Julhaodobem 12/08/2022
Bidu e a HQ Nacional (texto postado no meu blog)
A arte esta presente em vários aspectos da nossa vida, seja nos livros que lemos ou nos quadros que vemos no museu. Quando falamos de HQs a primeira coisa que vem em mente são os clássicos personagens norte americanos que estão na mente de nós, latinos americanos até hoje. O estereotipo de homens héteros, brancos, musculosos que irão salvar o mundo de grandes vilões que podem destruir a humanidade em questão de minutos mas que sempre vão para Nova York ou Washington, de qualquer forma estas produções são importantes, pois destes nasceram grandes artistas como Stan Lee, Steve Ditko, Jack Kirby e entre outros.
Entretanto, como toda cultura devemos também produzir nossa própria forma de arte nacional, nossas raízes culturais, nossa forma de pensamento de ver o mundo e não copiar pensamentos franceses ou estadunidenses, podemos até usá-los como base mas no fim devemos pegar essa bagagem e criar algo nosso, pois é assim que a arte funciona, modificando artisticamente uma fase de Lavoisier, estou dizendo que nada se cria, nada se copia, tudo se transforma.
Portanto começo com essa critica social que não consigo mais esconder nas produções culturais que consumo para falar da HQ mais recente que li, Bidu - Caminhos. Criado por dois mineiros, Eduardo Demasceno e Luís Felipe Garrocho e lançado em 2017, é uma historia que desejo ler já a algum tempo, desde que vi a arte da capa pela primeira vez soube que tinha algo muito bom nesta HQ. Como sabemos Bidu é um dos personagens do universo da Turma Da Mônica criado por Mauricio de Souza, o mundo de HQs mais famosos do Brasil e que existe até hoje sempre se reinventando, sempre com uma cultura nacional e internacional enquanto surfa em torno das tendências culturais da geração de crianças e adolescentes atuais, como vemos em varias parcerias com o publico japonês por exemplo.
Bidu é um pequeno cachorro que Mauricio de Souza se baseou em um animal real que teve na infância e também na vida adulta, junto com outro personagem, o franjinha, os dois foram os primeiros personagens que o ilustrador criou em uma tirinha feita em 1959 no jornal folha da tarde, o atual folha de São Paulo. Assim o pequeno doguinho se transformou mais tarde no símbolo da empresa Mauricio de Souza editora e é ate hoje um ícone para a Turma da Mônica. Anos mais tarde ele ganharia um gibi próprio com as aventuras do Bidu, o personagem naquela época tinha um tom mais acinzentado, a cor azul foi adicionada mais
Esta HQ nasceu graças ao projeto da Mauricio de Souza produções, onde são convidados artistas consagrados e novos de todo o Brasil para criarem historias baseadas nos personagens da casa, colocando o sou próprio tom artístico livremente, podendo mudar a composição do universo de Mauricio deixando com a cara do artista mas contando com as referencias da Turminha. Varias historias incríveis já foram lançadas com esse projeto como Astronauta - magnetar que lançado em 2012 como a primeira produção do projeto, depois em 2013 com Turma da Mônica: laços, Chico bento: pavor espacial, em 2015 com Penadinho - vida. Desde 2012 já tivemos 32 publicações deste universo, com vários autores e autora nacionais que deram o seu traço para criarem historias inéditas para o MSP, deixando a cultura das HQs nacionais muito mais rica e com uma arte de tirar o folego.
Antes de informar sobre as minhas perspectivas dessa obra de arte devo falar sobre os criadores dessa historia, sem eles nunca teríamos uma Graphic novel do Bidu de uma maneira nunca vista antes. Eduardo Demasceno nasceu em Formiga e se formou em produção editorial em Belo horizonte, é um ilustrador para o mercado editorial, publicitário e sempre usa softwares abertos para a criação da sua arte. Luis Felipe Garrocho é natural de BH, se formou em Historia e é professor de Historia. Como ele mesmo já disse, gosta de escrever, desenhar, reclamar, ler e até dormir em cima dos quadrinhos. Criou as tiras bufar danadas, pequenas tirinhas que filosofam sobre o cotidiano com um humor acido típico dos brasileiros. Os dois autores criaram juntos em 2010 o site Quadrinhos Rasos, onde criavam historias em quadrinhos com letras de musicas. O site esta online até hoje de forma gratuita e pode ser acessado, cada historia possui uma arte incrível e que deve ser vista, podendo servir de inspiração e também contemplação dos leitores.
