Irene Moreira 11/10/2013Duas irmãs gêmeas. Uma linda, a outra desfigurada. Divididas por um terrível segredo...Corações Feridos já tinha me chamado atenção pela sinopse e acabei sendo motivada a iniciar a leitura no anseio de ganhar uma sombrinha. Mas nada disso passou a ter importância depois que fui absorvida por essa história de Rebecca e Hephzibah, irmãs gêmeas, que partiram meu coração e me chocaram de tal forma que não tive como deixar de ser envolvida e esquecer tudo que estava a minha volta.
Filhas de um pai religioso fanático – Pastor Roderick – que não permitia que fossem a escola, de lerem livros, de terem qualquer contato com o mundo externo. Suas roupas eram restos das doações feitas. Cresciam alheias as mudanças que surgem nas fases da vida de uma menina para adolescente, dos cuidados que devem ter com seu corpo, com os perigos que a inocência levaria a tristes consequências. Uma mãe que nada fazia para ajudar as filhas por medo do marido e nem quando eram marcadas pela crueldade de um pai fanático e bêbado. Quantos segredos não estariam por trás disso tudo?
“Você está tomando pílula, né? Indagou ele. Eu não fazia ideia do que aquilo significava, então concordei com a cabeça. O rosto dele brilhou instantaneamente. – Deve ser vírus então. – E concordei outra vez.” Página 181
A história é em primeira pessoa com capítulos alternados de Rebecca que narra o Depois e Hephzi contando o Antes.
“Hoje tentaram me fazer ir ao funeral de minha irmã... Ela sempre foi maior. Nasceu primeiro, mais forte, mais bonita, a gêmea popular. Eu vivi à sombra dela por 16 anos e gostei do frio e da escuridão; era um lugar seguro para esconder-me... Era o primeiro dia do ano-novo, e minha irmã estava morta havia uma semana.” Página 11
Hephzi era a irmã bonita e mais decidida. Depois de ameaçar a mãe e esta convencer ao pai finalmente conseguiram ingressar no segundo grau. Para Hephzi era o começo da liberdade que tanto sonhava em alcançar. Logo foi se enturmando ,fazendo amizades e arranjando um namorado Craig.
Rebecca por ter seu rosto deformado em virtude de sofrer da Síndrome de Treacher Collins, estava sempre escondida. Apesar disso ela era mais atenta, mais cuidadosa e sempre procurava ajudar a irmã fazendo as suas tarefas escolares, dando cobertura quando esta saia às escondidas para as festas e para namorar. Quantas vezes não foi castigada pelo pai para proteger a irmã. Como qualquer irmã tinham suas briguinhas mas se amavam, eram amigas e confidentes.
Gostavam de relembrar os momentos felizes que passaram com sua avó quando menores. Ela vinha buscá-las para passear, comprava livros que liam em sua casa, tomavam sorvete, passeavam nas lojas, ganhavam roupas novas. Era um momento de felicidade única , mas seu pai a odiava e um dia a proibiu de ver as netas. Brigaram, ela caiu da escada e depois acabou morrendo de tristeza.
Estar na biblioteca da escola era o que mais gostava e se pudesse leria todos os livros que estavam nas prateleiras.
“Quando eu era transportada para o Morro dos Ventos Uivantes ou para o centro de Los Angeles, ficava feliz, meu mundo recuava e, por 40 minutos, a realidade ficava suspensa em algum lugar acima da escola, como uma bexiga preta esperando o sinal de estourar.” Página 31
As saídas de Hephzi passaram a ser mais constantes indo a festas e seu namorado Craig a levava a passear de Moto por vários lugares. Estava apaixonada, amava Craig e o que mais sonhava era poder fugir para ir morar com ele. Passou a frequentar a sua casa, tinha o carinho de Pam – a mãe dele – tudo era felicidade. O eu não esperava era que Craig e sua mãe fossem na Paróquia ao culto de Natal o que deixou seu pai sem ação, nervoso e muito desconfiado. Isso custou a Hephzi um trágico fim.
“O Pai me odiava porque a coisa de que ele gostava de cuidar, como um abutre ganancioso, partira, e eles agora precisavam tomar cuidado, ser mais vigilantes , caso outras perguntas fossem feitas. Mas eu me culpo também. Eu deveria tê-la salvado. Era o meu dever.”
Rebecca recebeu na biblioteca um panfleto sobre um curso de verão para “estudantes talentosos e superdotados” e além de ter um custo sabia que seria impossível o pai concordar com sua ida. Acabou tendo a oportunidade de ganhar 10 Libras por semana distribuindo folhetos. Avisou aos pais que teria aulas extras de matemática e nesse período trabalhava. Acabou sendo descoberta, castigada, ficando sem o dinheiro e mais tarde o pai a tirou da escola.
Ficava o tempo todo dentro de casa, ajudando a mãe na cozinha, limpando a Paróquia até que Srª. Sparks – amiga de seu pai – disse que já que não estudava tinha que encontrar um emprego pois era “um fardo para seus pais ter que sustenta-la”. Foi então que foi trabalhar na Casa de Repouso que ficava ao lado de sua casa. Vai aprender muitas coisas, conhecer pessoas que vão vê-la com outros olhos, mas mesmo assim ao fim de cada dia volta para seu quarto onde se esconde e mantém viva as marcas por tudo que já passou. Não consegue ter a coragem da irmã para tentar fugir, tem medo, escuta vozes de Hephzi a encorajando, mas não se atreve. Qual será o destino dessa jovem? Será que conseguirá a sua liberdade?
“Qual seria o motivo de tamanho ódio? A quem Roderick pretendia enganar ao se passar por cuidadoso provedor de uma família que estava, claramente, escapando entre seus dedos? Que mistérios e segredos torpes davam ritmo para a vida daquelas quatro pessoas?”
A autora Louisa Reid nos envolve nesse drama fazendo sentir revolta, ódio e fico imaginando quantos fanáticos devem existir neste nosso mundo real praticando atitudes cruelmente insanas.
A capa é tem tudo a ver com a história. Quanto à apresentação, encadernação, acabamento, as folhas, os detalhes das fontes que facilitam a leitura como mostram sempre a qualidade das obras da Editora Novo Conceito.