Paraíso das Ideias 25/01/2015
Gabriel, o nosso protagonista, é filho de um rico empresário da indústria de órgãos artificiais, eu pensei que isso receberia todo o foco do livro, porém foi apenas uma base para que a história se desenvolvesse. Ele frequenta uma boa faculdade, faculdade essa que não desperta nele interesse, e quando criança a mãe o abandonou e ele foi criado pelo pai desde então. Quando comecei a ler e soube um pouco mais sobre o Gabriel, de início achei que ele era aquele típico protagonista badboy, por falta de palavra melhor kkkkkkk Pois de início se tem a impressão que realmente ele não quer nada da vida e que ser sustentado pelo pai é o melhor, mas aos poucos pude perceber que, na verdade, ele possui uma série de conflitos; a forma como ele se relaciona com as pessoas a sua volta prova isso.
“E agora percebo que eu gostava. Quando você tem alguém tomando decisões por você, isso evita que você tenha um monte de preocupações. Então por que não? Qual é o problema se esse alguém sabe o que é o melhor para você quando você mesmo não sabe? “
O pai de Gabriel sempre foi controlador, e o tipo de pessoa que dá uma importância grande demais ao dinheiro. Preocupado com o futuro de Gabriel, o futuro da empresa, e claro, com o seu dinheiro, ele priva seu filho de viver a vida dele, de correr atrás do que quer. Ele sempre colocou sobre o filho o peso de ser como ele. Ao longo do livro nós percebemos que Gabriel foi criado para seguir os passos do pai. Gabriel teve todos os seus passos determinados por seu pai, com ele dizendo o que era certo e errado, ele teve que desistir de sua paixão pela música para cursar bioengenharia porque seu pai o fez escolher isso.
Até certo trecho do livro Gabriel se encontra conformado com essa situação, sabe quando simplesmente não temos o controle de algo? Ele, não tem controle sobre a sua vida, sempre esperando a aprovação e a ajuda do pai. Ele simplesmente deixa que as coisas aconteçam, mas mesmo assim, de certa forma, ele está frustrado e a válvula de escape dele são corridas de carro.
“Não é que eu seja do tipo ingrato. É só que não importa o quanto eu tenha motivos para me sentir completo, nunca realmente me sentirei assim. É isso o que me faz humano. Estar eventualmente correndo atrás de algo na tentativa de sentir realmente completo.”
Talvez, dentro dessas corridas que a história comece a se desenvolver e as ligações entre os personagens sejam formadas. Nessas corridas, Gabriel possui um “rival”, Vitor, que sempre tentava o vencer e o tirar das disputas.
Em meio a isso, entra a minha personagem preferida do livro: Alícia, por algum motivo amei essa personagem e ela é fundamental para a história.
“Seu cabelo é de um marrom feito caramelo escuro, de cachinhos definidos de comprimento para bem abaixo do peito. Gostei do seu cabelo. Gostei dos seus olhos açúcar derretida parecendo artificiais demais para serem reais que combinava com seu cabelo e com sua pele marrom. “
Em um dia na faculdade Gabriel a ajuda com seus livros, quando ela os deixou cair. Por mais que a forma que eles se viram pareça ser clichê, não é isso que acontece, quando li pensei que os dois se apaixonariam logo naquele momento, mas, me surpreendendo, Gabriel se afasta e parece que não quer se aproximar dela. Mas assim que a vê tocando e cantando em um bar, ele passa a se aproximar dela. E quando ele pede a ajuda dela em um trabalho, como desculpa para a sua aproximação, os dois passam a desenvolver um relacionamento lindo.
E qual não foi a minha surpresa quando descobri que Alícia era irmã de Vitor?! Assim fica claro que surgiram várias discussões entre Vitor e Gabriel, por causa da irmã. Aliás, Vitor foi um personagem difícil pra mim, fiquei tentando o compreender o tempo todo, eu meio que fazia aquela pergunta “De que lado você está, afinal?” porque em vários momentos ele parecia esquecer da irmã e pensava apenas nessa rixa com Gabriel.
“Quando terminou de tocar a última nota, a luz fechou nela e depois voltou para todos nós. Ninguém fez nada, porque por alguns segundos ninguém se atrevia a fazê-lo. Fui pego em estado de aquietação, o mesmo de quando acaba um filme realmente bom e você fica assistindo os créditos subirem sem reação.
Então houve aplausos. Uma enxurrada deles.”
Eu fiquei extremamente feliz com a forma que a autora desenvolveu a história de Gabriel e Alícia, a relação deles é leve, eles vão se envolvendo aos poucos. Adorei os vários diálogos que os dois possuem, construindo os principais trechos do livro, a relação dos dois é delicada, linda.
O livro possui três fases, o que foi algo que realmente gostei, nos dá uma maior noção das mudanças que cada personagem passa.
