Viva o Povo Brasileiro

Viva o Povo Brasileiro João Ubaldo Ribeiro




Resenhas - Viva o Povo Brasileiro


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Jorlaíne 11/08/2022

João Ubaldo Ribeiro reconta, exalta e escracha a história do Brasil nesta narrativa. O livro é pesado. Fala sobre escravidão, estupro, canibalismo, a submissão da mulher e tanto outros temas.
São séculos de história numa só obra. Uma viagem!
Will 11/08/2022minha estante
Entrou na minha lista de leitura futura após esse Review.


Ricardo.Silvestre 12/08/2022minha estante
Fiquei bem curioso também!




Rosangela Max 25/05/2022

Uma obra-prima nacional.
Que história maravilhosa João Ubaldo Ribeiro desenvolveu.
A forma que ele apresentou o povo brasileiro foi magistral. Tem de tudo um pouco, mas o que se sobressai são dois extremos: aquele brasileiro que reconhece os defeitos do povo e do Governo mas, mesmo assim, ama o país a ponto de matar e morrer por ele e aquele brasileiro que renega suas origens e só quer saber de se aproveitar e tirar vantagem de tudo e de todos. Infelizmente, sabemos quem se dá mal no final.
No começo a escrita é difícil e continua assim até a metade do livro, depois vai ficando mais fluída.
Amei ter feito esta leitura. Só não dou cinco estrelas porque achei que não houve desfecho para a história de alguns personagens.
Recomendo a leitura.
Cleber 26/05/2022minha estante
Obrigado pela dica! Li O povo brasileiro de Darcy Ribeiro e gostei muito, vou colocar esse na minha lista ?


Rosangela Max 26/05/2022minha estante
Eu tenho esse do Darcy Ribeiro, mas ainda não li. Que bom saber que você gostou, assim já coloco no topo na minha lista de leitura. ??


Margô 27/05/2022minha estante
Esta obra configura como uma das 10 melhores leituras que já realizei! É um verdadeiro tratado antropológico do Brasil... já li e reli! Cada leitura foi um aprendizado, considerando que no segundo momento, foi uma leitura compartilhada.
Já leram "O sorriso do ? Lagarto" ? É outra obra do autor que vale a pena conferir.??


Rosangela Max 29/05/2022minha estante
Ainda não li ?O Sorriso do Lagarto?, mas tenho aqui é está na minha lista de leitura. ??


Margô 29/05/2022minha estante
Massa Rosângela, creio que você vai gostar!?


Alê | @alexandrejjr 27/06/2022minha estante
Permitam-me uma intromissão! Rúbia, eu já li "O sorriso do lagarto" e posso dizer que é o segundo melhor livro do João Ubaldo que li! Veio logo depois dessa obra-prima dele que é "Viva o povo brasileiro". Outro livro incontornável do Ubaldo é "Sargento Getúlio". É mais difícil que os dois citados anteriormente, mas é uma experiência fantástica!




Myy 16/04/2022

Um povo herói.
Cultura, aspectos históricos? livros assim são sempre marcantes na gente de maneira diferente. Aqui tem personagens de muitos defeitos mas também de muitas virtudes.
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Ludmila 04/04/2022

Perfeito!!
Em 4 séculos de história do Brasil, João Ubaldo narra uma alma ocupando os corpos de indivíduos em terras Tupiniquins de forma a retratar a formação da identidade nacional, o povo brasileiro!!!
Narrativa que expõe totalmente a formação opressora e violenta de nossa sociedade!! E o mais dilacerante, como a classe dominante atual é fruto direto da classe dominante opressora desde o período colonial.
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Reccanello 15/03/2022