Em 2011 lançaram a sua primeira HQ, Achados e Perdidos. A historia gira em torno da relação de adolescentes e suas vidas, enquanto o mundo se expande em suas percepções, crescendo e entendendo que o mundo é muito mais do que a rua de suas casas ou os locais que vão com seus amigos. Em 2013 lançam a sua segunda produção, Cosmonauta cosmo!, a historia de um garoto com uma imaginação fértil que deseja ter um cachorro, a arte desta revista é impecável, leve e muito divertida que merece ser lida por todos os brasileiros.
Os dois forma convidados pela MSP a produzir uma Grapich novel para a casa, onde acabaram caindo com o Bidu, o símbolo oficial da Turma da Mônica . Não seria um trabalho fácil, estavam mexendo com o principal personagem que tem uma simetria conhecida pelo público, como ao vermos uma sombra apenas do personagem rapidamente iriamos saber quem ele é, como ver a sombra do Darth Vader, Buzz lightyer ou Batman.
O resultado de Bidu - caminhos é uma grande orquestra artística, calma, reluzente e profunda em cada um dos quadrinhos, principalmente com leitores que tem uma ligação com o seu animal e não querem velo sofrendo ou se aventurando em momentos de risco. A arte produzida com uma poderosa simplicidade de cores que se ligam com os pensamentos do Bidu são espetaculares para esta historia. A trama conta como Bidu encontrou o Franjinha, então na maior parte das paginas da HQ não temos falas humanas como estamos acostumados, acompanhamos a vida de Bidu nas ruas, a forma que seus pensamentos são colocados foram muito bem pensados. O uso das onomatopeias são feitas no tempo certo de uma forma que agrega a comunicação dos personagens, onde os leitores consegue entender a perspectiva de um cachorro em apuros ou apenas se comunicando com o outros animais, de uma forma cartunista clássica das primeiras tirinhas feitas, portanto isso não atrapalha a história, pelo contrario, transforma em uma experiência que nenhum leitor jamais ira esquecer.
Bidu - caminhos é penas uma das 35 Grapich novels feitas por Mauricio de Souza produções, uma iniciativa artística que esta rendendo ainda hoje boas historias e dando espaço para novos autores por todo o Brasil, mostrando que em nosso pais existe o mercado de quadrinhos originais, com o toque latino que somente nos conseguimos fazer, com a nossa bagagem cultural tanto nacional como internacionalmente, criando algo único e reconfortante para a arte. Não deixemos de esquecer o publico alvo dessas produções, crianças e adolescentes, futuros artistas e adultos que podem se inspirar para uma construção de seu intelecto, não apenas na arte mas para a vida, como Mauricio de Souza fez décadas atrás com a turma da Monica, inspirando crianças a ler, escrever, aprender coisas novas enquanto via as aventuras da turminha, crescendo com algo que toda criança deve ter, a mais completa e pura curiosidade.
O projeto MSP trouxe estas características com um outro patamar, mais atual e ligado com as discussões contemporâneas com uma visão de mundo das crianças e adolescentes de hoje, mas ainda com as ideias sociais de Mauricio de Souza, isto é uma forma poderosa de se fazer arte com quadrinhos, nunca sozinhos, com um grupo de pessoas de vários cantos do pais que juntos podem agregar a uma forma de arte totalmente brasileira e inspiradora para todo o publico nacional que pode levar adiante estas ideias, respeitando as variedades e sempre aproveitando uma boa historia de personagens tão importantes para a construção intelectual de gerações em nosso pais.