Leila de Carvalho e Gonçalves 12/07/2018
Segundo Da Trilogia
Auto da Barca do Purgatório", de Gil Vicente, foi escrito num momento de transição, quando o homem abandonava as trevas medievais e emergia para a luz do humanismo e esse conflito domina a obra, isto é, ao mesmo tempo que o autor critica a sociedade de seu tempo, seu pensamento continua centrado em Deus.
Essa peça foi representada pela primeira vez nas matinas de Natal, em 1518 e ela é a segunda de uma trilogia da qual também fazem parte o "Auto da Barca do Inferno" e "O Auto da Barca da Glória".
Seu cenário é um porto onde estão ancoradas duas barcas: uma com destino ao paraíso cujo comandante é um anjo e a outra com destino ao inferno que tem na chefia o diabo. Todas as almas, assim que se desprendem dos corpos, são obrigadas a passar por esse lugar, para serem julgadas. Dependendo dos seus atos, elas são conduzidas a uma ou outra embarcação e tanto o anjo quanto o diabo podem acusá-las, mas somente o primeiro pode absolvê-las.
Dividido num único ato, esse auto só julga os pobres trabalhadores. São eles: uma mulher presunçosa, um pastor, uma pastora, um jogador ou taful e um menino muito pequeno. Posso adiantar que somente um merecerá o Paraíso e outro, o Inferno.
Com versos em "Redondilhas Maiores", merece destaque a conversa de Marta Gil, a presunçosa, com o Diabo, sempre com uma justificativa na ponta da língua, ela traz humor aos versos. Porém, esse é o auto menos interessante, inclusive, repetitivo e contraditório, por exemplo, enquanto um ladrão vai para o purgatório, um outro já havia sido mandado para o Inferno...