Na primeira fase temos o momento que Alícia e Gabriel se conhecem, quando ele ainda segue as vontades do pai. Também é nesse momento que a relação dele com o seu melhor amigo, Lucas, estremece, eu senti falta de uma atenção maior a essa questão do livro, de uma resolução para essa briga dos dois no fim do livro.
Já a segunda começa após um acidente de carro envolvendo Alícia e Gabriel , é nessa fase que ele passa a saber mais sobre Alícia. O livro possui uma série de fatos que vão se ligando aos poucos. O pai dele nunca quis que os dois se aproximassem, pela diferença social dos dois, por mais que Gabriel e Alícia nunca tenham determinado o que realmente era o relacionamento deles, mas após o acidente, tanto o pai de Gabriel quanto os pais de Alícia tentam manter os dois afastados, algo que chama a nossa atenção e nos prende ainda mais a história enquanto tentamos entender o motivo por trás disso.
E a terceira fase, é onde tudo começa a se acertar e a história se encaminha para o seu final. Existem alguns segredos na história sobre Alícia, porém eu não posso dizer mais porque se não estarei oferecendo spoilers kkkkkk
“Chega um tempo na vida que você só quer parar e esperar, por mais que não saiba definidamente o que está esperando.”
Quando eu falei que tinha adorado a Alícia, isso aconteceu porque ela é uma personagem que aos poucos vai nos prendendo, no final do livro, me pareceu que ela surgiu na vida de Gabriel apenas para o ajudar, para dar coragem. Ela foi a única que acreditou e confiou nele, que disse que ele poderia fazer o que quisesse. Ela é aquela personagem que surge na história de uma forma sutil e vai nos conquistando devagar, com seu sorriso lindo e o seu jeito simples.
“ Era como se ela nunca tivesse existido, exatamente como uma ilusão. “
Bom, eu só posso dizer que amei essa história, ela é diferente, delicada. O relacionamento de Gabriel e Alícia não é regado a declarações e a juras de amor, como pensei que seria no início, eles apenas vão se envolvendo e Alícia vai ajudando Gabriel na sua confiança, e ele passa pouco a pouco a ir percebendo que ele estava vivendo uma vida que não era dele, nesse momento ele resolve tomar as rédeas de sua vida e agir conforme ele considera certo.
“Acaba que viver não é como estar em um parque de diversão. Estar vivo é como assistir a um filme de terror sem saber o que encontrará a seguir. “
Eu amei o que o livro passa, junto com Gabriel, a medida que a história se desenvolve, nós vamos sentindo o mesmo que ele; essa busca por nos encontrarmos, nos conhecermos, talvez a liberdade e a independência, mas sentir que cada momento deve ser aproveitado, Alícia trouxe isso a Gabriel, quando ele parecia achar que não merecia tal atenção, tal preocupação e tal confiança. E eu simplesmente amo histórias assim, onde um ajuda e ensina o outro, para que ambos possam crescer.
“Como Alícia pode ser uma ameaça? A única coisa que ela fez foi lutar por mim. E ninguém lutou por mim antes.”
“— Não parece que você sabe. — ela disse, afetuosamente. — Eu vejo você fazendo muitas coisas incríveis. — e então seu rosto mudou, e estava com um brilho nos olhos, de uma convicção assustadora disso como quem tem certeza de que 1+1 = 2. “
O livro tem uma narrativa leve, em primeira pessoa, e a história simplesmente vai nos guiando, nos envolvendo, é fácil de se ler, com situações que nos deixam curiosos para saber o que irá acontecer depois e para tentar descobrir o que se esconde por trás das atitudes de alguns dos personagens.
Mesmo eu sendo um tanto sensível e dramática, eu realmente amei o final que o livro teve, simplesmente fez sentindo, e foi uma das poucas vezes que isso aconteceu ao ler um final como esses. Quando eu cheguei ao último capítulo e eu pude ver como estava Gabriel após tudo, eu tive uma estranha sensação de alívio e fiquei incrivelmente feliz, ele finalmente se encontrou.
“As coisas definitivamente mudam. Nada está seguro.”
Nós mudamos o tempo inteiro, mas às vezes é mais fácil viver preso e acomodado a algo, muitos passam a vida inteira assim. Mas quando se tem consciência de que tudo passa muito rápido e que ficar preso ou acomodado a algo ou alguém nos faz deixar de viver a nossa vida realmente e parecemos preso a outra realidade, quando temos consciência disso, sabemos o quão importante cada momento é, o quão é importante vivermos a vida de forma completa, da forma que nós achamos melhor. Talvez a mensagem que esse livro tenha me passado foi que nossa vida está realmente em nossas mãos e que nós escolhemos o que é melhor, nós devemos tomar as rédeas de nossa vida, talvez não fosse essa a intenção da autora, mas isso foi uma das coisas que o livro me fez pensar após lê-lo.
Então, gente?! Espero que tenham gostado da resenha, acho que não preciso dizer que o livro está recomendado, não é? Leiam, é um livro simples, delicado e lindo!
Beijos e até o próximo post!
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