spoiler visualizarJoseane12 15/07/2023
Esse livro vale cinco estrelas e meio coração (tirei a outra metade por causa do racismo). Existem livros que nos causam boas lembranças, mas existem livros que se tornam parte de quem nós somos e esse livro é definitivamente um desses. Desde 2018 eu não sentia esse sentimento por uma estória, por um personagem (Rhett). Scarlett O'Hara é tudo que me irrita numa pessoa, mimada, egoísta, egocêntrica, sempre querendo ser o centro do mundo. Quando comecei a ler esse livro pensei que ficaria vesga, do tanto que revirei meus olhos, nos dois primeiros capítulos. Mas, depois do terceiro capítulo as coisas começaram a ficar interessante e iniciou a guerra (que era uma parte que eu estava esperando muito) e como eu li rápido a parte da guerra porque foi contada a partir do ponto de vista das mulheres e nisso pude ver o poder feminino, infelizmente a guerra não tem rosto de mulher e os esforços femininos para manter os homens, na linha de frente, alimentados e vestidos, passam despercebidos nos relatos oficiais. A terceira e quarta parte do livro foram as mais difíceis de se ler, para mim, e as que mais demorei na leitura porque é a parte do pós-guerra e se no começo do livro eu não suportava Scarlett, foi no pós-guerra que passei a admirá-la enquanto ser humano. O dia da queda de Atlanta foi uma das cenas mais difíceis que já li, ali estava o lado feio da guerra, a morte de milhares de pessoas inocentes, a dor da perda, da fome, o medo. Quando Scarlett estava fugindo da Atlanta em chamas, eu senti todo o medo que ela estava sentido, eu senti o calor das chamas na minha pele, o barulho das explosões que acelerava o coração, o medo da escuridão e seus perigos que gelavam meu sangue. Eu sofri com Scarlett em cada parte do seu caminho de retorno para Tara, a criança assustada que corria desesperadamente para os braços seguros da mãe. Mas quando finalmente chega em casa, ela percebe que o que ela havia passado não era a pior coisa que tinha lhe acontecido, a pior coisa começava agora (como ela confessou para a vovó). Sua mãe, seu porto seguro, estava morta, seu pai perdeu o juízo e estava morto em vida, as irmãs estava doentes, com tifo, da grande quantidade de escravos que eles tinham, tinha sobrado apenas 3, Pork, Mammy e Dilcey. A plantação de algodão e a colheita de três anos, estava destruída, os animais, as hortas e tudo de valor estava acabado e ela tinha, além dela mesma, as duas irmãs doentes, Melanie e seu bebê, seu filho, o pai, Pork, Mammy, Dilcey e seu bebê e Prissy para cuidar e alimentar, quando ela não sabia nem cuidar dela mesma. Era um fardo muito pesado para uma jovem menina de 19 anos, mas ela encarou seus medos e prometeu que nunca mais sentiria fome ou frio, ela plantou e colheu algodão, caminhou longas distâncias a pé, para encontrar comida e enfrentou o exército de Sherman, na sua segunda passagem por Tara. Ela aprendeu que todos os ensinamentos que Ellen (a mãe de Scarlett) a tinha ensinado, para nada serviam porque o mundo para o qual aqueles ensinamentos serviam já não existia mais, como ser uma dama não iria alimentar ela e o povo de Tara. E no meio desse caos, nasce o mais belo dos relacionamentos desse livro, o relacionamento entre Melanie e Scarlett. Melanie sempre defendeu Scarlett, mesmo antes dela se torna sua cunhada, lembro que no churrasco, enquanto as outras garotas ficaram chamando Scarlett de oferecida, Melanie foi a única que a defendeu. Melanie admirava Scarlett, sua força, coragem e determinação pela vida e quando Scarlett se mudou para Atlanta em 1862 o relacionamento começou a ser desenvolvido. Scarlett odiava Melanie porque ela era a mulher do seu amor infantil não desenvolvido, Ashley, e a considerava uma tonta, tola que não via maldade em ninguém. Mas Melanie era seu porto seguro, como sua mãe um dia foi, ela sempre esteve ao lado de Scatlett, a defendendo, compreendendo e a amando. Scarlett disse, no