Natália Tomazeli 31/05/2020Impossível de avaliar com mais de duas estrelas."Era por isso que Cath escrevia as histórias. Para ter esses momentos em que o mundo deles suplantava o mundo real. Quando ela podia simplesmente cavalgar nos sentimentos deles como uma onda, como algo flutuando morro abaixo."
Livro problemático, gente, problemático mesmo!
Depois de me apaixonar perdidamente por "Carry On", da mesma autora, e perder as estribeiras com o casal Simon e Baz, quis entender de onde veio a história e a criação do universo que envolve esse livro. Para quem não sabe (vou explicar porque percebi ao longo dessas leituras que muita gente não sabe disso), "Carry On" deriva das fanfics escritas pela personagem principal aqui de Fangirl, a Cath, que é fã doente da saga literária (também fictícia no nosso universo) do Simon Snow, uma série de livros sobre bruxos e magia, estilo Harry Potter, que lá no universo de Fangirl, fez/faz tanto sucesso quanto HP aqui no nosso. Nas fanfics da Cath (o universo alternativo do universo alternativo hueheuheu) Simon Snow, que é o mocinho, se apaixona (e vice-versa) pelo seu arqui-inimigo e antagonista da história, Baz e vivem essa história de amor inusitadíssima (porque além de eles se "odiarem", Baz é um vampiro de uma família de bruxos ricassos, enquanto Simon é o bruxo mais poderoso nascido na sua época, mas que não consegue controlar sua magia e é um desastre total como mago) e eletrizante.
Então depois de ter amado tanto "Carry On", achei que seria interessante e legal ler "Fangirl", obviamente. Porém não foi nada disso...
Eu tava conversando num grupo de leitura sobre os livros da Rainbow e uma integrante falou algo que define bem a situação sobre os livros da autora (apesar de eu só ter lido esses dois dela), que é mais ou menos o seguinte: "Gostar ou não de um livro dessa autora, vai depender muito do tipo de conexão que o leitor vai ter com a história, com os personagens e com o livro em si."
Isso meio que pode parecer genérico, afinal serve para praticamente todo o tipo de livro, porém eu acho que é bem mais real no caso da Rainbow Rowell, visto que ela parece incorporar uma personalidade diferente para cada livro que ela escreve, como se não fosse a mesma pessoa que estivesse escrevendo todos os livros que levam o nome dela (pode ser também né, vai saber).
Dito isso, meu maior problema com o livro "Fangirl" foram os gatilhos que tive ao longo da leitura, todos relacionados com os problemas mentais que a Cath tem, ou parece ter, como indica esse trecho:
"A sensação de estar com ele ficou diferente. Diferente mesmo de horas antes. Divertido. Cath não sentia que seu verdadeiro eu estava encoberto por oito camadas de medo e ansiedade diagnosticada."
Eu também tenho Ansiedade Patológica e posso dizer com propriedade que esse livro não foi uma experiência nada agradável. O jeito que a autora passa as sensações da Cath é um tanto quanto muito sufocante. Me dava muita aflição MESMO ler os capítulos desse livro (e olha que eu estou em tratamento) porque o jeito que a Rainbow escreve passa uma ideia de que nada do que a Cath vive tem muita saída ou que ela vai evoluir, viver coisas agradáveis, etc. Eu pelo menos só via ela tendo coisas medíocres, futuro medíocre e se eu não tivesse boa da cabeça, provavelmente eu iria acreditar que isso tudo realmente ia ser assim mesmo com pessoas como ela. E de fato, sem dar spoiler, mas as coisas não ficam muito diferentes na vida dela mesmo. Não é aquele tipo de livro estilo Menina Submersa, por exemplo, onde o intuito é mostrar o que se passa na cabeça de alguém com X doença mental e fazer com que a personagem tenha uma "retaliação" em relação à doença, supere seus monstros internos, etc. Aqui me deu a impressão de que a autora não soube abordar muito bem essa temática (que é SUPER delicada) e isso para mim, deu um toque muito amargo e difícil de digerir para a história. Esse livro acho que pode até funcionar para quem não tiver a sensibilidade de perceber isso, mas para mim, foi quase que como um martírio. Não me diverti, não fiquei feliz, não achei nada engraçado, prazeroso, etc. Não foi sequer um livro só para passar o tempo, porque cada vez que eu abria ele e lia um capítulo, tinha que largar e ir fazer alguma outra coisa da vida porque PAH: Gatilho na minha cara! Muito desagradável. (inclusive parece ser um bom livro para deixar aquela ressaca literária, mas não foi meu caso, nem sei como).
Fora isso, tem também o lado de que o enredo não me ajudou muito a achar a história empolgante (que já tava difícil). Achei o livro lento e entediante em algumas partes, porque só narra detalhes da vida da Cath que não contribuem muito para muita coisa na história, além de não haver nada que surpreenda em relação ao desfecho da história e ao rumo que tudo vai tomar. E o pior para mim foi aguentar isso tudo em 400 páginas que não vi necessidade nenhuma de existirem. Poderia ter sido escrito tranquilo em 200 páginas, por aí (porém nem isso me ajudaria a gostar mais da história, visto os outros fatores). Hoje que já passou um tempão que eu li, não sei nem como que eu consegui aguentar terminar o livro, acho que eu tava com mais paciência e boa vontade naquela época (ou meus remédios estão funcionando muito bem), porque se fosse hoje eu teria desistido sem nem pensar muito.
A sorte foi que eu peguei "Carry On" antes, senão nunca mais ia querer ler nada da autora. Inclusive peço encarecidamente que se você leu Fangirl e não gostou da parte das fanfics, dê uma chance a "Carry On" porque quase nada do que a Cath mostra da fanfic em "Fangirl" expõe todo o potencial de "Carry On".
Enfim, existem YAs muito melhores por aí, MUITO MESMO, que inclusive vão abordar doenças mentais de uma maneira boa e justa e normal e não desagradável ou inadequada. Se você quer ler algo assim, te recomendo "Tartarugas até lá em baixo", "Mosquitolândia" ou "Estamos Bem", mas FOGE de Fangirl!
"– Sim. O ato definitivo de heroísmo não deveria ser a morte. Você sempre diz que quer dar a Baz as histórias que ele merece. Salvá-lo de Gemma…
– Só acho que ela não percebe o potencial dele enquanto personagem…
– Então você vai matá-lo? A melhor vingança não seria uma vida bem vivida? O jeito punk rock de terminar Vá em frente seria deixar Baz e Simon viverem felizes para sempre. [...] Felizes para sempre, ou mesmo juntos para sempre, não é boboca. É a coisa mais nobre, tipo, mais corajosa, que duas pessoas podem almejar."