Leilane 26/12/2014
Um Romance de Época cheio de desejo
Os irmãos da família Rothwell tem um passado que prefere ocultar no que diz respeito ao relacionamento de seus pais. Cada irmão tem uma opinião sobre o assunto e lida a sua própria maneira, mas a possibilidade de uma suposta – apesar de provável – verdade ser divulgada abertamente num livro não é algo que desejam que caia no conhecimento dos leitores, por isso o marquês de Easterbrook pede que seu irmão mais novo faça tudo para que isso seja impedido, colocando Elliot no caminho de Phaedra.
As memórias do pai de Phaedra serão publicadas por sua editora na íntegra – uma promessa que ela fez ao pai antes dele morrer –, mas muitas coisas nelas expõem grande parte da sociedade inglesa, até mesmo o passado da própria mãe que a perturba mais do que gostaria de admitir, ou seja, a tarefa dela já é difícil por si só, mas fica ainda mais com a insistência de Elliot que ela omita as passagens sobre sua própria família, e quando se vê presa a ele depois de livrá-la de seu infortúnio com os representantes das leis italianas, a viagem em busca de respostas na Itália fica aparentemente comprometida nesse aspecto, mas muito mais interessante em outros.
A personagem principal do livro não é nem um pouco convencional para a época, usa seus longos cabelos ruivos soltos, roupas pretas que dispensam o espartilho e acredita no amor livre, de igual para igual, ou seja, – e não tem melhor forma de descrever isso, apesar de não ser o termo do livro – na “amizade colorida”. Phaedra Blair foi muito bem instruída pela mãe a pensar e viver como uma pessoa independente dos homens e dona de si mesma – o que a coloca em situações muito complicadas, mas que ela sempre encara com a cabeça erguida –, porém, ao descobrir que a mãe talvez não tenha seguido tão a risca essa mesma filosofia de vida, Phaedra vive o tormento da dúvida e a constante presença de Elliot, além de seu desejo irrefreável por ele, só colocam em cheque tudo o que ela conhece.
Já Elliot, gosta de se perder em suas pesquisas e escrita, foi quem mais teve contato com a mãe dos irmãos e sempre se sentiu muito sortudo por ter tido pouco contato com o pai austero. Ao conhecer Phaedra no livro anterior, ele ficou intrigado, mas quando realmente tem a oportunidade de conhecê-la por inteiro, Elliot se vê cada vez mais envolvido em seu enigma e no desafio que ela representa.
Gostei do casal; já havia percebido que eles seriam um casal no livro anterior no breve encontro deles, então logo que peguei o livro, não estava muito convencida desse par, mas me convenci antes deles mesmos. O espírito livre da Phaedra é muito revolucionário para a época, ela sofre bastante por isso e não tem como não ficar indignada com o fato de que muitas mulheres sofrem um preconceito não muito diferente nos dias de hoje, já que nossa sociedade é provavelmente ainda mais baseada na aparência do que era naquela época.
Sou uma irrevogável fã do gênero de romance histórico, acho muito instigante para imaginação situar-se num cenário passado intrigante, mas ao mesmo tempo não trágico, por meio de páginas de um livro. Acredito que envolva bastante pesquisa para não cometer gafes de História na trama, afinal são autores da atualidade escrevendo sobre situações passadas, então quando uma autora do gênero consegue escrever de uma forma que não foque tão somente no romance e no sexo, o livro sai do estereótipo de superficialidade. A Madeline Hunter é uma das autoras que consegue isso, ela estrutura bem a história, consegue manter o mistério (definitivamente não sabia quem a pessoa que apagou o brilho revolucionário que a mãe de Phaedra representava) e consegue dosar tudo, lógico, com o romance e as limitações que a época tinha no que se tratava no envolvimento de homem e mulher.
No geral, um bom livro. Para quem gosta do gênero, é mais uma autora para se ler; para quem tem interesse em romances históricos, é uma boa autora para conhecer o gênero; e para o restante do público, leia apenas se quiser matar a curiosidade, não a recomendo a todos não apenas por causa do conteúdo adulto, mas por ser um gênero bem específico e, no final, você vai se arrepender pelo simples fato de que sabia que não era o que você estava procurando.
site: http://lerimaginar.com.br/blog/2014/03/26/licoes-do-desejo-madeline-hunter/