmente naquela cena da biblioteca onde explicam o poder Grisha. E tipo, é uma coisa TÃO simples, mas a Leigh Bardugo se enrola todinha e não consegue explicar direito. Precisei recorrer ao que eu tinha lido nas outras sagas (Six Of Crows, King Of Scars, que inclusive têm falas muito boas e muito concisas sobre coisas como poder Grisha, o que acontece se um Grisha fica sem usar seu poder, amplificadores e etc.) e da série. Sim, a série me trouxe mais informação que os próprios livros. Outra coisa foi a introdução da própria Dobra, não ficou bem claro quais lugares eram de um lado e quais eram do outro e eu vivia perdida se eles tavam de um lado ou do outro e tive que recorrer ao mapa várias vezes.
Não só a introdução de mundo é fraca, mas os personagens também. O segredo de fazer personagens bons é justamente dar uma boa base a eles, motivações, um passado e seguir a partir daí. Esse livro falha em TODAS essas coisas. Nenhum deles tem uma motivação que prenda o leitor ou o faça de fato criar raízes. Sim, a Alina é legal. Mas é bem difícil você se apegar tanto assim a ela quando a autora não criou uma base boa. Digo o mesmo pra todo mundo. Era pra ser um livro de introdução a um mundo amplo, mas nessa leitura eu precisei recorrer tanto a duologia do Nikolai que as vezes me pergunto se a gente devia mudar a ordem de leitura das coisas e fingir que é uma narrativa nova - você lê primeiro as consequências aí depois você volta e lê a causa. Porquê se depender desse material sozinho - não há sustento próprio em construção de nada.
Puxando o tópico da construção das coisas, vamos falar sobre a segunda coisa: o desenvolvimento. É bem previsível que o desenrolar dos eventos não vai ser bom do momento que a gente não tem uma boa base das coisas. Mas consegue ser pior. Deixa eu dizer, o livro não sabe ser conveniente, não sabe ter tangência. Como assim? Em momentos que a narrativa NÃO PRECISA de todos aqueles detalhes e arrudeios, ela pega e dá um foco tremendo em partes irrelevantes. Agora quando é uma cena totalmente crucial no desenvolvimento da história e dos personagens que pode mudar o MUNDO pra sempre, a autora esmaga em duas páginas e entrega em umas sequências apressadas, decepcionantes e sem detalhes. Sim, ter uma escrita rápida é um ponto positivo - mas você precisa ter o elemento da imersão quando o livro é de fantasia. E não é o que acontece aqui. É como se fossem flashes dos acontecimentos e fica uma coisa tão decepcionante e triste. Mas agora a Alina fazendo nada no Pequeno Palácio consome pelo menos uma boa parcela do livro. Coisas totalmente IRRELEVANTES pro desenvolvimento da personagem, da história e do mundo.
E isso nos leva ao terceiro tópico - porquê sim, os defeitos desse livro estão todos conectados, tudo começa com uma base ruim que foi mal desenvolvida e mal finalizada. Os plot twists. Quando você não tem uma construção boa, não importa se o twist vai ser a coisa mais mirabolante do mundo, fica horrível. Fica sem graça. A graça do negócio é justamente você construir pouquinho por pouquinho as coisas pra no final fazerem sentido. E não é isso que acontece aqui. As coisas não fazem sentido lógico, se você parar pra pensar em todas as informações que foram JOGADAS no nosso colo sem mais nem menos, e a quantidade de lacuna faltando. Além de que os plot twists são totalmente previsíveis (ah mas porquê você viu a série antes! deixa eu te contar, eu advinhei na época da série também, um beijo da anitta.)
Além de tudo isso que eu falei, a gente tem o fato de que a autora faz um total de zero construção das coisas. Ela só joga as informações do nada e pronto. E isso fica engraçado, porquê tira a seriedade do material e tira a imersão do leitor. Foram incontáveis as vezes que eu precisei parar de ler pois não estava levando nada a sério e queria parar um pouco pra refocar nas coisas e no que estava sendo apresentado. Duas vezes - de tudo que ela fez nessas duzentas e tantas páginas - as coisas tiveram certa base e mesmo assim se você pensar elas a fundo num raciocínio lógico, ainda não tem tanto sentido assim. Ficou falho demais. Apressado demais.
Agora sobre os personagens. Irei falar deles de uma maneira geral (todos apresentam os mesmos problemas, e depois vou falar individualmente pois tem um caso que me deu DOR FÍSICA gente é sério eu chorei de tristeza e decepção fiquei arrasada sem querer sair da cama.) Enfim, o problema geral aqui já foi citado. Falta de desenvolvimento. Falta de base. Mas nos personagens isso acaba sendo mais agravante. Acaba sendo um incômodo maior, pois você tem todas aquelas pessoas - sim, são muitos eu só sei o nome de no máximo uns cinco - o resto é tão??? que se você excluir eles totalmente da narrativa ou só colocar como figuração, não há diferença. Ninguém tem uma base, um quê de motivo, uma razão para estar ali. Tem a Alina , mas ela é aquela personagem. Já falo dela. Enfim, as coisas são tão apressadas e pra quê? A autora podia muito bem ter usado o tempo da Alina no Pequeno Palácio pra gente justamente desenvolver uma conexão com aquelas pessoas, sabe? Pra gente poder entender pelo menos alguém ou alguma coisa. E não foi isso. Foi muito mal aproveitado.
Agora vamos lá. Esse eu vou ficar emocional então aguentem essa comigo.
