Blade Runner

Blade Runner Philip K. Dick




Resenhas - Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas?


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Heliton 20/10/2021

Programação para: 3 de janeiro de 1992 - Um longo e cansativo dia.
Com um certo carinho eu digo que esse livro aqui, além de ter sido o primeiro do Philip K. Dick que li na vida, foi também um dos primeiros, senão o primero, com uma edição bem superior dos que eu adotei para morar na minha estante. Aliás, depois de ter lido essa edição especial de 50 anos, confesso que sempre dá vontade de lê-lo várias e várias vezes. Acho que isso vale para qualquer uma que seja assim!

Aliás, a capa desse livro não é essa capa, ela é só um enfeite. Fiquei em transe quando quase o derrubei no chão, essa capa fake ia escorregando valendo da minha mão :/

Então, não vou enrolar muito sobre falar do que se trata a história do livro porque acredito que muitas pessoas a conhecem, ainda mais para quem é fã de ficção científica. Mas na boa, eu lembro que só comprei pelo hype das críticas de anos e anos desde o filme, por ser um clássico e tal; fora que não li sinopse alguma quando pensei em adquirir (quase nunca leio), pois já sabia mais ou menos do que se tratava, porém, eu tinha certeza de uma coisa, de que eu iria gostar, porque qualquer obra que me conecte a um mundo cyberpunk ou qualquer outro do subgênero punk existente já tem a minha atenção.

Blade Runner é uma das grandes referência do gênero cyberpunk, disso eu sabia, mas precisava ler para saber mais da história em si.

Sobre a construção da narrativa, de certa forma eu gostei. Já havia lido ele ano passado, acho, mal lembro, e naquela vez que o li eu não me conectei 100%, foi uma leitura corrida e confusa (lancei logo um 3,5 de depre). Só depois de um longo tempo decidi reler, e olha que coisa, o PKD se tornou um dos meus autores favoritos (só li UM dele!, mas já veleu demais para entra na lista).

Voltando a falar sobre a narrativa, eu sentia na minha leitura um clima de melancolia constante cada vez mais assim que ia passando as páginas. A causa disso muito se deve as descrições do ambiente e de estado de espírito dos personagens, principalmente sobre como o principal se comporta em um mundo devastado por uma grande guerra que ocorreu tempos atrás na linha de tempo da história, a GMT (Guerra Mundial Terminus).

Rick Deckard, assim como (ouso dizer) a maioria dos personagens, não é nada carismático.

Até porque, não imagino, como poderia ter carisma um personagem que precisa usar aparatos eletrônicos para controlar as suas próprias emoções? Isso me lembra a remédios controlados, de fato. Ainda sim, isso tudo se torna muito mais compreensivo quando você entende o contexto geral de como o mundo, o planeta Terra, se encontra. Pois, não é só o Rick que usa o "Penfield", mas quase a população toda faz uso desse mecanismo estimulador de ânimo e de outras coisas mais.

A Terra, o nosso lar. O lar do casal Deckard e de seu animal elétrico de estimação.

Quando eu estava lendo as partes que citavam a precipitação redioativa; a quase inexistência de animais; a partida de pessoas para Marte ou para outros mundos e, principalmente, sobre a poeira, eu já falei comigo mesmo: "isso tudo é o que os noticiários vem falando, sobre poeiras atingindo cidades, o clima do planeta indo de mal a pior e as viagens espaciais". A nossa realidade está cada vez mais parecida com a de Blade Runner, e isso não chega a ser surpresa alguma.

Se é algo que pode vim a ser incômodo ou não para quem for ler ou de quem o leu, talvez seja a questão da falta de desenvolvimento dos personagens ser quase zero na história; eu acredito que seja uma característica que faz da narrativa do autor neste livro, com exceção do personagem principal e do John R. Isidore (surge depois de algumas páginas como para servir de perspectiva para outros personagens...). Além do mais, fiquei querendo saber mais detalhes sobre a vida desses outros persons e sobre os problemas do mundo em si. Há muitos ganchos de coisas que, ao que parece, só surgem para cativar a nossa imaginação e interpretação, mas creio que o autor não deu foco nisso porque poderia desviar a atenção da narrativa principal, que é acompanhar a rotina de um caçador de recompensas caçando andróides e tentando encontrar algum sentindo na sua vida.

Essa resenha já está longa demais, e ainda nem terminei de falar metade do que eu senti lendo, mas é melhor parar por aqui :/; alguma hora eu volto e complemento com mais alguma coisa, porque rendeu demais essa releitura .

