De Cara Nas Letras 14/03/2015
A Mulher Silenciosa - A. S. A. Harrison
Ganhei meu exemplar através de um sorteio feito no Twitter da editora, e logo que ele chegou me apaixonei pela capa. A partir daí, senti muita curiosidade (pois amo livros com suspense) e decidi colocá-lo como minha próxima leitura. Vou logo alertando: este é um livro de duas faces.
Todd é um empreiteiro de meia-idade e Jodi, sua mulher, uma psicoterapeuta. Como sou daqueles que não gosta de ler a sinopse, simplesmente tive a impressão de que eles eram mais um casal feliz de classe média alta que morava em um belo apartamento de frente para um lago em Chicago. Estava completamente enganado! Durante a leitura, tive a infelicidade de fugir da minha rota e acabei por ler a sinopse. Fiquei muito chateado ao descobrir que todo o enredo está resumido ali, já que praticamente nada fica de fora.
A autora nos mostra, em capítulos alternados (perspectiva dele, perspectiva dela) como anda o relacionamento que eles sustentam há mais de vinte anos. Todd é o tipo de homem que ama a sua mulher, mas que não resiste à outras. Perplexo define meu estado ao saber que Jodi sabia disso, mas que era totalmente "passiva" quanto à esta questão. Ela se sente tão autoconfiante que prefere sucumbir à autonegação. Mesmo quando descobre que ele está com outra e que irá morar com ela, Jodi se mostra abalada, mas "indiferente", como se ele fosse desistir desse caso sórdido e voltar para seus braços em breve.
Todd é cafajeste e fingido. Sempre se vitimizando, como se "não soubesse o que está fazendo", o personagem consegue enganar o leitor nas primeiras páginas, passando uma ideia de que ele não é tão mau quanto parece. Porém, ao compactuar com os ideais de Natasha (sua amante, mas que em breve será sua nova mulher), ele se mostra um personagem egocêntrico, inescrupuloso e mesquinho. Em poucos capítulos, ele já tem mandado uma ordem de despejo para Jodi, cancelado seus cartões e feito coisas que nenhum homem de verdade faria com uma mulher na qual passou metade de sua vida junto.
O grande X da questão é que em nenhum momento vemos que Jodi é vingativa. Sua vida está desmoronando, mas ela continua de pé. Até mesmo na hora do assassinato, ela se mostra totalmente calma, como se aquela fosse a única maneira de manter seu estado atual, e que então ela o faria sem problema algum. Tudo é premeditado, mas nada é comprovado pela polícia. Ela não estava no local, muito menos na hora. Sendo ainda a única beneficiária dos bens de Todd, Jodi herda tudo que um dia ele quis tirar dela e um pouco mais.
Sendo um thriller puramente psicológico, A Mulher Silenciosa não possui nenhuma ou quase nenhuma ação, além de não haver muitos diálogos, o que deixa o enredo um tanto quanto monótono. Posso até me contradizer falando isto, mas mesmo já sabendo o que vai acontecer, acabamos nos prendendo muito à leitura. Relação de amor e ódio, sabe?
Sem mais delongas, o livro consegue ser perfeito, mas ao mesmo tempo um desastre. O enredo em si não é grande coisa, mas os personagens (que no fundo são todos perversos) nos prendem de uma forma jamais vista. Se você gosta de um livro que mexe com sua cabeça e com seus conceitos, eu te indico este. Mas, se sua praia é ação, brigas, revoltas, assassinatos impensados e coisas do gênero, te digo uma coisa: este não é o livro para você.
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