Um dos maiores clássicos da literatura brasileira, e referência internacional como exemplo da mais competente ficção de nosso país, Viva O Povo Brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro, é um romance profundo e arrebatador.
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Definitivamente confirmando João Ubaldo Ribeiro entre os grandes escritores de língua portuguesa, e consagrado pela crítica como um dos mais importantes romances da literatura nacional, "Viva o povo brasileiro" usa as origens do Recôncavo Baiano e a saga de seus muitos personagens para recriar quase quatrocentos anos de História Do Brasil. Apesar de sua maior parte se passar no século XIX, o livro viaja no tempo, indo de 1647 até 1977, misturando realidade e ficção num épico com passagens heroicas e cômicas, sempre às voltas com momentos decisivos e históricos do país, como a Invasão Holandesa, a Revolta de Canudos e a Guerra do Paraguai. Uma espécie de "epopéia às avessas", a obra conta a história do Brasil pelos olhos de personagens anônimos do povo, e não conforme a historiografia "oficial", seguindo os caminhos de um romance popular, porém sem nunca cair no popularesco ou no populismo. Uma produção que, abusando da paródia e do humor, nos traz um texto absolutamente acessível e ao mesmo tempo de altíssimo nível literário. Traduzido para o inglês, o alemão, o espanhol, o francês e o italiano, e ganhador de vários prêmios nacionais, "Viva o povo brasileiro" grava indelevelmente o nome de João Ubaldo Ribeiro como um dos maiores escritores da literatura brasileira e universal.

site: https://www.instagram.com/p/CVi1Va9ltJl/
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Tati 13/03/2022

Antielite colonizada e pró povo, povo brasileiro
Livro fantástico, uma cruzada por 300 anos de nossa história, contando e fazendo refletir por tanto abusos, mentiras, hipocrisia, exploração, matanças e desprezo que uma certa elite brasileira vem ao longo dos tempos fazendo e abafando o povo brasileiro. Mas, também fala da luta, crenças, amores, sabedoria, resistência e encantos e encantados desse povo, que não foge do embate e vive e sobrevive apesar de tudo. Minha heroína da literatura agora tem nome, Maria da Fé (Dafé)
? você sabe tecer o tecido que o veste? Sabe curtir, tratar e coser o couro que o calça? Sabe criar e cozinhar o boi que o alimenta? (?) A sua ignorância é maior do que a nossa.(?)O povo brasileiro somos nós?
Margô 19/03/2022minha estante
Resenha curta e atraente. As palavras vestem a obra como ela merece!Gostei bastante, da citação que você trouxe no final! Perfeito! É interessante o que se percebe nós comentários de outros que lêem a mesma obra! Sempre algo novo e enriquecedor.




Margô 17/02/2022

Viva nós.
Não é uma tarefa fácil resenhar uma obra gigantesca como Viva o povo Brasileiro.
São mais de 600 páginas bem narradas, onde os fatos vão desfilando aos seus olhos, e você vê um filme encantador da História do Brasil, com todos os ingredientes quistos e mal quistos, esquisitos e fantásticos que conhecemos, e que deu origem a este caldeirão cultural que é nosso país.

Heróis , vilões, vítimas, escravos, encantados e caboclos se enroscam no caldo grosso da narrativa de João Ubaldo Ribeiro, que não deixa um só fio solto. Da batalha do Pirajá à Ditadura Militar, fica o registro das cafajestadas. Podia ser diferente?

E no seu jeito baiano de ser, escancara as batalhas inglórias que o Brasil participa e que na ausência do heroísmo verdadeiro, não se dão conta da grande batalha que se trava em solo brasileiro, na calada da noite, no estertor do dia. Uma luta contínua do que começou errado e até hoje é como uma máquina gigante descarrilhada atropelando fracos e oprimidos. A Canastra que nos libertará continua selada.

João Ubaldo não esconde pra que veio. Em uma narrativa de fôlego ele dá o troféu da coragem a uma mulher; Mulher de força, inteligência, humanitária, de Fé.
Maria Da Fé.

Foi uma releitura. Mas nada parecia já

conhecido, por quê assim é um clássico. Toda vez que se ler, parece que existem revelações que passaram despercebidas.

É leitura obrigatória. Caso não queira ficar à margem da história.

Grande obra!
Tati 17/02/2022minha estante
Gostei de sua fala, faço minhas também. Ainda lendo, chegando na metade, mas com todas essas sensações e impressões


Margô 18/02/2022minha estante
Que bom Tati! Fico muito satisfeita... Você sempre é bem assertiva nas suas apreciações.


Ingrid 05/03/2022minha estante
Parabéns pela resenha, Margô! Conseguiu captar a essência do livro! Terminei a leitura agora, e estou impactada! Com certeza entrou para minha lista de livros favoritos da vida!


Margô 06/03/2022minha estante
Obrigada Ingrid! Pois é, eu também o tenho na lista dos meus DEZ MELHORES!! ???


Tati 13/03/2022minha estante
Acabei agora minha leitura e como Ingrid estou impactada. Precisando de um respiro para acalmar tantas sensações.