No mais, diria que a história pode ser até curta, cerca de 230 páginas, mas ainda assim possui uma quantidade considerável de personagens e é muito densa em questão de reflexão existencial de alguém preocupado com o seu próprio bem-estar e o da pessoa que vive ao seu lado.
Werbison 21/09/2022minha estante
Excepcionalmente maravilho


Marcos 10/12/2022minha estante
é maravilhoso, e pretendo ler de novo pra adquirir uma perspectiva melhor




Gustavo Rodrigues 08/10/2021

O bom de ler um livro considerado clássico é que, geralmente, além de uma história boa, agrega algum conhecimento. Em se tratando de Ficção Científica, na grande parte das vezes traz um questionamento futurista, como acontece em Blade Runner.

A história em si é boa, com uma certa dose de ação e tal, mas acho que o ponto forte do livro é realmente o que ele tenta trazer como questionamento. Mostra que, como já é de costume, o ser humano só valoriza algo quando perde. Enquanto há vários animais por aí, ninguém liga. Quando praticamente todos morrem, ter um animal de verdade (e não um elétrico) vira sinônimo de ter um elevado status social.

Além disso, traz o maior questionamento: o que diferencia o ser humano de um androide? Achava-se que seria a empatia, mas será mesmo?

Tirando algumas coisas que eu não entendi bem, e que poderiam ter sido explicadas com mais detalhes, é um bom livro. ??
Edméia 08/10/2021minha estante
*Tenho dificuldade para entender livro no gênero sci-fi ! Li "Matéria Escura" e muita coisa não entendi ! Ignorância minha ! Preciso aprender a entender e gostar deste gênero literário também, Gustavo Rodrigues ! Boas leituras pra você ! Fiques com Deus. Um abraço. (Estou adorando o livro "A Leste do Éden " do escritor John Steinbeck que estou lendo ! É o primeiro livro deste escritor que eu estou lendo e pretendo ler mais outros livros da autoria dele !!! Ele é SEN-SA-CI-O-NALLLLLLL !!! ).


Edméia 08/10/2021minha estante
*Ah, voltei ! Este teu comentário me fez lembrar de um livro do escritor asiático Kazuo Ishiguro que eu quero ler : "Klara e o Sol " , editora Companhia das Letras ! Este livro foi lançado no mês de Março deste ano e eu tenho lido e assistido no YouTube bons comentários, resenhas, impressões sobre o mesmo !!!


Edméia 08/10/2021minha estante
*Bom saber que você é pernambucano de Garanhuns ! Minha mãe nasceu num povoado do sertão nordestino , especificamente, na cidade de Palmerina, Pernambuco ! O povoado se chama "Cachoeiras Dantas " ! Você conhece esse povoado ?!


Gustavo Rodrigues 08/10/2021minha estante
Oi, dona Edméia. Muito obrigado pelas indicações! E não conheço o povoado, infelizmente.


Edméia 08/10/2021minha estante
*Bom final de semana, Gustavo ! Boas leituras. Fiques com Deus. Um abraço. - *P.S. - Pena que você não conhece o povoado ! Eu também não o conheço ! Aliás, não conheço nenhuma cidade das regiões norte e nordeste do Brasil ! Quero muito conhecer Pernambuco ! Afinal , o sangue dessa terra corre solto nas minhas veias !!!


Brujo 08/10/2021minha estante
Sobre vc não ter entendido bem alguns pontos, vai se acostumando... Se tem uma coisa que o PKD faz em seus livros é plantar dúvidas nas cabeças de nós pobres leitores, talvez pra estimular nossos questionamentos. Eu adoro essas " pulgas atrás da orelha " que os livros dele deixam !


jusousan 09/10/2021minha estante
É um clássico que eu adorei igual! Plantar na cabeça dúvidas e nos fazer questionar várias coisas, na minha opinião, é ótimo. Ficar refletindo sobre o livro após a leitura é o diferencial. Outra coisa, que fofinha dona Edméia viu


Gustavo Rodrigues 09/10/2021minha estante
Entendo, Brujo. Os próximos livros dele já vou ler sabendo disso ?

Sim, Ju! De fato deixa a gente pensando sobre algumas coisas.




Otávio - @vendavaldelivros 09/11/2020

“Você será requisitado a fazer coisas erradas não importa para onde vá. É a condição básica da vida, ser obrigado a violar a própria identidade. Em algum momento, toda criatura vivente deve fazer isso. É a sombra derradeira, o defeito da criação; é a maldição em curso, a maldição que alimenta toda vida. Em todo lugar do universo.”

“Androides sonham com ovelhas elétricas?” é, talvez, um dos títulos de livros mais peculiares da história da literatura. Nada que surpreenda vindo do autor Philip K. Dick, um dos maiores escritores de ficção-científica de todos os tempos. O título a princípio “nonsense”, tanto pelo contexto, quanto pelo fato de ser uma pergunta, nunca é respondido no livro, mas dá a tônica de uma ficção que, mais do que entreter, se propõe a fazermos questionamentos sobre nossa forma de enxergar a vida.

