spoiler visualizarbizinhavieira 06/02/2011
A Metamorfose
O livro já começa pelo que seria, em muitos casos, o ápice da história: Gregor, o personagem central da história, e o narrador pela maior parte do texto, acorda e se vê transformado em um inseto, que pela descrição podemos dizer que é uma barata. O que se esperaria ao iniciar uma obra por este ponto, é que o personagem, ou ao menos o autor, se preocupasse em descobrir o motivo da metamorfose, mas isso nunca chega a acontecer.
Inicialmente, Gregor acredita estar apenas doente, preocupa-se com o que pode acontecer à família e as conseqüências para seu emprego, já que era o único mantenedor da família. Mas com o prolongamento da situação, suas preocupações também mudam: ele sofre pelo distanciamento dos seus pais, pela repugnância de sua mãe e irmã, por ficar confinado a um único aposento, aposento este onde ele aprende a se divertir subindo pelas paredes (nem tudo na metamorfose podia ser ruim, né?).
O interessante na leitura é perceber como a metamorfose física de Gregor causou uma metamorfose comportamental na família. Kafka não faz qualquer tentativa de amenizar a crueldade humana. Ele jamais escondeu que havia muito carinho da família por Gregor, mas também não ocultou como a mudança de seu corpo para de um inseto alterou totalmente a forma como eles lhe encaravam, apesar do próprio Gregor nunca se ver como um animal.
A leitura é simples e rápida (não chega a 80 páginas de texto), a história é um tanto perturbadora e só de lembrar algumas partes me passa um arrepio de nojo (odeio baratas com todas as forças do meu ser...) e o final foi completamente surpreendente. Eu nunca esperava que acontecesse o que aconteceu... Recomendo, nem que apenas para conhecer um clássico da literatura mundial.
FRASES
"Na certa, o chefe mandaria buscar um médico do serviço social, chamaria a atenção dos pais pela preguiça do filho, desqualificando quaisquer objeções, sempre apoiado pelo médico, cujos preceitos rezam que todos estão sempre sadios, mas não gostam de trabalhar." p.13
"Como sua fala era incompreensível para os demais, ninguém pensou, nem mesmo a irmã, que ele podia compreender o que diziam." p.37
"Nem se surpreendeu por ter feito isso, pois vinha se importando cada vez menos com os demais; a consideração, que antes lhe era motivo de orgulho, quase não existia mais." p.66
"Se a música o envolvia tanto, seria ele um bicho?" p.67