Margô 14/03/2022minha estante
Estamos todas "embriagadas" pelo bruxo de Itaparica...rsss. Ma-ra-vi-lha!!!




Lucas 26/01/2022

O "brasileirismo" na literatura: Quando um livro esbofeteia e afaga, condena e ensina
O que é um povo? Certamente, parte fundamental de determinada cultura, de determinada nação, mas o que ele é em seu âmago? Como um povo se forma? Através de uma cultura e/ou língua específica? Ou ele resulta da existência contínua de um grupo de pessoas que compartilham estas e muitas outras similaridades? E quando se pensa em "povo brasileiro", estes questionamentos ganham ainda mais força em nosso íntimo: por sermos brasileiros, sentimos que deveríamos saber responder isso, mas a pluralidade da nossa cultura, a extensão continental do nosso território e outras variáveis trazem a esta tarefa um grau considerável de complexidade.

O escritor baiano João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) oferece uma perspectiva eficaz para o entendimento desta complexidade positiva através de Viva o Povo Brasileiro, lançado em 1984 e um dos melhores livros brasileiros de todos os tempos.

Tal pecha pode ser ousada, mas o futuro leitor concordará com tal rotulação. A obra é um "suco" de Brasil, puro, extravagante, vivo e com inevitáveis traços de amargor que se confundem com aquilo que entendemos de um cidadão brasileiro comum. Nenhuma outra obra ficcional conseguiu captar com tanta maestria a essência do que é o Brasil e, primordialmente, o povo que o compõe.

As sinopses mais comuns de Viva o Povo Brasileiro traduzem parte deste fascínio. No geral, elas falam de uma obra que se debruça por quatro séculos de existência do país, descrevendo a nação existente em cada um destes períodos. Tais informações traduzem sim essa grandeza literária e literal que o livro possui, mas precisam ser ressalvadas diante da estrutura do romance: dos vinte capítulos que o compõem, apenas três deles direcionam-se a um passado mais distante (século XVII) e ao "presente", os anos 30 e 70 do século XX. No restante, Viva o Povo Brasileiro se passa no século XIX, especialmente a partir do final dos anos 1820.

Isso não é demérito algum; afinal de contas, o século XIX foi, disparado, o recorte temporal em que mais mudanças estruturais ocorreram naquilo que hoje se entende por Brasil. Num período de menos de 70 anos, o Brasil saiu de status de colônia portuguesa para uma República Federativa, o que por si só é representativo da importância dos anos 1800. Dentro disso, houve um conflito internacional (a Guerra do Paraguai, de 1864 a 1870), a Abolição da Escravatura (1888), algumas revoltas internas (como a Guerra dos Farrapos, de 1835 a 1845 e Revolta de Canudos, entre 1896 e 1897) e vários outros momentos de cataclismo social com reflexos perenes.

É redundante detalhar ainda mais estes aspectos, mas eles precisam ser aqui lembrados para que o leitor tenha uma noção prévia de onde João Ubaldo Ribeiro estava se metendo ao montar uma narrativa ficcional que se desenrola em meio a tantos eventos impactantes. Porque antes de um livro que procura descrever o que é o povo brasileiro em todas as marcantes características que o compõem, é a ficção altamente criativa do autor quem o auxilia nessa tarefa de descrição.

Do mesmo modo que as sinopses de Viva o Povo Brasileiro reconhecem nele um livro descritivo do brasileiro em si, estas são econômicas no que tange a menções aos personagens fictícios que o formam. É, de fato, um desafio falar sobre personagens ao mesmo tempo tão distintos e tão próximos entre si e o tempo, que deveria ser um regente deles, acaba sendo um artifício meramente alegórico, já que as gerações se sucedem e herdam as características de seus pais, avós e assim por diante. Talvez por isso, e aqui vai um conselho, seja recomendável que o futuro leitor tenha consigo uma caderneta de anotações das datas e acontecimentos narrados, as quais serão de enorme valia.

Curiosamente, a gama dos personagens inesquecíveis de Viva o Povo Brasileiro começa com um ser desprezível: o descendente de portugueses Perilo Ambrósio Góes Farinha, natural da região do Recôncavo Baiano, onde se passa a maioria das páginas da obra. Ao "lutar" pela independência do Brasil, ele comete algumas atrocidades para abocanhar um espaço de destaque na sociedade baiana dos anos 1820. Perilo é o típico vilão de um livro histórico brasileiro que trata, dentre outros aspectos, da tragédia da escravidão: ele é um homem abominável no trato com seus escravos e, ao mesmo tempo, ganancioso e animalesco.