Escrito em 1968, “Androides sonham com ovelhas elétricas?” conta a história de Rick Deckard, um caçador de recompensas do departamento de polícia de São Francisco no século 21. O mundo passou por uma grande guerra mundial atômica e quem não emigrou para Marte ficou por aqui, respirando ares poluídos, tendo suas capacidades físicas e mentais afetadas e trabalhando e mantendo uma sociedade em ruínas e praticamente sem animais (um cenário assustadoramente possível nos tempos atuais).

Rick tem como missão caçar androides fugitivos das colônias humanas, que são absolutamente semelhantes aos humanos fisicamente, com a diferença da falta empatia. Androides não possuem empatia e é isso que permite que caçadores como Deckard possam “testá-los” e “aposentá-los”, que no segundo caso é um eufemismo para destruí-los. Em especial, Blade Runner narra a busca de Deckard por seis androides Nexus-6, uma versão atualizada, mais moderna e mais perigosa.

Um livro curto, rápido e de fácil leitura normalmente não teria tantas camadas filosóficas, mas não é o caso dessa obra de Philip K. Dick. Aqui, toda ação desperta um questionamento e tem fatores muito mais complexos que se unem, formando uma teia e um universo complexo. A valorização da vida dos animais, a religião de Mercer, a busca pela liberdade dos androides, a segregação de humanos ditos especiais, a percepção do que deve ou não ser considerado uma vida etc.

Eu tinha certo receio em ler Philip K. Dick porque, em algum momento, acabei acreditando que seria uma leitura de Sci-fi parecida com a trilogia Neuromancer de William Gibson (que, devo confessar, é muito supervalorizada). O receio foi por terra assim que encontrei em “Androides Sonham com ovelhas elétricas?” uma leitura fluída e de fácil entendimento, mesmo de conceitos de futurismo. O desenvolvimento de personagens fica ainda mais valorizado quando o próprio Dick fala que suas inspirações passaram sempre por pessoas reais que estiveram em sua vida.

Blade Runner (nome escolhido pela Aleph nessa edição e que faz referência ao filme baseado no livro) nos coloca em posições de dúvida e questionamento. Será que hoje valorizamos a vida e a natureza que temos? E, afinal, o que é a vida? Qual nossa real identidade? O que nos torna vivos e nos faz reconhecer vida em outras espécies? E mais, com que tipo de empatia nos direcionamos aos outros seres desse planeta? Philip K. Dick não dá a resposta, mas entra em nossa mente, por caminhos profundos e muitas vezes obscuros, revelando “androides” escondidos e nos perguntando: O que é a vida pra você?
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Henrique 29/04/2014

Análise SEM spoiler
Antes de tudo, duas notas essenciais:

I. É um daqueles livros vivos que, conforme é lido, vai selecionando um apanhado de emoções diretamente da mente do leitor. Feito isso, o livro, com mãos como as de ninguém, guia o leitor à descobertas que colocam diante dele toda sorte de crenças e ideias que ele possui e o leva a questionar a própria essência de sua existência e seu código moral.

II. É um daqueles autores que não podem ser equiparados a outros, que não pode mais ser encontrado e ao qual só podemos recorrer por meio do que deixou quando se foi, que nos leva para o núcleo do ser e do existir.

Sobre a Obra

Durante o período que ficou conhecido como Guerra Mundial Terminus, uma investida nuclear traz à tona um cenário pós-apocalíptico no qual grande parte da população de seres vivos foram mortalmente afetados pela radiação, restando muito poucos.

Para proteger a raça humana da extinção, a ONU incentiva a emigração para colônias fora do planeta Terra, especificamente para Marte. Para encorajar as pessoas a emigrarem, foram criados os androides-serviçais que estão à disposição dos que decidem emigrar. Com o tempo, por serem feitos de material biológico e serem periodicamente otimizados, os "andros" tornarem-se visivelmente quase indistinguíveis do ser humano e com uma memória assustadoramente "humana".

A maior parte das pessoas que decidiram viver na Terra, mesmo com a constante poeira radioativa que "cai do céu", vivem em cidades desordenadas e decadentes, sempre passíveis de adoecerem pela radiação. Os animais são escassos e, por ser uma atitude socialmente vista como incentivo à empatia e agregadora de status, muitos adquirem animais a altos preços. Aqueles que não podem dispor desse luxo, optam pelos animais sintéticos, bastante verossímeis e consideravelmente baratos, podendo assim manterem um status de fachada.

