Queria Estar Lendo 07/04/2015
Resenha: Proibido
Hoje tem resenha de Proibido, livro da britânica Tabitha Suzuma, vencedor de diversos prêmios, com uma legião de fãs ao redor do mundo e uma obra um tanto quanto polêmica para eu falar sobre.
Primeiro eu gostaria de dizer que não sei ao certo porque esse livro foi tão polêmico para mim. Eu já falei brevemente sobre ele no vídeo do Bookhaul do mês de fevereiro e, agora, muito tempo depois de ler, eu ainda não sei como lidar com ele.
Quero deixar claro que tentei julgar ele como um romance comum, porque o elemento do incesto me fez pensar muito - sim! Eu pensei com um livro "best-seller feito para as massas", toma essa pseudo-cult - e por isso eu queria reservar um espaço no final da resenha para dar minhas conclusões a respeito.
Como a própria sinopse já aponta, Maya é uma garota doce e sensível de 16 e Lochan um garoto inteligente e recluso de 17. Os dois são irmãos, os mais velhos de uma família de cinco filhos, com uma mãe relapsa e alcoólatra. Para impedir que sua família seja despedaçada e separada pelo sistema legal, Lochan e Maya criam os irmãos como se fossem seus pais desde os 12 anos do garoto. Eles sempre foram melhores amigos e acabarem em um romance era quase inevitável.
"Não há leis e nem limites para os sentimentos. A gente pode se amar tanto e tão profundamente quanto quisermos. Ninguém, Maya, ninguém poderá nunca tirar isso da gente."
O livro é contado por dois pontos de vista, o do Lochan e o de Maya. Desde o começo, quando percebem como se sentem em relação um ao outro, eles entendem que aquilo é errado. Que não podem ficar juntos, que serão julgados pela sociedade, pelo sistema legal e que colocarão em risco sua família, caso sejam pegos.
Mas, é claro, isso não os impede de seguir em frente com seus sentimentos.
"Antes que existisse qualquer coisa, existia Lochan."
Eu gostei bastante do ponto de vista da Maya. Ela soava confusa, mas ao mesmo tempo resoluta. Aceitava a forma como se sentia e, uma vez que tomou a decisão, não voltou atrás. Maya só queria ser feliz. Ela era a apaziguadora da casa, separando as brigas de Lochan e Kit - seu irmão do meio -, agindo como a melhor amiga de Willa, a mais nova da casa, e sendo a figura amorosa para Tiffin.
Os pontos de vista dela eram coerentes, sensíveis e reflexivos. Já os de Lochan eram caóticos, depressivos e extremamente inseguros.
"Qualquer amor. Francie não é boba. E, no entanto, o único tipo de amor que jamais será permitido nem sequer passou pela sua cabeça. O único que é tão repulsivo e inaceitável que nem é mencionado numa conversa sobre relacionamento proibidos."
Eu não gostei do ponto de vista do Lochan ou dele, como pessoa e personagem. Ele não conseguia manter uma decisão por mais do que cinco minutos, sentia um grande nojo por si mesmo e descontava isso em cima da Maya TODA VEZ. Me desculpe você que leu o livro e amou muito, mas para mim, isso sim é algo abusivo. Não consegui me ligar a ele, de qualquer forma que fosse.
Eu entendo que a diferença entre o ponto de vista dos dois reflete a personalidade deles e que personagens diversos fazem um bom livro. Mas ainda assim, não gosto de Lochan e o motivo não é o incesto.
"Você pode fechar os seus olhos para as coisas que não quer ver. Mas você não pode fechar seu coração para as coisas que não quer sentir."
Não é difícil entender como os dois se apaixonaram. A situação na casa deles, a forma com a qual foram criados, o quanto eles tiveram que crescer em tão pouco tempo, como eles só tinham um ao outro para se apoiar. Como eles foram negligenciados e excluídos, como eles sentiam como se não fossem desejados ou amados. Como se não fossem bons o suficiente para o pai, como se fossem um peso morto para a mãe.
Não é, realmente, difícil entender como eles chegaram até ali. Como as personalidades deles se moldaram. Mas ao mesmo tempo, é tão difícil imaginar se eles se amaram por causa de tudo isso, ou apesar de tudo isso.
"Você sempre foi meu melhor amigo, minha alma gêmea, e agora eu estou apaixonada por você também. Por que isso é um crime?"
A diagramação que a Editora Valentina fez para Proibido foi ótima, simples e delicada. Minha única reclamação é sobre a capa: achei ela molenga demais, muito fácil de amassar. E também, gostaria que eles tivessem mantido a capa "original". Não sou muito fã de mãos em capas, eu sempre acho que o photoshop deixa tudo estranho - vide Crepúsculo.
Se eu recomendo o livro? Bastante! O que me levou a não gostar do Lochan são preferências pessoais, o que quer dizer que você pode gostar. E também acho super válido pela discussão que ele traz e pelo tanto que ele vai fazer você pensar.
Agora, se você não quer pegar spoilers, por menores que sejam, pule essa parte.
Com relação ao incesto, eu pensei muito antes de sair por ai falando. Meu primeiro pensamento foi "que nojo!". Eu tenho um irmão mais novo e uma irmã mais velha e não consigo entender esse tipo de sentimento, tentei me colocar no lugar deles diversas vezes e me deixou extremamente enojada.
Depois, quanto mais lia, mais eu pensei sobre esse "nojo" e porque eu me sentia assim. Maya e Lochan falaram diversas vezes sobre porque o incesto é errado, mas nenhuma das desculpas que apareceram no livro eram diferentes das desculpas que usam para se expressar sobre relações homoafetivas, por exemplo. Não que eu esteja colocando os dois tipos de relação no mesmo patamar, mas eu não acho nada de doentio ou nojento em dois homens/duas mulheres juntos. Eles se amam e estão em uma relação consentida, porque eu acharia isso errado?
Então foi a hora que eu me perguntei sobre o incesto: eles se amam e estão em uma relação consentida, por que seria errado?
"Estando juntos nós não machucamos ninguém; estando separados nós extinguimos nós mesmos."
Sempre que ouvimos falar de incesto, eu achava que o crime existia porque estava sempre atrelado a algo muito pior: uma criança sendo molestada por parentes, por exemplo. O crime é porque foi uma relação incestuosa? Na minha cabeça, era por se tratar de um menor indefeso, abusado por alguém que deveria protegê-lo.
Mas depois de ler Proibido eu descobri que em lugares como a Inglaterra, "consentir com penetração por um membro da sua família" é um crime e você pode pegar até dois anos de prisão por isso!
Eu ainda não sei o que pensar sobre o caso e eu sei que isso sempre vai ser algo polêmico, especialmente por causa da nossa sociedade. Mas queria deixar a pergunta aqui para vocês: por que achamos incesto errado? Por que incesto consentido é um crime? Lembrem-se, também, que por muito tempo o casamento entre primos foi muito promovido entre a nobreza na antiguidade. O que mudou de lá para cá?