A trajetória de Perilo, nas primeiras páginas da obra, solidifica, entretanto, as bases da ficção brilhante que João Ubaldo Ribeiro constrói a partir desse personagem. Na verdade, Perilo era apenas uma "engrenagem" de uma estrutura social que estava em seus primeiros passos: a escravidão já não era tão recente e haviam os chamados mulatos, normalmente homens nascidos livres ou alforriados que poderiam ser donos de outros escravos, mas, no geral, eram pessoas com boas posses e um trânsito (restrito) com os grandes fazendeiros ou senhores de engenho, estes sim, brancos e descendentes de portugueses.

O chamado Nego Leléu simboliza essa nova classe de libertos. Aqui, o leitor terá um contraponto a Perilo: Nego Leléu é o personagem mais divertido do livro, um homem com uma crença absurda no trabalho e na influência que ele exerce sobre o caráter do indivíduo. Analfabeto, mas com uma sagacidade única, ele protagoniza várias passagens memoráveis e cômicas (uma transação que ele faz com um escrivão, cidadão letrado e alfabetizado, é hilária). Mas nem tudo em sua vida é alegria: por motivos que aqui não podem ser citados, ele acaba entrando em contato com Vevé, uma escrava de Perilo Ambrósio e isso acaba afetando decisivamente a sua trajetória.

Vevé é descendente de Dadinha, uma típica mãe de santo, popular na Bahia e que, em sua estirpe, conduz ao imenso arcabouço de lendas e costumes africanos as quais João Ubaldo Ribeiro derrama nas linhas da obra. Ainda hoje objeto de enorme preconceito, as religiões e crenças dos afrodescendentes são riquíssimas em matéria de simbolismos e misticismos, muitos deles ainda vivos na atualidade e bem explorados em momentos pontuais na narrativa.

Além destes personagens, esta "primeira fase" do livro traz Amleto Ferreira, mestiço filho de negra liberta com um navegador inglês e guarda-livros (o que hoje seria equivalente a um contador) do mesmo Perilo Ambrósio supracitado. Amleto funciona como uma ponte entre essa atmosfera de "alta sociedade" dos primeiros anos após a Independência a uma nova estratificação social que se torna sólida nas décadas seguintes.

Basicamente, partindo desses personagens João Ubaldo Ribeiro constrói as estirpes ora independentes ora relacionadas entre si que marcam a inesquecível narrativa ficcional de Viva o Povo Brasileiro. As gerações posteriores, formadas por gente como a maravilhosa Maria da Fé, os aristocratas Bonifácio Odulfo e Patrício Macário, o corajoso Zé Popó, dentre outros, trarão ao futuro leitor momentos de emoção, ensinamentos, reflexões, comicidades e outros sentimentos, coroados com uma sensação de pertencimento e resgate da história do Brasil.

A habilidade narrativa, de construção desta ficção, acaba se destacando em relação ao caráter antropológico do povo brasileiro. São coisas que, na verdade, confundem-se: ao criar uma imensidade de personagens inesquecíveis, o autor monta uma descrição precisa do que é ser brasileiro: do famigerado "jeitinho", das hipocrisias da alta sociedade, das negociatas e cambalachos, da corrupção e suas raízes... Mas ser brasileiro também é ser corajoso, aguerrido, irreverente e bondoso, e isso também está justamente representado.

O Exército brasileiro, que passou a influenciar mais decisivamente na vida do país a partir da segunda metade do século XIX, é empregado por João Ubaldo Ribeiro como a ferramenta perfeita para mostrar todos estes aspectos conjuntamente. E também elucida a relação entre patriotismo e povo, elementos que vinham sendo tratados de forma separada, mas que não podem ser entendidos sobre ângulos distintos (as experiências e momentos históricos na época ocorridos derrubam qualquer barreira entre povo e pátria).

Outro instituto sabiamente empregado como simbólico das mazelas do Brasil é a descrição da classe política dominante, do que posteriormente chamou-se de coronelismo, ainda hoje influenciando na vida dos centros urbanos do interior do país. Dentre as várias atitudes condenáveis, João Ubaldo Ribeiro destaca a faceta daquele político de bem, que prega pelos bons costumes, pela ordem e progresso, pelos valores cristãos e da família, mas a qual acha aceitável que um filho consiga vaga em universidade sem passar por processo seletivo algum, ou que seja inocentado num caso de abuso sexual e assim por diante. Seria somente cômico se não fosse trágico (e atual).