Na trama principal, temos Rick Deckard, um caçador de androides por recompensa, que precisa capturar 6 androides do modelo Nexus-6, última geração, que como muitos androides fugitivos, estão se passando por seres humanos no planeta Terra. O que deveria ser uma caçada rotineira, se transforma em uma experiência que coloca sua vida em risco e o leva a confrontar-se com questionamentos que ele sequer havia cogitado fazer. Em uma trama secundária, temos John Isidore, um homem considerado "especial" por possuir uma inteligência abaixo do considerado normal, sub-desenvolvida, mas que conseguiu um emprego em uma oficina para concertos de animais sintéticos e leva uma vida solitária, até que um novo e intrigante morador torna-se seu único vizinho.

Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas? e sua Aplicação na Vida Real

+ O mundo precisa do Dick e de outros nomes novos

Dick é bom no que faz. Ele é responsável por aqueles livros que, mesmo tendo uma lista imensa de livros para ler até o fim da vida, nos fazem prometer relê-los.

E precisamos de homens e mulheres como o Dick, e por "como o Dick" não estou dizendo "iguais ao Dick" e sim "tão bons naquilo que fazem quanto o Dick era no que fazia". Um autor ou autora que escreve chick-lit, por exemplo, pode ou não ser bom em fazer o que faz. Nesse caso, eu citaria o livro O Diabo Veste Prada, um chick-lit que põe outros no chinelo pela qualidade da trama e personagens, que não te dão aquilo que você espera, mas vem acompanhados com alta dose de fator surpresa, sendo divertido e transmitindo valores ao mesmo tempo.

Seja um Young Adult, infanto-juvenil, terror, fantasia, sci-fi, HQ, mangá, auto-ajuda, biografia ou qualquer outro segmento, o que fará com que o resultado final valha a pena ou agregue valores é o fator "dedicação", que vai desde uma avaliação do próprio autor daquilo que ele pretende e do preparo necessário para fazer com que seu investimento transforme-se no seu melhor, sem se preocupar com a demanda ou com o que está em voga, mas com o "tornar-se bom no que faz".

+ Sobre criar ovelhas elétricas, ficção e a próxima geração

- Ovelhas Elétricas
Somos bombardeados, todos os dias e de todos os lados, por "ovelhas elétricas", acompanhadas com promessas de conforto, felicidade, satisfação. A mídia nos diz que se usarmos isso, ingerirmos aquilo e dirigirmos tal veículo ou adquirirmos o mais novo lançamento e a mais recente promoção, seremos felizes. Mas, a mídia precisa que você acredite nisso, que dependa desses artigos, afinal são o que a mantém de pé. É aí que entra o senso crítico, indispensável nos dias que se desenrolam, onde viver em sociedade está se tornando cada vez mais off-line.

Um dos elementos que fazem com que os indivíduos humanos sejam sociáveis entre si, é o senso que temos do sofrimento e das necessidades do outro. A capacidade quase mágica de sentir o que o outro sente ao tomar conhecimento de sua dor ou de sua alegria, mesmo sem conhecê-lo. Numa síntese, o poder de estar no mesmo lugar emocional em que se encontra o outro ao ficarmos ciente deste "lugar".

Estamos vivendo, literalmente, em um BUM! tecnológico. Essa expansão é tão gigantesca e onipresente, que comer, dormir ou se exercitar são postos em segundo plano (ou em plano algum), ainda que sejam necessidades, inerentes à fisiologia humana. A saúde física e mental são depositadas no altar da satisfação imediata, da diversão sem medidas e do ganho fácil. As crianças e os jovens estudantes já não estão ansiosos por encontrar este ou aquele colega de classe, mas em abandonar a classe para encontrar uma infinidade de "amigos" virtuais e, ainda que estejam fisicamente "desconectados", estão mental e emocionalmente conectados, pois o que ocorre durante essas conexões estende-se para os diálogos que desenvolvem com outros e a experiência extra-virtual são, na verdade, uma extensão da mesma. Um círculo perigosamente vicioso se considerarmos que eles serão os adultos "responsáveis" pela próxima geração.

- Ficção e Empatia
Uma pesquisa feita recentemente a respeito do papel da literatura de ficção na vida das pessoas aponta, como o maior dos benefícios que a mesma pode fornecer, o aumento e aperfeiçoamento da empatia.

"A ficção é uma simulação do mundo social que nos permite experimentar (ao menos por meio da imaginação [de um modo emocionalmente real]) uma variedade de circunstâncias sociais com diferentes tipos de pessoas que nós podemos encontrar no cotidiano", diz o psicólogo cognitivo Dr. Keith Oatley. Temos, na literatura, um verdadeiro campo de simulação para diversas ocasiões da vida cotidiana, acessível à crianças, jovens e adultos.

