Lys Coimbra 29/11/2015Confesso que fui "fisgada" pela capa. Mal sabia que a edição LINDA era apenas o prelúdio de um livro grandioso.
Depois da leitura fiquei um pouco anestesiada, tentando digerir tudo aquilo que me tinha sido oferecido, e quanto mais eu assimilava todo o rico enredo de Kazuo Ishiguro, mais me impressionava com a delicadeza com que ele abordou temas tão sensíveis.
Acredito que os livros, todos eles, podem apresentar diferentes facetas, a depender do seu leitor. Isso é natural, já que cada pessoa é única e enxerga aquilo que está predisposta a ver.
Assim, livros alegóricos, como "o gigante enterrado" podem "se mostrar" de tantas maneiras quantos forem os seus leitores, porque o autor usa metaforicamente seres fantásticos para apresentar questões enfrentadas por todos nós, em todas as épocas, culturas, classes e idades, e cada um interpreta essas representações de acordo com a sua perspectiva: alguns enxergam apenas a literalidade dos seres míticos e da fantasia, outros conseguem vislumbrar, em diferentes níveis de profundidade, o que está sendo tratado por meio das alegorias, e muitos se perdem no enredo.
A experiência é individual e depende das peculiaridades de cada um.
Em "o gigante enterrado" um casal idoso de bretões, um guerreiro saxão, um menino órfão e um velho cavaleiro do Rei Arthur nos conduzem a uma viagem de reflexão, com trolls, ogros, fadas, barqueiros e uma dragoa. Cada um dos viajantes tem um objetivo e uma convicção que merecem ser considerados com respeito e empatia.
Em mim, o livro despertou muitos questionamentos acerca da consciência: o quão essencial seria preservar as marcas deixadas por grandes dramas? Até que ponto é importante manter vivas, ou reavivar, todas as nossas dores e traumas sob o pretexto de honra e justiça? Quem pode traçar, com precisão, a linha tênue entre honra e traição? O nosso passado é o único elemento a definir o nosso futuro?
Independe do que desperta em cada um de nós, este é um livro que vale a pena "degustar" como a uma iguaria: aos poucos, sem pressa e consciente de todo o prazer que ele é capaz de nos proporcionar.