A genialidade que o autor possui em criar tamanha ficção traduz-se, além da já presumível capacidade de misturar história real com personagens fictícios, em duas características localizadas. A primeira delas refere-se à montagem de personagens que, num primeiro momento, são desprezíveis, mas as quais se tornam mais admirados com o passar dos anos e vice-versa: como pessoas comuns, a grande maioria dos tipos de Viva o Povo Brasileiro não é totalmente perfeita nem totalmente maléfica. Certos eventos marcam a vida de uma pessoa de tal forma que depois disso o indivíduo não é mais o mesmo; isso acontece na prática e, felizmente, na ficção. A outra característica é mais específica: ao narrar a famosa Batalha de Tuiuti (1866), que praticamente determinou o fim da Guerra do Paraguai, João Ubaldo Ribeiro não usa termos bélicos, estratégias militares e outras técnicas narrativas convencionais para tal descrição: ele simplesmente utiliza lendas africanas que pregavam a existência de divindades específicas (os Orixás) e a participação de cada uma delas na batalha, num momento de intensa criatividade e de uma força alegórica memorável.

Toda esta miríade formada por ficção, história real e lendas acaba por solidificar uma conclusão óbvia, mas que de uns anos para cá vem sido esquecida: o conhecimento liberta. Grande parte das mazelas conscientes, derivadas de costumes as quais nós desenvolvemos como brasileiros, poderia ser evitada a partir da obtenção de instrução. Não o simples ato de ler e escrever, mas principalmente o desenvolvimento de um senso crítico cuja ausência se reflete no desenvolvimento social do Brasil. Em vários momentos, de uma forma bem sutil, João Ubaldo Ribeiro cita a importância do aprendizado não apenas como fundamental na construção de um país melhor, mas também como algo que está intrínseco à nossa existência: para ele, viver é aprender, seja academicamente falando ou assimilando valores e atitudes construtivas não necessariamente oriundas de um ambiente escolar ou pedagógico.

Viva o Povo Brasileiro é um livro único dentro da literatura nacional, aquele que mais bem captou a alma (ou as almas, já que a obra traz uma teoria fascinante para a alma de cada um) do brasileiro em todas as suas vicissitudes ao longo dos séculos. Por ser único, ele precisa ser lido, relido, estudado e, fundamentalmente louvado: a vida de um (a) apaixonado (a) por leitura não será mais a mesma depois que a última página da obra é concluída, seja como leitor (a) e, principalmente, como brasileiro (a).
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Gustavo.Martins 10/01/2022

O livro dos brasileiros
Viva o Povo Brasileiro é uma narrativa pessoal e simbólica que se assume como tal e que, diferente de muitas narrativas nesse modelo, dá oportunidade para o leitor ver as outras faces da mesma realidade, como se estivesse reafirmando o título. É uma leitura que muito recomendo. A quantidade de páginas a princípio me assustou um pouco e coloquei em dúvidas sobre minha capacidade de chegar ao final do livro. Mas eu garanto que do início ao fim, a história vai te abraçar de tal forma que a última palavra dita na última linha vai te surpreender de tal forma que terá vontade de voltar ao inicio para uma nova leitura.
Beca 10/01/2022minha estante
Sua resenha me estiga a fazer a leitura de tal.
E quase 700 páginas não deveriam te assustar kkkkkk




erbook 19/12/2021

A saga de um povo!
Viva o povo brasileiro é uma obra magistral! Sensacional! Nosso saudoso e premiado João Ubaldo Ribeiro, imortal da Academia Brasileira de Letras, com grande desenvoltura linguística, cultural e antropológica, expõe neste romance a saga de um povo sofrido e batalhador, desde o séc. XVII até o séc. XX.

A maioria do enredo se passa na Bahia, durante o séc. XIX, mas a abrangência e a profundidade com que o autor aborda os temas não deixa dúvidas sobre a construção da identidade do povo brasileiro. A saga menciona desde os rituais de canibalismo indígena do séc. XVII, passando pela colonização portuguesa, a catequização dos povos nativos, a crueldade da escravidão dos povos negros, a corrupção, hipocrisia e moralismos da sociedade brasileira. Embora sem se aprofundar muito, são abordadas a guerra contra o Paraguai e a revolta de Canudos.