- A Geração que está Chegando
Vejo o futuro sob uma perspectiva bastante pessimista, adultos infantilizados, emocionalmente incapazes, frágeis, violentos, covardes, imaturos, incapazes de conectarem-se com a realidade sem a muleta tecnológica. Vejo um futuro de pessoas dependentes da tecnologia, escravos dela. É para esse futuro caótico que apontam as evidências, um futuro onde "ovelhas elétricas" estão à venda por um preço mais acessível e que, cedo ou tarde, vão manifestar algum defeito, talvez, irreparável.

+ Humanos entre androides: sobre como a sociedade pode drenar nossa empatia

É assim que me sinto, um humano entre androides. É uma sensação que quero cultivar até o fim, quero viver e morrer como humano, não como um autômato.

Na obra em questão, em um mundo que acabara de enfrentar o caos que dizimou diversas formas de vida, incluindo a de seres humanos, a humanidade ainda encontra espaço para banalidades, como viver de aparências, por exemplo. Mas, como Dick nos faz enxergar, o ser humano tende a tomar decisões erradas, desde aquelas que levaram a uma guerra nuclear de proporções universais, àquelas que visam subjugar uma classe por não possuir isso ou aquilo, geralmente, envolvendo dinheiro. A bem da verdade é que, provavelmente, isso sempre vá existir. As pessoas estão sempre buscando modelos para seguir e, mais uma vez, tendem a encontrar moldes errados, parcos, que dão à vida um cheiro de morte.

Em Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas? temos uma sociedade caótica tentando sobreviver em um mundo caótico, e esse caos deveria despertar a empatia, aproximar os seres humanos, ao invés disso, a ganância continua a imperar, o que pode ser visto na produção de animais elétricos (usados para manter as aparências, já que é símbolo de status na sociedade possuir um animal) e a produção de androides, que apesar do propósito inicial, encorajam pessoas a emigrarem para preservar a espécie humana, passam a ser criados tendo como propósito o lucro, mesmo depois de os androides se tornarem potencialmente perigosos para a humanidade. Mais uma vez, a estupidez se manifestando na forma de ganância, o monstro que possivelmente levará a raça humana à extinção tal qual nós já extinguimos outras formas de vida.

Não sou, nem de longe, um "anti-tecnologia", mas não sou surdo aos ruídos que revelam o quanto o avanço tecnológico está desumanizando as pessoas, mesmo aquelas que vieram de uma época mais sadia, mais "tete-a-tete, face-a-face". Admiro muitos dos avanços científicos que estamos presenciando e as conquistas que estão sendo feitas, pessoas e grupos de pessoas indo em busca dos seus direitos, por justiça, por igualdade, por um mundo onde preconceitos sejam tão asquerosos quanto chorume. Em contra-partida, fico estarrecido com outros aspectos da sociedade, que parecem varrer o respeito, o apreço ao conhecimento, à cidadania. Não tenho TV em casa, por opção, por isso não acompanho telejornais, também por opção. No entanto, faço uso da internet para manter-me atualizado quanto aos acontecimentos, é muito mais fácil peneirar o que se vê ou lê e determinar fontes confiáveis. Mas, ainda que não dispusesse desse aparato, eu mesmo vivencio as consequências de uma sociedade onde o sexo e o futebol são supervalorizados e infantilmente utilizados, para não dizer primitivamente. Uma demonstração disso no Brasil é a baixíssima audiência que possui a TV Cultura, considerada a segunda maior emissora do mundo em termos de qualidade porém, com pouquíssima audiência. Por outro lado, a rede Globo é a segunda maior emissora do mundo em audiência, mas se considerarmos a "qualidade"... Sendo irônico, talvez isso se deva ao fato de a TV cultura não enfatizar o futebol e banalizar o sexo. Bem, não vou entrar nessas terras.

Precisamos estar atentos a um dos atributos mais importantes que possuímos: a empatia. Ela nos diferencia das máquinas, dos avatares e faz parte do que nos define como seres humanos, portanto, não deixemos que os interesses de grandes empresas definam o que somos.

Por fim...

Há outros aspectos a serem avaliados em Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas?, como a questão da importância de estarmos cientes de nossa humanidade, a fundamentalidade que está encerrada nos questionamentos que precisamos e fazemos, nos valores que determinamos como relevantes, no relacionamento que mantemos com o ambiente, no quanto estamos dispostos a deixar que a sociedade e seus arquétipos determinem como devemos viver e o que nos faz felizes. Recomendo a leitura desse livro e, sem dúvida, será uma boa leitura.

- Philip K. Dick é considerado o melhor autor de ficção científica do mundo.
- Androides Sonham Com Ovelhas Elétricas? é mais conhecido por ter inspirado o filme Blade Runner - O Caçador de Androides.

