Maria - Blog Pétalas de Liberdade 10/04/2017Resenha para o blog Pétalas de Liberdade "Acho que talvez eu tenha um problema onde as emoções, frequentemente, têm mau funcionamento, e em grande parte do tempo você fica sentado lá, sentindo alguma coisa imprópria. Deveria ser chamado Desordem Emocional do Idiota." (página 249, também sofro dessa desordem, confesso!)
O narrador, Greg Gaines, era um garoto de família judia, que aos dezessete anos estava no último ano do colégio, era gordinho, tinha visão ruim e, segundo ele, tinha cara de rato. Greg fazia o possível para não ser alvo de bullying na escola, isso consistia em ser legal com todo mundo, mas não se deixar verdadeiramente conhecer, ele não tinha amigos, ele não deixava que ninguém se aproximasse o suficiente para que fosse seu amigo. Exceto Earl.
Earl era um garoto negro, vindo de uma família completamente desestruturada, que dividia com Greg o amor pelos filmes. Juntos, ainda no começo da adolescência, eles viram alguns filmes e surgiu neles a vontade de fazer filmes também. Então, lá ia Greg, Earl e uma câmera, contando histórias como eles gostariam que elas fossem, usando as irmãs mais novas do Greg e até o gato da casa dele como mocinhos e vilões. O resultado desses filmes caseiros de roteiro duvidoso não era lá grande coisa, mas era a diversão e o segredo deles.
"E quanto a mim: no colégio, simplesmente tive dificuldade em fazer amigos. Não sei por quê. Se eu soubesse, não teria sido tão impossível. Uma coisa era que eu simplesmente, em geral, não tinha interesse no que interessavam aos outros garotos. Para um monte deles, era esporte ou música; duas coisas das quais eu simplesmente não conseguia gostar. Música, na verdade, apenas me interessava como trilha sonora de um filme e, quanto aos esportes, quer dizer, fala sério. Uns caras jogando bola por aí ou tentando derrubar uns aos outros, e você supostamente deveria assistir a isso durante três horas seguidas... Meio que parece perda de tempo." (página 127)
Até que Rachel, uma garota conhecida de Greg. teve leucemia. E a mãe dele o obrigou a se reaproximar da garota, afinal, houve uma época em que essa garota era o mais próximo de um amigo que Greg já mostrou para a família. A mãe dele é uma figura, por isso olhem aí uma transcrição de uma página do livro:
MAMÃE
Você não tem escolha em relação a isso, Gregory, porque você recebeu a chance de fazer uma diferença muito real, no fim das contas...
GREG
Mãe, que inferno!
MAMÃE
uma coisa rara e importante, acima de tudo, que você poderia fazer, e me deixe lhe dizer que não é...
GREG
Isso tem a ver com a Rachel? Porque...
MAMÃE
e eu vi você, dia após dia, simplesmente ficar deitado aí feito uma lesma morta e, enquanto isso, uma amiga sua...
GREG
Posso apenas dizer uma coisa?
MAMÃE
completamente inaceitável, completamente, você teve todo o tempo do mundo, e a Rachel, sinceramente...
GREG
Mãe, para de falar, será que posso apenas dizer uma coisa?" (página 55)
A partir da reaproximação de Greg com "a garota que vai morrer", levando Earl a tiracolo, todo o esforço de Greg para ser invisível ruiria, conforme ele fosse vivendo uma amizade real (com alguém além do Earl) pela primeira vez na vida.
"Eu sou inteligente de algumas maneiras - vocabulário muito bom, sólidos conhecimentos em matemática -, mas, definitivamente, sou o mais estúpido dos inteligentes que existem.
- Eu parti o seu coração!
- Ora, meio que sim.
- Como foi que eu parti o seu coração 'meio que sim'?
- Humm... você se lembra do Josh?
- Josh Metzger?
- Na escola judaica, eu pensei que você estava apaixonada por Josh.
- Por que você pensou isso?
- Eu pensei que todas na classe estavam apaixonadas por Josh.
- Josh ficava deprimido o tempo todo.
- Não, ele era supersombrio e, hum... e sonhador.
- Greg, até parece que você está apaixonado pelo Josh.
- Afff!
Isso foi inesperado. Nunca tinha acontecido antes. Rachel tinha me feito rir." (página 58)
"Eu, você e a garota que vai morrer" é o livro mais engraçado que já li na minha vida. Quer um livro engraçado? Leia "Eu, você e a garota que vai morrer"! O Greg é um garoto "desajustado", ele procura o seu lugar no mundo, procura ser aceito. É um adolescente cheio de hormônios que repara na aparência das garotas como garotos dessa idade podem reparar, mas isso não me incomodou, porque não há maldade no Greg. Ele tem um coração bom. E eu vi a história sob esse ponto de vista de um garoto que está dando seus primeiros passos rumo à vida adulta, inseguro, acertando e errando, se iludindo.
Preciso deixar claro que "Eu, você e a garota que vai morrer" não tem a menor intenção de ser parecido com "A culpa é das estrelas". Há sim toda uma expectativa para saber o que vai acontecer com a Rachel, mas é um livro sobre o Greg e sobre o quanto a adolescência pode ser difícil. Nas entrelinhas, percebemos como ele e o Earl estão lutando para seguir em frente. Acho que o autor acertou em cheio na construção dos personagens, e eu gostei bastante da diversidade que há neles, temos um protagonista gordinho, um melhor amigo negro, uma garota que não é a mais bonita de todas, um pai com gosto excêntricos, já mencionei que a mãe do Greg é demais... É um livro sobre amizade, a frase que está na capa ("Um pouco de amizade nunca matou ninguém") tem tudo a ver com a história.
"- Amigão, é isso - concluiu o sr. McCarthy. - Este é o último ano e aí você vai embora. Me deixa dizer o seguinte: depois do colégio, a vida só melhora. Você está num túnel agora. Tem uma luz brilhando no fim dele. Você tem que ir para a luz. O colégio é um pesadelo, amigão. Talvez sejam os piores anos da sua vida." (página 198, palavras do professor favorito do Greg)
Continuo amando essa capa! A edição traz boa revisão, páginas amareladas, margens, letras e espaçamento de bom tamanho. E como o Greg gosta de cinema, além da ilustração no início de cada capítulo (que lembra um cenário), algumas cenas são apresentadas em forma de roteiro, o que torna a leitura ainda mais fluida e rápida.
Fica a minha sugestão para quem procura um livro engraçado, ainda que fale sobre um tema forte como a leucemia, ressalto que é narrado por um adolescente e que tem a intenção de ser engraçado, mas que é possível perceber um amadurecimento no protagonista com o passar dos capítulos.
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http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/2017/04/resenha-livro-eu-voce-e-garota-que-vai.html