começo do livro, que não tinha amigas, nem mesmo com suas irmãs biológicas ela tinha um laço de amizade, mas com Melanie era diferente. Melly foi a única mulher, além de Ellen que amou Scarlett, e como Ellen era uma grande dama que lutava bravamente através da gentileza, Melanie era grata à Scarlett por tudo que ela havia feito por ela (mesmo que Scarlett tenha agido de forma egoísta, pensando só em Ashley), Melanie esteve ao lado de Scarlett quando o iaque invadiu Tara, esteve ao seu lado quando Sherman tentou incendiar Tara, foram as duas que aparagaram o incêndio, ela cuidou de Tara quando Scarlett se mudou para Atlanta, após o casamento com Frank. Melanie era a força na gentileza e Scarlett era a força na coragem e juntas elas viveram muitas aventuras e desventuras durante 11 anos (1862 a 1873). A gente pensa que almas gêmeas tem que ser um casal e que compatibilidade é ser igual ou semelhante a alguém, mas almas gêmeas podem ser almas amigas e Scarlett e Melanie eram almas-irmãs e compatíveis, porque embora completamente diferentes, elas se complementava, encaixavam-se, elas viam o mundo de forma diferente e ensinaram muito, uma a outra, cada uma do seu modo. Pena que Scarlett percebeu o valor de Melanie quando era tarde demais, na verdade ela percebeu tudo quando era tarde demais e sua cegueira já havia machucado tanto que ela havia perdido todas as pessoas que amava.
Agora, em relação à Rhett e Scarlett. Rhett amou Scarlett desde a primeira vez que a viu, naquele churrasco em abril de 1861, ela era uma mulher bonita, que chamou sua atenção. Contudo, foi depois da cena na biblioteca que ele passou a admirá-la, como ele disse, ali estava uma mulher que você encontrava apenas uma em um milhão, uma mulher voluntariosa, egoísta, sem escrúpulos, disposta a tudo para sair por cima e Rhett enxergou em Scarlett a si mesmo. Gerald disse a Scarlett que somente havia felicidade no casamento entre semelhantes, mas ela não havia dado importância. Ela foi cega em relação à Ashley e foi cega em relação à Rhett e isso lhe custou os dois homens que ela amava. Sua obsessão por Ashley a levou a machucar repetidas vezes o coração do homem que tanto a amava. Rhett amava Scarlett por inteiro, era o único homem que a conhecia por completo (até os ossos, como ele disse) e mesmo assim a desejava e admirava, se Ashley conhecesse seu verdadeiro eu, iria desprezar Scarlett. Rhett se casou com Scarlett a amando, mas escondeu esse amor porque sabia que se Scarlett soubesse desse amor, o usaria como uma arma de dominação, ela era cruel com quem a amava. Ele esperou, pacientemente, a olhava esperando encontrar amor e aceitação nos seus olhos, mas no lugar só encontrou desprezo e olhos que gritavam constante que era Ashley que ela queria ali e não ele. Com seu orgulho ferido, ele utilizou o sarcasmo e o deboche nas falas para lidar com a dor da desilusão amorosa. Rhett é apenas um homem que foi desprezado por ser que é, ele rodou o mundo, fez fortuna, mas faltava algo, faltava um lar, família e amor, alguém que o amasse e alguém a quem ele pudesse dar amor e ele amava tanto Scarlett que esperou e fez de tudo, ao seu alcance, para que ela o amasse, mas tonta como era, ela destruiu tudo, até o amor de Rhett. Eles se machucaram tanto, que no final foi melhor deixar ir do que continuar mantendo a relação, apesar de todas as dores.
O final desse livro, foi o melhor final de livros de romance, que li nos meus 26 anos de idade. Se apesar de tudo, Rhett e Scarlett tivessem ficado juntos, eu teria ficado decepcionada, as pessoas pensam que o que faz uma boa história de amor é um final feliz, mas o final pouco importa, o que faz uma história de amor ser épica é a jornada e a caminhada de Rhett e Scarlett foi dolorosa e sofrida em muitos pontos, mas mesmo assim foi linda e foi uma honra para mim, ter essa história como companhia por dois meses. Gratidão ao universo por existir livros que me tocam assim ?.