Por Henrique Magalhães

site: http://pilulasliterarias.blogspot.com.br/
Luci Eclipsada 22/05/2014minha estante
Chegando ao final do livro. Não li sua resenha toda com medo de ver partes importantes do enredo reveladas, mas assim que terminar de ler o livro farei um comentário melhor.
:)


Bianca 06/08/2014minha estante
Eu preciso muito ler esse livro *o* Amei a história e a resenha!


Andre.Klawa 20/12/2016minha estante
Já pensou em escrever? Ou você é escritor? O aplicativo Wattpad é bem legal, creio que você poderia escrever e divulgar! Tua resenha é sensacional!


laloarauxo 27/04/2020minha estante
Excelente análise!
Estou com o livro esperando na fila há pelo menos um ano.
Pretendo ler em breve, faço Licenciatura em Filosofia e deve ter uns gatilhos filosóficos bacanas.


Eduarda.Mussoi 12/07/2020minha estante
gostei mt da sua análise!! blade runner é uma das minhas próximas leituras


laloarauxo 12/07/2020minha estante
Você vai gostar!
Eu li essa semana e gostei muito... fiquei com saudades de Rick Deckard ao fim da leitura.




Mari 13/03/2024

Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?
Acompanhamos em paralelo à história de Deckard (caçador de recompensas) e Isidore (um cabeça de galinha) que posteriormente se cruzam. Por ser um livro curto e toda a história ser decorrida em um dia, a narrativa se torna bastante objetiva. Temos com palco para a narrativa uma terra pós-guerra atômica, destruída, desértica e altamente afetada pela poeira radioativa.
Deckard é encarregado de “aposentar” androides que fugiram das colônias espaciais para a Terra. Esses androides são extremamente avançados, quase indistinguíveis dos humanos, a não ser por um teste chamado teste de empatia. Eles devem ser caçados, pois são considerados ameaças para a sociedade e, para fugir, geralmente precisam cometer crimes contra os humanos.
Enquanto tenta concluir sua missão, Rick lida com diversos dilemas éticos e filosóficos sobre a distinção entre humanos e androides.
Pela necessidade de se sentir útil, Isidore dá abrigo aos três últimos andys aos quais Deckard procura e assim suas histórias se cruzam. A maior motivação de Rick é a recompensa de mil dólares por cabeça. Concluindo a tarefa, ele terá dinheiro para adquirir um animal de verdade, que é um grande sonho, já que nessa terra pós-apocalipse a maioria dos animais foi extinta e a posse de um é vista com símbolo de status e empatia.
É uma leitura prazerosa por ser rápida e fácil, mesmo apresentando um mundo distópico, é de fácil entendimento. Senti falta de desenvolvimento para alguns assuntos, como o Mercerismo e o relacionamento entre Deckard e sua espora, Iran.
Em suma, é uma grande leitura e um ótimo livro.
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Andre.28 14/04/2024

Uma boa premissa, personagens interessantes, exceto por algumas poucas escolhas de enredo
Sendo objetivo: o livro é bom, mas há partes que poderiam ser enxugadas. O fluxo narrativo é bom, embora o leitor precise comprar a ideia do autor. A premissa do caçador de androides é bem interessante, o mundo pós guerra que quase destrói a humanidade em um ambiente subdivido em classes artificiais é construído dentro de uma plataforma boa, um ponto positivo da narrativa. O ponto negativo, na minha opinião, foi o excesso de foco nos animais elétricos. Se voltasse a descrever a vida dos humanos remanescentes da poeira radioativa e a explorasse mais as descrições dos androides caçados eu acho que substituiria bem essas passagens e esse enfoque nos animais. Outro ponto positivo diz respeito ao mercerismo (uma espécie de religião misturada ao uso da fantasia como um "entorpecente), que foi muito sagaz, ambientado muito brilhantemente pelo autor. É um livro pra ser lido aos poucos, para se ir comprando a ideia, para ir se imergindo e percebendo os dilemas e nuances dos personagens.
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edisik 02/02/2023

O que falar de Blade Runner, o livro na realidade é curtinho mas engloba toda uma ação que foi bem mostrada no filme de 1982.
Fernando128 02/02/2023minha estante
O livro realmente é melhor que o filme como dizem?


edisik 02/02/2023minha estante
Eu gosto mais do filme.




@LuanLuan7 17/03/2021

Empolgante
O que mais chama atenção na história é o cenário descrito: o ano é 2019, o planeta Terra encontra-se devastado por uma grande guerra que resultou em poeira tóxica, animais extintos, carros voadores, colonização de Marte e andróides muito parecidos com humanos.

