Confissões de uma leitora 18/09/2020
Toda vez que me deparo com perguntas sobre preferências de leitura, minha resposta é uma só: gosto do que é bem escrito e do que me cativa.
Esse romance é um belo exemplo disso.
Muito bem escrito, delicado e com uma história de encher o coração.
Há livros que quando terminamos, pensamos: por que demorei tanto para ler?
Nessa onda que estou de ler novos autores, você sabe, aqueles que nunca li pra dar uma diversificada, cheguei a Nina Reis e não poderia ter sido mais feliz.
Essa história é ímpar e tão, tão, linda que é um prazer lê-la. Não um simples, mas daqueles que, enquanto lemos, os olhos crescem e o sorriso se alarga num reflexo inconsciente por estarmos diante de uma trama tocante e com personagens tão contagiantes.
A HISTÓRIA DE NÓS DOIS foi conduzida com maestria, da escrita madura com um quê poético, construindo uma narração delicada, fluída e envolvente, a própria estruturação da história, que é bem amarrada e consistente, apesar de um e outro porém.
Marina nos ganha desde sua primeira aparição, e não estou falando do prólogo – li por último, para ser honesta. Ela é doce de uma forma encantadora, com um coração imenso e cheio de generosidade, mas, principalmente, ela é grata a tudo. E não há nada maior e mais transformador na vida de um indivíduo do que a gratidão. Ela também é refrescante, crente em seus ideais, ainda que sua boca espertinha combinada a impulsividade e seu quinhão de coragem, possa colocar seu bem-estar em risco.
Marina é a representação do bem, do sujeito que com o pouco que tem, usa-o para fazer o bem aqueles que o cerca, lutando pelos mais fracos, fazer sua parte para tornar o mundo melhor e mais justo para todos.
Há também a representação do mal, corrompido pela ganância, pela falta de amor e respeito ao próximo, pelo interesse único e exclusivo em si mesmo, recusando o coletivo.
Há ainda a representação daqueles dissimulados, que escondem por trás de suas vestes de bom moço bem aceitas na sociedade, como é o caso de muitos religiosos, o seu quinhão de vaidade, prepotência e, às vezes, conivência com malfeitores. Esquecendo-se da maior e mais valiosa lição ensinada no livro sagrado: humildade e amor ao próximo.
O livro retrata ainda uma realidade muito presente em cidadezinhas interioranas do norte/nordeste, que são usadas pelo garimpo e exploração das riquezas naturais, explorando os mais fracos e necessitados, onde aparentemente a política e a justiça fecha os olhos quando se trata de resguardar a vida e direitos humanos dos mais pobres.
A conivência com a brutalidade e violência, bem como a vaidade são aspectos sociais muito bem trabalhados, que nos trazem profundas reflexões sobre o coletivo e nós mesmos, qual o nosso papel nesse mundo e o que de fato estamos fazendo.
Marina é a prova de que com pouco, mas um coração enorme, podemos fazer muito, no entanto, também demonstra os riscos e consequências de se fazer o bem.
Amei ver como ela, apesar dos pesares, se reergueu e deu um rumo para sua vida, em como sua essência permaneceu intocável... a forma doce com que o romance se desenrolou, tal qual o amor, respeitando o tempo e espaço um do outro, calmo e paciente.
Uma das coisas que me fascina na leitura é a energia que cada livro emana enquanto estou debruçada naquela leitura. E neste a paciência, suavidade e naturalidade é sentida em cada linha, envolvendo-nos até fluirmos junto com os desdobramentos da história.
Os caras são um caso à parte, o entrosamento deles é muito bom, aliás, toda a parte da ação no livro e sobre a organização dos agentes é espetacular. Sendo honesta, não esperava me encantar por eles a ponto de querer livros sobre cada um, mas cá estou.
Caetano tem meu coração todinho. Não dá pra culpá-lo ou mesmo zombar de suas resistências, pois elas possuem raízes em demônios reais que mantém uma nuvem de perigo permanente pairando sobre sua cabeça em decorrência do seu trabalho.
Mas o amor sempre encontra uma forma para atrair os amados na mesma direção, sobretudo quando os envolvidos estão dispostos a se aceitarem como são e fazer concessões saudáveis, respeitando os limites um do outro. Eu simplesmente amei isso.