Codinome 13/07/2019
Um pouco sobre "A trilogia de Nova York"
Entre os anos 1985 e 86, tivemos a publicação de três romances , embora um deles tenha uma proporção em tamanho bem similar a uma novela (“Fantasmas”), pelo escritor Paul Auster: “Cidade de vidro” (1985), o já mencionado “Fantasmas” e “O quarto fechado”. Sendo os dois últimos publicados no mesmo ano de 1986. Mais tarde, seriam reunidos no livro “A trilogia de Nova York”.
Quando pensamos na palavra trilogia – pelo menos para mim – pensamos em uma sequência, em histórias subsequentes. Ao ler esse livro, essa sequência não é encontrada, são, na verdade, outras histórias com personagens diferentes (apesar de nomes reaparecem ao longo da obra, mas nada que evidencie uma ligação de causa/consequência). No entanto, existe uma mesma estrutura para cada um dos “livros” que os deixam muito similares. Basicamente as 3 narrativas seguem uma temática de um homem que se envolve, de alguma maneira, com um segundo indivíduo em uma situação de perseguição, ambientadas majoritariamente em Nova York. Essa perseguição gera uma enorme crise de espírito e identidade para esse personagem.
A ideia do duplo é muito presente nas histórias, o que me fez lembrar bastante o conto “William Wilson”, de Poe. Aliás, em “Cidade de vidro”, temos a história de um escritor que escreveu três (!!) romances com o pseudônimo de William Wilson, além disso o autor Poe é citado ao longo de todo livro. Juntamente com a citação de diversas outras obras que Paul Auster parece conhecer e, assim, passeia muito bem por elas.
Seu interesse passa por Dom Quixote de Cervantes, Herman Melville, passagens bíblicas como as do Paraíso e da torre de Babel, “Paraíso Perdido” de John Milton, “Walden” de Henry David Thoreau, Robinson Crusoé e por aí vai. São referências colocadas ao longo da trilogia de forma bastante inteligente, convidativa e curiosa. Na minha opinião, essas referências diretas aumentam o grau de realismo da obra, mas sem perder o grande teor criativo e inventivo de Auster.
O autor, como um bom escritor policial, cria um clímax interessantíssimo nas primeiras páginas de cada obra, fisgando o leitor muito bem. Isso foi o que mais me chamou a atenção quando comecei a ler o livro com “Cidade de vidro”. Dando prosseguimento, também mantém a ótima habilidade de escrever uma história, ou melhor, três. Uma habilidade, na minha opinião, necessária a qualquer grande escritor. Como se não bastasse isso, percebemos sua paixão por ser esse contador, pois nos encontramos com outras histórias e anedotas sendo contadas dentro de cada um dos três livros. Tudo de uma forma bem reflexiva através de seu personagem principal, o que joga o livro para uma esfera além do romance policial, ou melhor, mantendo essa esfera muito mais rica. É um gênero literário que um dos personagens elogia com muita propriedade (Daniel Quinn em “Cidade de Vidro”) e vemos que esse gênero pode distribuir muitas histórias e riquezas.
Enfim, essa trilogia dá muito pano para manga e eu poderia falar muito mais sobre ela. Mas vamos parar por aqui: deixo como grande indicação para quem quiser conhecer Paul Auster e apreciar a grande literatura que os Estados Unidos pode oferecer.