Alina Starkov: de longe a personagem que eu mais gostei nessa saga, não que ela seja uma personagem boa interessante ou bem escrita. Mas no meio de tanta gente chata e sem sal, ela acaba se destacando. E eu dei várias risadas sinceras com as tacadas que ela dava, ela é uma personagem engraçadinha e que se dessem um desenvolvimento próprio, podia ter sido uma personagem muito grande. Mas a autora só nos dá flashes de qualquer coisa ou sentimento. Ela solta o que ela sente em relação a x coisa, e pronto isso nunca mais será endereçado ou irá pra frente. Pouquíssemas coisas acabam sendo retornadas, e mesmo assim quando são é de um jeito bem rápido e brusco, o que acaba tornando-a uma personagem superficial e sub-desenvolvida. E também tem a narrativa dela, mas vou falar disso depois, esperem aí.
Maly Oretsev: ele existe, ele tá por aí fazendo alguma coisa né? Não gente, sério, o cara não tem um enredo próprio, não tem um arco individual, não tem uma motivação, não tem o povo. Perdeu tudo e tá vivendo em situação de barril. Morando de aluguel. Além de tudo isso - que são coisas que já dificultam o leitor a sequer aturar a existência do personagem - ele ainda não faz sentido. O CARA É BIRUTA. Ele não tem uma lógica, não existe uma linha de raciocínio no mundo que faça a gente entender esse cara. Não existe. Do nada ele muda de opinião e muda os próprios sentimentos sem mais nem menos. A cada dez capítulos tudo que nos foi introduzido dele anteriormente cai por terra e a autora introduz algo totalmente novo e jamais visto. Não tem uma ideia formada, ele só existe. É isso.
The Darkling: o maven calore da shoppee com umas falas genéricas e umas cenas esquisitas que me faziam rir de vergonha, tirando que eu não consegui levar ameaça nenhuma dele a sério. E isso porquê eu sou fã da Zoya. Mas ele é simplesmente tão patético, tão sem sal, tão genérico, tão ???? Que eu só fiquei impactada com uma cena dele no penúltimo capítulo. A série fez melhor nisso (ao mesmo tempo pior, mas não estou aqui pra falar sobre a série e afins.) Não tenho muito pra falar sobre ele pois ele é tão genérico que o problema tá em tudo todas as coisas. Mais fácil eu dizer o que não é o problema: nada. Próximo.
Zoya Nazyalensky: sim. eu deixei essa por último pois ela foi PESSOAL. Foi PESSOAL. Eu acho que quem me conhece e sabe que eu sou obcecada por ela sabia que isso iria chegar no momento que eu fosse ler esse livro. O que Sombra e Ossos faz com a Zoya é DESONESTO, DESCABIDO, MALVADO, BAIXO, E ODIOSO. Ela é uma das personagens mais incríveis desse universo, a profundidade individual que essa mulher tem é simplesmente sensacional. Mas nesse livro ela foi reduzida a uma ADOLESCENTE DE 12 ANOS que fica fazendo cochicho e intriguinha de quinta série. Não foi engraçado gente foi desesperador, toda vez que ela aparecia eu botava a mão na cabeça e implorava por misericórdia. De verdade, ela humilhava a Alina por razão nenhuma até sei lá quando, e depois a autora deu UMA FRASE SOBRE e nunca mais foi endereçado. Tudo bem, tem mais dois livros, então não vou segurar isso na cabeça de ninguém, só fiquei chateada mesmo. Agora o que me derrubou do jegue foi esse livro querer que eu acredite que A ZOYA NAZYALENSKY que teve bate boca com KAZ BREKKER O PRÓPRIO, não sabe humilhar uma pessoa. Gente sério ver ela tentando humilhar a Alina foi doloroso. Mas ver ela FALHANDO? Me fez perder tudo. Eu tô vivendo de aluguel. Vou ter que reler King Of Scars pra poder me curar de um absurdo total desses. É sério isso não é hate na Zoya, ela é linda, é hate no livro mesmo por fazer um desserviço TÃO GRANDE a minha mãe.
Por fim, último tópico que eu queria falar (pois esse problema está interligado com tudo que eu citei acima), a narrativa. Esse livro é uma Alta Fantasia com uma penca de personagens que tem pouco ou nenhum contato com a protagonista. Escrever ele em primeira pessoa foi UM TIRO NO PÉ. Pois aí a história fica de mãos atadas em relação ao desenvolvimento de vários personagens que tinham o potencial pra serem totalmente incríveis - e também em relação ao desenvolvimento de mundo. Sim, é legal ir descobrindo o mundo através da mocinha, mas poxa se você vai fazer isso faz como Trono de Vidro. Vamos descobrindo o mundo junto da Celaena, mas como a narrativa é em terceira pessoa, toda vez que a história requer que outro personagem tome a frente, você já tem a autonomia pra fazer isso. Isso ampliaria o mundo, facilitaria a vida da autora e facilitaria a vida do leitor.
E por fim elevado a dois: esse livro tem personagem demais. Gente demais. E pessoas que não acrescentam em NADA na história, só estão ali pra encher a linguiça e gastar o seu tempo. O que é impressionante, pois a autora tem TANTO enredo subdesenvolvido que ela nem pensa em dar atenção, mas fica recorrendo a esses artifícios pra encher as páginas como se não tivesse mais sobre o que falar e precisasse enrolar a história? Mulher pelo amor de deus.
Mas porém nem de pedrada vive o resenhista: o começo do livro foi interessante. E por ele, dou essas duas estrelas.