A linguagem, quase oral em muitas passagens, não é simples, tendo em vista as gírias e os dialetos locais, mas leiam como se estivessem assistindo a um filme regional. Nem tudo é para ser compreendido, mas sim sentido. E isso, João Ubaldo faz com maestria.

O início da obra é arrebatador com a “criação das almas”, que de tempos em tempos reencarnam nos vivos construindo uma linha de identidade nacional. O autor não deixa de fazer crítica aos historiadores, mediante sátira com os “heróis” da independência, especialmente com o alferes José Francisco Brandão Galvão, que é retratado como um simples soldado raso. Há também profunda análise das tradições religiosas de matizes africanas.

Com tantos personagens marcantes e bem construídos, é difícil escolher apenas um, mas Nego Leléu, negro, ex-escravizado, inteligente, perspicaz nos negócios e batalhador, conquistou minha admiração literária.

Trecho marcante:

“Isto é uma luta que trespassará os séculos, porque os inimigos são muito fortes. A chibata continua, a pobreza humana aumenta, nada mudou. A Abolição não aboliu a escravidão, criou novos escravos. A República não aboliu a opressão, criou novos opressores. O povo não sabe de si, não tem consciência e tudo o que faz não é visto e somente lhe ensinam desprezo por si mesmo, por sua fala, por sua aparência, pelo que come, pelo que veste, pelo que é. Mas nós estamos fazendo essa revolução de pequenas e grandes batalhas (...)”.

Recomendo a leitura a todos que queiram conhecer um pouco mais sobre as origens da identidade do povo brasileiro!
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Leticia 10/10/2021

Quem é o povinho?
Ohh livrinho que meu deu um trabalho da peste!

Esse livro me foi muito bem recomendado, o que se torna deveras complicado, quanto maior a expectativa, maior o tombo. Só que é com alegria que informo que isso não se realizou, essa leitura se tornou uma das melhores do ano.

Comecei essa leitura me sentindo a criatura mais burra da face da terra, não entendia bulhufas do que estava acontecendo, cheguei a pensar que não conseguiria ler esse livro, que era muito difícil.

É uma leitura que exige perseverança, e como eu perseverei nas primeiras cem páginas. Com o passar das páginas, comecei a pegar o fio da meada, e a entender como a linguagem que o autor colocou aqui é estruturada. A linguagem respeita os personagens, ela é fiel ao que ele propôs escrever, as palavras, o vocabulário são leais às histórias aqui contadas, do falso intelectual ao trabalhador braçal, ao escravizado, ao revolucionário, ao povo com suas faces distintas e suas particularidades.

É um livro que fala do Brasil, da formação do povo brasileiro, do período da colonização à ditadura militar, um punhado de tempo que retrata o falso moralismo, o complexo vira-lata, os falsos heróis nacionais, a corrupção, a politicagem, o patriarcado, a escravidão, as religiões de matriz africana, a luta contra a opressão, a resistência. Um livro genuinamente brasileiro, com o que há de bom e ruim, com o que há de dor e alegria, com o que há de lutas, e elas são muitas, e a esperança. Se na Colômbia há cem anos de solidão, aqui temos quase quinhentos anos de brasilidades em 'Viva o Povo Brasileiro".

Ao terminar essa leitura me vêm a cabeça uma fala muito recorrente no Brasil de hoje, de abandonar essa terra, que aqui não tem mais conserto. Como se abandona a Pátria? Como se abandona o cachorro caramelo, o acarajé, o pão de queijo, o arroz com pequi, o cuscuz, o samba, o axé, o funk, o povo brasileiro? anos de histórias, de lutas...

" A que diabos de povinho você se refere? Para você todo mundo é povinho, com exceção de quatro ou cinco gatos pintados que você julga estar a sua altura. Que povinho? Todos? Porque são todos, realmente todos os brasileiros, a que você se refere com esse desprezo." Pg. 555.

Eu acho interessante que quando nós vamos nos referir ao povo, o povo sempre é o outro, nunca eu, e eu não me eximo disso, "O povo é massa de manobra, o povo não saber votar, o povo isso e aquilo, etc". Quem é o povo? Só pode ser a gente mesmo, a gente mesmo que faz essas "cagadas".

