Nati 16/01/2024
A primeira vez que li esse livro foi por volta dos meus 8, 9 anos. Não sei porquê minha mãe comentou com uma vizinha que eu gostava de ler. Era uma época difícil, livro era um luxo. Então ela me emprestou.
Assim como hoje, li todo em um par de horas. Fiquei pensando na história por dias. Eu nunca mais esqueci desse livro. Nunca me esqueci do título ou personagens. Depois de tantos anos, é verdade algumas partes da história fugiram da memória, porém o essencial ainda estava lá. Ler este livro, foi mais do que uma experiência de leitura, foi uma visita à minha infância.
A história de Marta é comovente. Logo nos apresenta um mundo desigual em que alguns podem estudar e outros não. A obra aborda diversos temas como a questão dos chamados "bóias-fria", as dificuldades da vida do agricultor, a luta pelos direitos mínimos, a desiguladade entre homens e mulheres, o machismo que limitava as mulheres às tarefas domésticas. Marta, porém, deseja um futuro melhor, dignidade e respeito.
O núcleo familiar da personagem é complexo e com diversas nuances. Temos o sofrimento da perda, do luto, do despejo. A dinâmica familiar é difícil, com diversos embates, remorsos, raiva, tristeza. O final é realista: A luta apenas começa. Ainda há muito a conquistar e as batalhas não serão fáceis.
A escrita do autor é muito simples, adequada para um livro infanto-juvenil. Este contato com uma realidade que por vezes parece tão distante para alguns jovens pode surpreender. Infelizmente ainda vivemos em um país em que o trabalhador rural pouco ou nada é reconhecido. Livros como esse são importantes para a formação de nossa juventude, para conhecer a realidade e as diversas histórias que existem pelo mundo. Não nego que este livro impactou sobremaneira na minha forma de ver o meu país, de compreender que o sofrimento do outro também nos afeta, que devemos ter empatia mas também lutar por uma vida mais digna. E isso significa muito.