O livro também fala do um imenso vazio que se manifesta nos prédios, precipícios, ruas, nos circuitos dos andróides e nos corações humanos.

No ano em que foi escrito não havia celular ou internet, o que explica o uso de telefones fixos na história, e a falta de informação das pessoas mesmo em um futuro tão tecnológico.

As cenas e os diálogos são permeados de bom humor.
Há bastante ação e a história toda se desenrola em um período de 24h.

Vale a leitura!

?Afinal, o que distingue um androide de um ser humano? A empatia, ou seja, a capacidade de se importar com o próximo. Para não perder essa capacidade é que surgiu ? K. Dick não explicita como ? o culto a Wilbur Mercer.?
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Gael3805 31/01/2024

Humanos sempre serão humanos
Pessoas sempre vão ser pessoas. Seja no planeta terra como conhecemos, seja numa terra futurista e abandonada.

Os dilemas e instintos sempre serão iguais, mesmo em contextos diferentes, mesmo sem nenhuma similaridade entre ambientes, os pontos de ruptura são sempre os mesmos, porque eles partem da essência humana que independe de qualquer outra coisa.

Em um mundo onde parte da raça humana foi deixada para trás na terra após uma guerra, acompanhamos um protagonista que é quase obcecado por animais, uma vez que estão quase extintos no mundo atual, ter um animal de verdade é a maior motivação de vida para ele, que ganha dinheiro caçando androides rebeldes, que vivem entre a sociedade terrestre disfarçados de humanos.

Eu gosto muito da forma como é feita essa mistura de elementos. Uma terra abandonada e assolada por destroços e poeira tóxica ao pé em que os humanos que ainda a habitam precisam encontrar um novo ritmo de vida que faça sentido e tenha propósito, vivendo na escassez de muitos recursos e tendo que conviver com androides humanos e animais.

A empatia humana é a coisa mais importante nesse novo mundo. É o sentimento mais poderoso que existe ao ponto de literalmente conectar milhares de pessoas ao usarem suas máquinas buscando conexão, propósito e se sentirem melhores. Além disso, a empatia é também uma das únicas coisas que diferencia humanos de androides.

Esse sentimento é o ponto central da existência coletiva, e quando ele deixa de fazer tanto sentido e se confunde, é aí que o protagonista começa seu dilema. E é uma jornada bastante interessante de se acompanhar. Ter sua segurança em risco, seu trabalho em cheque, seus valores e sentimentos questionados em meio a uma paranóia e incerteza crescente.

É também muito interessante o contraste com a realidade. A obsessão do protagonista em ter um animal de verdade, de carne e osso, sendo que parece algo tão banal pra quem lê. Além disso, acho que em uma interpretação mais profunda dá até pra concluir que essa busca dele nada mais é do que uma busca por si mesmo, por mais humanidade.

Acredito que alguns pontos poderiam ser melhor explicados, ainda assim é uma experiência espetacular.
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helodoll 12/12/2023

Blade Runner
Em Blade Runner, a obra-prima de Philip K. Dick, somos transportados para um futuro pós-apocalíptico, onde a Terra, devastada por uma guerra nuclear, enfrenta a extinção da vida animal. Nesse cenário, Rick Deckard, um caçador de recompensas, protagoniza uma jornada existencial, caçando androides rebeldes e desencadeando uma reflexão filosófica profunda sobre a natureza da vida, solidão e identidade.

A escrita de Dick, marcada pela profundidade psicológica e abordagem filosófica, constrói um mundo distópico vívido e desconcertante. A edição da Aleph, com sua tradução precisa e acabamento de qualidade, eleva ainda mais a experiência literária, tornando "Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?" uma leitura essencial para entusiastas de ficção científica e para todos que buscam contemplar as complexidades fundamentais da existência humana.
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Wayner.Lima 14/07/2020

Leia o livro antes de ver o filme
Sou órfão do Douglas Adams e ainda não superei a despedida abrupta em O Salmão da Dúvida. Na verdade adiei a leitura desde último e até me lancei a ler uma biografia do Adams na tentativa de prolongar o prazer maluco de ler as histórias absurdas, de uma ficção cientifica crítica e de fazer gargalhar. Talvez também por conta desse apego eu tenha postergado a leitura de tantos autores reconhecidamente talentosos, cujos livros eu até já tenho. Foi assim com o Philip K Dick. Qualquer pessoa, no mundo ocidental, que tenha por volta de trinta anos ou mais, com mínimo interesse por filmes ou que tenha sido forçado pelas circunstâncias da década de 90 a assistir o que passava na TV aberta, deve ter visto algum filme ou série baseada na obra do Philip. Melhor: É impossível que você tenha sido exposto aos filmes da década de 90 e não tenha conhecido algo da obra de K DIck.

