stsluciano 24/03/2014
Uma grata surpresa
Quando li as primeiras notícias sobre a produção de Intelligence, o que mais me chamou a atenção foi a presença, no elenco da série, do ator Josh Holloway. Eu sou fã de Lost, muito! Lost é vida, e Sawyer – personagem vivido pelo Holloway - é o mais fodão de toda a série, e, certamente, o personagem melhor construído. Estando perto de finalmente terminar a série – estou na sexta e última temporada – ter um novo produto com o ator foi como um presente.
Em Intelligence, Holloway é Gabriel,um soldado de elite das forças armadas americanas que possui uma mutação genética rara, que permite que se façam neles alguns upgrades tecnológicos que o deixam mais rápido, forte e etc., mas seu principal “truque” é que ele se torna um ponto de wi-fi ambulante que apenas ele pode acessar, buscando em tempo real perfis de suspeitos, mapas, e, inclusive, imagens de satélites. Tudo muito interessante, e, apesar de um ou dois episódios fracos, a série me manteve animado.
Até que recebi o “Fênix: A Ilha”, da Editora Novo Conceito, e, se a capa do livro já me chamou muito a atenção, fiquei ainda mais surpreso com a chamada “O livro que deu origem à série Intelligence”. Eu tinha que ler aquilo logo!, e foi o que fiz.
Um primeiro ponto a se comentar é que a série não é uma adaptação literal do livro, e eu agradeço por isso, então se já assistiu a algum episódio, fique tranquilo, o que encontrará no livro será tudo novidade, e vice-versa. De certa forma, os criadores da série utilizaram a ideia central do livro, mas optaram por seguir um caminho diferente depois disso.
No livro, conhecemos Carl Freeman, um garoto encrencado, que passara por dezenas de lares adotivos, instituições para menores, abrigos e etc. e, em sua última façanha, nocauteara meia dúzia de jogadores de futebol americano na escola onde estudava. Sozinho. O juiz atenta para o fato de Carl sempre justificar sua atitude da mesma forma: “eles não quiseram parar”, e havia em suas ocorrências componentes recorrentes, que era a figura do valentão e do garoto perseguido e humilhado por todos.
É fácil ligar os pontos e perceber que o briguento Carl – que coleciona vitórias como lutador juvenil de boxe – é um bom rapaz, e que age sempre para proteger alguém que precisa de amparo, e que está sendo humilhado. Ele é bem diferente do adolescente problema, turrão, birrento e desbocado. Carl, praticante do boxe como é e já vacinado pelas milhares de vezes em que teve que justificar suas ações frente à adultos, sendo reprimido em todas elas, sabe que mesmo se falar muito não conseguirá sair ileso, então é econômico nas explicações.
O mais complicado - e interessante- é entender as razões pelas quais ele chama os garotos em quem bateu de “eles”, mesmo quando só havia um deles na briga. Isso quer dizer que ele generaliza determinado perfil, e não consegue se controlar quando se depara com esses garotos protagonizando uma situação de abuso. Interessante isso, e diz muito sobre ele.
Bom, a narrativa do livro se desenrola quando ele é enviado, como punição, para uma ilha, a Fênix, um tipo de acampamento militar para adolescentes problemáticos, onde terá de ficar até atingir a maioridade, com a promessa de sair de lá com a ficha limpa e a possiblidade de recomeçar do zero. Mas ele logo desconfia do lugar: ninguém sabe ao certo onde estão, e, para chegar até lá, pegaram um avião no meio do México, a vida selvagem é extremamente hostil, com direito a aranhas enormes, há uma cerca elétrica cortando a ilha ao meio e os instrutores são ainda mais rigorosos que se esperaria de um lugar como aquele sendo os castigos físicos constantes. A todo momento ele se pergunta no que acabou se metendo.
Como se não bastasse, ele ainda ganha de cara a antipatia do instrutor mais linha dura do lugar, que faz de tudo para que: a) ele saia da linha e tenha de pagar inúmeros castigos; e, b) saia da linha e assim possa castigar também os outros garotos “com os cumprimentos do Sr. Freeman”, fazendo com que o restante da turma também o odeie.
O que faz com que Carl ganhe a alcunha de Hollywood, porque, segundo o tal intrutor, Parker, ele é um “indivíduo”, se acha melhor como os outros, e, uma hora, imagina, e sob constante vigilância e castigos, ele terá de aprender a força que tem a coletividade, e pensar menos em si mesmo.
Eu gostei, muito! Sério! O livro é bem narrado, e, tendo um protagonista boxeador, fica claro que cenas de ação e, em especial, lutas serão constantes, e todos sabemos o quanto elas podem nos decepcionar – vide a dona J.K. Rowling, que no “Harry Potter e as Relíquias da Morte” deixa o pau comendo solto nos jardins e corredores de Hogwarts enquanto focava na busca de Harry por um artefato mágico. Eu queria ação, por isso fiquei tão emocionado e grato pelo embate entre Molly e Belatriz. – em Fênix: A Ilha, as cenas de luta são muito bem desenhadas e o leitor não tem dificuldade alguma de acompanhar os movimentos e imaginá-los com nitidez. E isso é um oferecimento do autor ex-pugilista, que faz toda a diferença e nos brinda não apenas com uma bela demonstração de socos e esquivas – e seus efeitos em Carl como atacante e em seus adversários - mas também nos dá uma bela aula de boxe, indicando como movem a cabeça, onde estavam posicionados seus pés, como se moveram, enfim, a partir de agora este é meu padrão de qualidade para cenas de lutas.
Há mistério o suficiente no livro para deixar o leitor ansioso pelas próximas páginas, mas acredito que Carl é um personagem tão marcante que ele fica acima disso. Como figura ele é maior. Torci por ele quaisquer que fossem as situações, mas nem por isso deixei de achá-lo um pé no saco em determinada passagem. O livro também tem personagens ricos, que ficam orbitando ao redor da imagem que fazemos de Carl, e, enquanto algumas dessas relações são bem nocivas ao protagonista, outras são o que fazem com que ele mantenha a sanidade em um clima de uma hostilidade aberta.
Lá pelo meio da narrativa há um marco bastante claro que divide o livro. Gostei um tanto menos da segunda parte. Nelas são explicadas as razões de os garotos estarem naquela ilha – e finalmente compreendi como o livro se conecta com a série de tv – e Carl tem de tomar decisões. Aconteceu com Fênix o mesmo que aconteceu com Lost: enquanto misteriosa, a ilha era bem mais intrigante.
Mas, no fim, tem-se um bom livro, bastante competente para ser o primeiro de uma série. Carl se mantém íntegro e não nos decepciona. Se um personagem forte é um bom caminho para a construção de uma série, então John Dixon começou muito bem.
site: http://www.pontolivro.com/2014/03/fenix-ilha-fenix-livro-01-de-john-dixon.html