Andréa Bistafa 20/08/2014www.fundofalso.comDoce e delicado.
Assim que posso começar a descrever essa obra.
O ano é 1912, David Grahan acabou de ler um livro de poesias que realmente o tocou. A dona daquelas belas palavras precisava saber que tinha um fã. E despretensiosamente (talvez nem tanto assim) resolve enviar uma carta a autora.
O ano ainda é 1912 e Elspeth Dunn acaba de receber sua primeira carta de um fã! E ela veio do outro lado do oceano!
Ilha de Skye é onde ela mora. Fica na costa noroeste da Escócia, é um lugar selvagem verde e pagão, de tamanha beleza que Elspeth nunca havia saído de lá. Já seu correspondente vivia em Urbana, Illinois nos EUA. Um lugar em que nada tem haver com o frescor de Skye.
David e Elspeth criam uma grande amizade, as trocas de correspondência são constante, a cada vinte dias em média, isso apenas pelo fato dos correios da época serem ainda mais lentos que os de hoje! rs
Sabe o que é inocência? Sabe aquela amizade sem malicia, uma amizade de troca de confidencias, uma amizade verdadeira onde um não se importa com a aparência do outro, sem status, nem nada mais do que troca de confidencias; rir, chorar ou apenas não se sentir mais sozinho? Esse é o grau de amizade que surge entre eles e que vai, inevitavelmente, se transformando ao longo dos anos.
Talvez tudo fosse mais simples se Elspeth não fosse casada e se a guerra não estivesse acontecendo.
"Você pode fazer uma coisa para mim? Quando a véspera se transformar no dia Natal, exatamente ao soar a meia-noite, vá até o lado de fora e erga o rosto para a lua. Sinta o gosto dos flocos de neve na boca e imagine que eles são os meus lábios rocando os seus. Irei para o lado de fora exatamente no mesmo instante. Prometo." - pág 123
O ano é 1940, Margaret é filha de Elspeth, e está apaixonada!
Vem trocando cartas com seu amigo (ou mais que isso) Paul que é piloto da Força Aérea Britânica. E infelizmente são tempos de guerra. Não se pode acreditar em nada do que é dito em tempos de guerra. As emoções são tão fugazes quanto as noites serenas.
Mas como Elspeth poderia dar conselhos a filha se nunca foi capaz de contar seu passado a menina, que nem ao menos sabe quem é seu pai.
E então, é essa mesma guerra que trás a tona o passado guardado de Elspet quando uma bomba destrói uma das paredes de sua casa, e cartas e mais cartas voam pelos ares. Ali estavam todas elas, emparedadas pelo tempo. Isso é o suficiente para Elspeth partir em busca do passado deixando Margaret sem saber como encontra-la, agora a menina precisa mais que nunca desvendar os segredos da mãe para poder encontra-la e traze-la de volta em segurança, afinal são tempos de guerra...
Os capítulos da estória são entrelaçados, entre passado e presente. Conforme vamos descobrindo o passado de Elspeth também vamos ligando os pontos no seu presente através das buscas de Margaret. O livro todo é feito de cartas, toda a narrativa são as cartas dos personagens, são conversas entre eles. Deu pra sentir a angústia? Consegui sentir o desespero de esperar noticias do amado em plena guerra. O valor que cada carta tinha, o cheiro que ela trazia. O livro expressa muito bem a magia que uma carta tem.
A autora posicionou muito bem seus personagens em diálogos verdadeiros. O amor acima de tudo? Talvez, mas não deixou de lado a essência dos homens naquela época, a vontade de David em provar ser valente, a ânsia dele por aventura, o modo como trata Els é verdadeiro e não exagerado como nos romances em geral.
Els por sua vez é uma artista, tem a alma leve e valente. Não aceita as imposições da sociedade para a época, não faz grandes revoluções quanto a isso, apenas escreve sobre, o que a torna real e a aproxima muito da maioria das mulheres, aceita mas não concorda. Els vai nós mostrar o que muitas mulheres sentem mais não assumem: a perda de sentimento dentro do casamento. Ela quer ser feliz, ela quer viver um amor de verdade. Mas ela nunca deixou de amar seu marido, ela ama, mas não é apaixonada, não atravessaria o oceano por ele. Não por ele. Mas por David sim.
"Minhas hesitações se diluíram. E então nos encontramos, conversamos, nos tocamos. Qualquer dúvida que ainda persistisse voou para longe. Como poderia estar errada uma coisa que trazia a sensação de ser tão certa?" pág 139
A autora da obra teve um cuidado extra em pesquisar bem os fatos antes de sair escrevendo, fez muitas citações literárias da época, usou palavras condizentes e não notei nenhum fato fora de sua ordem cronológica.
Enfim, passei a madrugada lendo e terminei de um dia para o outro. A diagramação é ótima e a leitura fluida. Bem escrito, bem posicionado, leve e gracioso, com drama na medida certa. Não poderia classificar com menor nota, atendeu todas as minhas expectativa e cumpriu o que prometeu!
E por fim você me pergunta - Quem raios é Sue?
E eu te digo - Vai precisar ler para entender!
"Um livro é um jardim carregado no bolso" - pág 55
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