Peguei a versão em ebook por acaso, da lista de obras disponíveis no prime reading, num sábado a noite enquanto esperava no quarto de filhos que eles pegassem no sono. Li o primeiro capítulo, as crianças dormiram e não me dei conta, li o segundo, ia iniciar o terceiro quando percebi que as crianças já estavam num sono pesado. Li 40% do livro nessa noite, mais uns 20% no dia seguinte no tempo que tive disponível e nesse ritmo terminei o livro em cerca de três dias. Se eu tivesse me dedicado, teria terminado em dois. Talvez tenha sido a saudade de um texto leve como o Mochileiro do Adams, talvez a ingenuidade do futuro imaginado pela geração dos anos 50 ou a história simples mas bem escrita, mas algo me prendeu instantaneamente e me fez avançar de uma forma que eu não conseguia a anos: entrar tanto no livro que deixo de perceber que estou lendo.

O ambiente pós apocalíptico, a estranha fixação do protagonista com a ovelha elétrica que possui, a religião apresentada como ápice da capacidade humana de sentir o outro, o ?bagulho?. Todos os elementos levam você para esse mundo, te conduzem a visualização de um mundo confuso, complicado e extremamente cativante. Você se sente curioso para descobrir o que cargas d?água é o mercerismo, qual é o motivo dessa fixação toda com animais criados em terraços, como irão se cruzar as histórias dos dois personagens apresentados no início da trama. Talvez a conclusão não seja tão brilhante e muitas perguntas fiquem sem resposta, mas o caminho até o fim foi tão interessante que você não se sente decepcionado.

Eu particularmente nunca assisti Blade Runner, ouvi falar muito bem, professores na universidade recomendavam, mas eu nunca fui lá e assisti. Assistirei tão logo termine de ruminar a leitura de ?Andróides sonham com ovelhas elétricas??. É bem provável que eu não vá curtir, mas ao menos uma coisa é certa: se o filme mantiver a essência da obra que a inspira, o teor filosófico impregnado numa história simplista, certamente será uma boa experiência..
Amanda 19/07/2020minha estante
Me motivou a ler!!




Paula 09/08/2020

Qual a diferença entre o ser humano e a máquina?
A empatia.
"Você tem que estar com outras pessoas, ele pensou. Para que possa se considerar vivo."
Muito bom!!
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Francisco 06/04/2023

Andróides e ovelhas elétricas
Apesar de ser uma história de ficção científica com quase sessenta anos, nos traz alguns questionamentos sobre como o comportamento humano determina a degradação da população terrestre tendo em vista que nessa utopia a humanidade está colonizando outros planetas do Sistema Solar após um acidente nuclear aqui na Terra.

Nesse contexto, Rick Deckard é um policial de São Francisco que é responsável pela captura e eliminação de andróides, trabalho esse remunerado de forma bastante satisfatória. Seu apreço por animais elétricos é incomensurável já que o acidente nuclear provocou a extinção de muitas espécies de animais. Deckard é designado para caçar os andróides Nexus 6, fugitivos de um planeta colonizado do Sistema Solar.

A história nos traz questionamentos e reflexões muito pertinentes sobre alienação, religião e as atitudes ruins nas relações interpessoais. Portanto é um livro que recomendo com a ressalva de que é essencial que o leitor leia sem fazer comparações com o filme dirigido por Ridley Scott e que em muitos aspectos difere da obra literária.
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mistterkat 21/04/2023

Às vezes uma reação adequada à realidade é enlouquecer
O protagonista da história é um personagem intrigante. Seu nome é Rick Deckard, um caçador de recompensas contratado para "aposentar" androides rebeldes, que são muito avançados, quase indistinguíveis de humanos.
Se a franquia de filmes já é considerado um conteúdo de "nicho", esse livro é muito mais. Pois é realmente para quem gosta muito.
Crislane 21/04/2023minha estante
Amei esse livro


Lydiane3 21/04/2023minha estante
eu prefiro o filme! raro de acontecer mas acontece haha o livro fala mais de animais reais do que de robôs! no filme foca mais na parte dos robôs! acho que é por isso que eu me decepcionei com o livro!




Hiego 21/07/2022

Rick Deckard é um caçador de recompensas, vivendo em uma San Francisco decadente, coberta pela poeira radioativa que dizimou inúmeras espécies de animais e plantas. Um novo trabalho pode ser o ponto de virada para melhorar seu padrão de vida e realizar seu sonho de consumo: uma ovelha de verdade, para substituir a réplica elétrica que ele cria em casa. Para isso, Deckard precisa perseguir e aposentar seis androides que estão foragidos, se passando por humanos
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