Paloma 31/05/2021
Foi escrito em 1915 mesmo?
Nessa utopia, Charlotte Perkins Gilman apresenta um país constituído unicamente por mulheres. Nele, todas vivem em harmonia, união, compartilhando conhecimento. E os filhos? Bom, basta que elas se sintam efetivamente prontas e com vontade de experienciarem a maternidade que, desse desejo, a criança é gerada.
Homens são, definitivamente, dispensáveis nesse país de mulheres auto-suficientes. Acontece que para outra parte da civilização, esse país das mulheres não passa de uma lenda, uma imaginação das pessoas da época, a qual era corroborada pelo fato de que todo homem que tentou realizar a trilha de chegada ao país delas, nunca retornou ou apareceu morto.
Paira, então, sobre o país das mulheres uma aura de mistério e curiosidade sobre aqueles que desejam saber se ele efetivamente existe. É, então, que Jeff, Terry e Van (este último, o narrador do enredo) se organizam em uma expedição com objetivo de encontrar a tal Terra das mulheres.
Os três exploradores não medem esforços em suas expectativas sobre o país e, convenhamos, todas são negativas e misóginas. Segundo eles, esse país só poderia ser desorganizado, ?bárbaro? (diversas passagens usam essa expressão no visível discurso colonialista da época de ?nós x outros? ?civilizados x bárbaros?).
Iniciada a expedição, eles chegam à Terra das mulheres. Se admiram com a organização do país e presumem que é impossível ele ser tão bem organizado, com edificações tão suntuosas, sem a presença de um homem. A soberba deles dura pouco, logo são capturados pelas caçadoras e ficam meses sendo estudados pelas mulheres da terra.
Aprendem sobre o país e ensinam a elas sobre sua cultura. Fazem essa interlocução que, mesmo assim, não faz com que eles modifiquem as concepções misóginas e patriarcais que os acompanham ao longo do livro. Inclusive, essa é a parte mais difícil de se conectar com a leitura, o narrador é masculino e a visão extremamente machista dele é incomoda.
É uma leitura que, de cara, não desperta tanta ânsia de seguir adiante. Entender a estratégia de usar um narrador masculino, mais o contexto de escrita da obra e da autora, uma mulher escritora em 1915, é o que dá o estímulo para seguir adiante na narrativa e constatar que, mesmo tendo sido escrito no século passado, ainda vemos, infelizmente, muitas das falas e comportamento machistas sendo reproduzidas e praticadas até hoje.