Thiago275 18/05/2021
Interessante
Vadinho, o primeiro marido de Dona Flor, era "pobre, sem vintém, funcionário chinfrim, picareta e facadista, cachaceiro, libertino e jogador". Com ele, ao longo de sete anos de casamento, a protagonista passou poucas e boas, noites em claro à espera do marido, perdido nas roletas, raiva, preocupação, alguns safanões. Mas também viveu um amor tórrido e forte, caloroso e farto.
Morto o primeiro marido (bem num domingo de Carnaval) e após um atribulado período de viuvez, Dona Flor junta-se em segundas núpcias com Dr. Teodoro, da Drogaria Científica, "doutor de diploma e anel de ametista verdadeira, proprietário estabelecido, bonitão, forte de saúde, um homem de bem, soberbo quarentão". Com ele, a professora de culinária experimentará o amor regrado, manso, metódico, sistemático e respeitoso. Sempre fiel às quartas e sábados (e com direto a bis nos sábados).
Um belo dia, o fantasma de Vadinho resolve voltar ao mundo dos vivos e "compartilhar" Dona Flor com Dr. Teodoro. Resistirá ela à lábia do finado?
Com verve e irreverência geniais, Jorge Amado nos apresenta mais uma protagonista forte e complexa. Embora Dona Flor não tenha me conquistado como Tieta (❤️) ouso dizer que ela possui mais complexidade psicológica.
Com bom humor, ácidos comentários e bastante safadeza, Jorge Amado nos apresenta uma mulher que, apesar de envolta nos preconceitos de todos nós, vai descobrindo pouco a pouco dentro de si a dicotomia que existe em todo ser humano: matéria e espírito, amor e paixão, respeito e libertinagem, aventura e aconchego.
Talvez a lição que fique ao final da história é que é justamente essa junção de contrastes que nos faz completos. E só ao saber dosar esses aspectos ficaremos, tal como Dona Flor, plenos. No amor e na vida.