Paulo Sousa 13/07/2019
Dublinenses
Título lido: Dublinenses
Título original: Dubliners
Autor: James Joyce (Irl)
Tradução: Caetano Galindo
Lançamento: 1914
Esta edição: 2018
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 280
Classificação: 2,5/5
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"Ruminando sua vida com ela e evocando alternadamente as duas imagens em que agora a concebia, percebeu que ela estava morta, que tinha deixado de existir, que tinha se tornado lembrança" - conto "Um caso doloroso" (Posição no Kindle 2095/43%).
Nos 15 contos que compõem o livro Dublinenses, assim como o próprio título sugere, falam, em narrativas abertamente sentimentais, do povo de Dublin, seus usos e costumes, pintam um pouco da geografia da cidade, flertam com a virtude da fé, narram tragédias pessoais, infortúnios, lembranças. Não bastassem esse colorido simplório, comum em crônicas e narrativas curtas, as historietas criadas pelo escritor irlandês James Joyce possuem em sua maioria finais inconclusos, deixadas abertas - ou por intenção do próprio autor ao insinuar mudamente ao leitor que divague sobre um possível final, ou mesmo por um caráter puramente experimental.
Nós, os leitores, temos o hábito de alimentar alguma temeridade ou mesmo superdotar alguns escritores como sendo difíceis de serem lidos, possuidores de uma escrita complexa e indecifrável que exigem esforço incomum e atenção redobrada. Quem nunca se assombrou com apenas algumas páginas de "Graça Infinita", o portentoso romance do escritor americano David Foster Wallace, e aqueles jogos de palavras, expressões científicas e descrições detalhadas que exigem persistência e teimosia? Ou mesmo se afogou nos caudalosos parágrafos de "Em busca do tempo perdido", do francês Marcel Proust, dono de uma pirâmide literária em forma de sete tomos que compreendem toda a saga?
É claro que seria exagero dizer que os contos de Joyce são complexos ou desafiadores. Na verdade é uma excelente porta de acesso à obra de Joyce, muitos afirma. E deveras há sim um simbolismo especial no livro, quase pueril, emoldurado pelas lembranças do escritor, uma fina elegância na forma de escrever, mas, apesar de ter gostado razoavelmente de alguns contos, não posso dizer que Joyce tenha me ganhado. Não encontrei no livro aquele elemento especial que faz o leitor apaixonar-se pela escrita de um autor, aquela centelha de emoção por uma passagem notável que ecoa no profundo e deixa os dias um tanto mais cismarentos, como encontro facilmente em Javier Marías, em Philip Roth, em John Updike, em Dostoiévski. Joyce, tão cultuado pelo "Ulisses", sua obra mais conhecida, definitivamente não proveu em mim nada que não contos bem escritos mas um tanto sem sabor. Inícios difíceis raramente terminam bem. Na literatura, em especial, essa máxima nunca falhou, pelo menos comigo. Paciência. Prossigamos.