Foi uma leitura que me trouxe dor, você vê a história do Brasil se repetir.
"[...] comida tem, tem até demais. Tem um pessoal louro misturando leite em pó no macadame da avenida, para ficar mais macio. Tem gente tacando fogo em pinto e afogando pinto que faz gosto, tem gente matando ganso só para tirar o figo, tem gente pagando para o homem não plantar que é para não ter comida demais e o preço não descer, tem gente querendo capar os outros para os outros não fazer filhos que possam comer a comida que se joga fora, tem coisa que Deus duvida aqui! Tem subola e alho jogado no rio, veja você, subola e alho! Depois que eles joga no rio, eles compra outra vez, só que no estrangeiro, que é para o estrangeiro respeitar ele". Pg. 637.
Joao 10/10/2021minha estante
Sempre tive vontade de ler esse livro e com sua resenha, agora sim é que quero ler. Li pouquíssima coisa do autor mas ele é muito recomendado.


Leticia 10/10/2021minha estante
Esse foi o meu primeiro contato com o autor, não poderia ter sido melhor, um favoritado. A leitura vale a pena.


Alê | @alexandrejjr 20/11/2021minha estante
Eu demorei a comentar, mas aqui está: queria dizer que esse teu texto trouxe toda a experiência que eu tive quando li. Análise excepcional de um livro único! Um dia, talvez numa releitura, crio coragem e dou os meus pitacos, Ana. Parabéns!


Leticia 03/12/2021minha estante
Alexandre, eu vi seu comentário só hoje. Então, foi uma leitura que gostei demais, e eu tenho que te agradecer, foi você que me indicou, e se tornou uma das melhores leituras do ano e da vida.




jota 07/09/2021

ÓTIMO: não é uma História do Brasil, mas pode ser a do povo brasileiro, gente com muitos defeitos e algumas virtudes...
Lido entre 20/08 e 06/09/2021

Viva o povo brasileiro, especialmente os habitantes reais ou não da ilha baiana de Itaparica, personagens centrais da obra épica (não apenas por sua quantidade de páginas) de João Ubaldo Ribeiro (1941-2014). A narrativa começa meio estranha, meio empolada, mas depois fica impossível resistir ao falso patriotismo de Perilo Ambrósio, ao canibalismo do caboclo Capiroba, ao embate de ideias entre o mestiço espertalhão Amleto Ferreira e o preconceituoso cônego D. Araújo Marques, à bravura da heroína Maria da Fé e depois seu romance com o general Patrício Macário.

Essas e outras tantas narrativas compreendidas em “pouco mais de três séculos de uma anti-história do Brasil”, como escreveu a editora Nova Fronteira, são contadas não sequencialmente, mas com idas e vindas no tempo, com alguns personagens reaparecendo nas histórias de outros, lembrados por eles etc. Não é uma história romanceada do Brasil como alertou a editora, mas através de personagens fictícios ou não, Ubaldo Ribeiro vai mostrando nosso passado escrachado com altíssima qualidade literária. Que por vezes nos obriga a recorrer ao dicionário, dado o uso de muitos vocábulos antigos ou específicos de uma cultura (a negra, especialmente).

É impossível não reconhecer nessas páginas traços do comportamento e da personalidade do brasileiro atual, alguns tão característicos que vêm desde os tempos da colonização, passando pela escravidão, império, república, pela formação econômica e financeira do país, como é o caso das elites brasileiras. Ubaldo Ribeiro nos faz crer que tanto quanto para as páginas de seu livro parece que ao fazer essa leitura estamos olhando também para um espelho que exibe não apenas nossa cara, igualmente nossa alma. E o ele reflete não é lá uma imagem muito boa...
jota 10/12/2021minha estante
Corrigindo a última frase: E o que ele reflete não é lá uma imagem muito boa...




Valéria Cristina 29/08/2021

Uma obra-prima
O povo brasileiro, heróico, aguerrido, mestiço, sofrido, feliz, incomparável é retratado nesta história fenomenal. Ri e chorei muito durante as venturas e desventuras de seus personagens inesquecíveis!
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Tatiana.Junger 22/05/2021

história que não virou História
Uma ficção que, atravessando os tempos desde 1647 até 1977, conta a história do Brasil - "história", porque se deu, e sabemos que se deu, por verossimilhança -, apagada pelo discurso oficial. Uma história de dor e sacrifício, que só não é um martírio para ler porque a narrativa oscila entre a retratação seca do terrível com a ironia, o sarcasmo, o fantástico e o espiritual, complementados pela construção de personagens marcantes, como Perilo Ambrósio, Amleto Ferreira-"Dutton", Nego Leléu, Maria da Fé e Patrício Macário.

Fugindo aos fatos tidos por notórios da nossa História, suas motivações e fundamentos, Viva o povo brasileiro tira o véu do "adequado" e do "bonito", põe o dedo na ferida, critica a elite brasileira pela sua hipocrisia e mediocridade, critica instituições (o governo, a Justiça, o Exército, etc) e sua responsividade à verdadeira ideia de democracia.

Nesse ensejo, a experiência de leitura baralha sentimentos de orgulho com sentimentos de vergonha da brasilidade. Afinal, a brasilidade não é só a resiliência do dominado, mas a frieza do dominador. São todos brasileiros, inobstante o empenho do dominador em esconder isso...

Mas no meio de tantas denúncias das "coisas como elas são", João Ubaldo Ribeiro insere na trama um elemento importante, misterioso, enigmático: uma canastra cheia de segredos da Irmandade da Casa da Farinha, segredos do povo, que passou por todo esse período perdendo bens, família, dignidade, sangue e até mesmo a vida, mas não perdeu a esperança, porque se alimenta do Espírito do Homem, que persegue incondicionalmente o Bem.

E a metáfora da canastra é brilhante, porque ela está lá, trancada, não expressa seus segredos, mas os prova presentes - e é o mesmo que a esperança do povo brasileiro: mesmo com nenhuma prova de que algum esforço compensa, mesmo remando contra a maré, mesmo após algumas "reviravoltas políticas", "revoluções" e supostas mudanças que nada de fato modificam, a esperança subsiste. A canastra explica o que nada mais explica: a esperança que subsiste.

"Viva o povo brasileiro" é uma saudação - e uma saudação serve para identificação dos pares. "Viva o povo brasileiro" é, portanto, uma tentativa de comunicar que existe alguém que protege a canastra, que alimenta a esperança e que, independentemente dos percalços, seguirá saudando "Viva o povo brasileiro"! Viva nós! Cabe a nós, leitores, reconhecer a Irmandade da Casa da Farinha, dar seguimento à sua causa e saudar de volta: Viva o povo brasileiro! Viva nós!
Alê | @alexandrejjr 25/05/2021minha estante
Baita texto, Tatiana! Sabia que o João Ubaldo costumava dizer que "ninguém leu 'Viva o povo brasileiro' como deve ser lido", ou seja, como ele esperava que lessem? Olhando para os últimos anos da nossa história, tendo a concordar com o saudoso Ubaldo...


Tatiana.Junger 25/05/2021minha estante
Infelizmente parece que ele estava certo sobre isso mesmo? mas a canastra ainda tá aí!

Que bom que gostou do texto! E virou sim, facilmente, um dos meus livros favoritos!




Everton Vidal 04/04/2021

Cobre quatro séculos de construção brasileira (1677 a 1977), desconstrói fatos oficiais com ironia, descrevendo-os como fantasias ou meias-verdades que ocultam a verdade, que é principalmente construída por anônimos postos às margens da história.

Nesse plano se constroem algumas das principais personagens, como o Barão de Pirapuama, que enriquece fingindo participação heroica na guerra de independência e Amleto, contador do barão, que enriquece ilicitamente e falsifica documentos para ocultar sua ascendência africana.

Do outro lado está o Caboco Capiroba, canibal que gostava de comer holandeses, e suas descendentes: Dadinha, sua bisneta, escrava que morre centenária entregando o seu conhecimento à posteridade, Vevé, neta de Dadinha, que ao ser violada pelo barão dá à luz a Maria da fé, protagonista, líder guerrilheira da "irmandade da casa da farinha", onde a semente da identidade do povo começa a nascer.

Obra-prima de um dos maiores escritores da segunda metade do século XX. Escrito de forma fragmentária, não-linear, é um retrato anti-histórico imenso e preciso do povo brasileiro.
Vitória Marcone 04/04/2021minha estante
Esse livro está na minha lista de desejos há um tempão ? ótima resenha!


Everton Vidal 04/04/2021minha estante
Achei bão demais. Vale a pena! o/




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