Thays.Freitas 13/12/2022
recomendo
Esse livro do Gabriel, diferentemente dos outros, é bem menos extenso, porém tem a mesma pegada crítica que faz a analíse dos sentimentos e condições humanas, então já começo dizendo que esse é um ótimo livro para se introduzir no universo do autor. Ele amarra você de um jeito, brinca com o tempo verbal e com a subjetividade de cada pessoa em meio suas metáforas e críticas veladas.
Nesse livro, Gabriel vai trazer os mais diversos pontos reflexivos por intermédio de um personagem principal que já inicia o livro falecido: um protagonista defunto. Para quem tem como livro preferido o Memórias Póstumas, eu acho que essa tacada de mestre coloca uma bagagem extra na narrativa. Analisar o contexto dessa morte é analisar o ser humano em sua natureza mais original: vê-se a hipocrisia, o orgulho e a vaidade, intensificada por uma contexto histórico onde se tinha uma rígida padronização da ética e da moralidade.
Eu juro que se você ler, não irá se arrepender.
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Agora minhas considerações com spoiler:
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Para quem teve experiência com 100 anos de solidão, aqui a gente vai ter aquela pitada de sentimentos vazios e egocêntricos que superficialmente parecem envolver demais pessoas, mas que de fato, giram em torno do próprio eu. Eu posso dar o exemplo dos próprios assassinos, os gêmeos, um dos irmãos justificava o assassinato pela honra da irmã (o outro apenas seguia sua sombra), mas no fundo, matou pela oportunidade perdida de um cunhado rico, de um nome valoroso na sociedade, orgulho ferido e para eliminar um sentimento de derrota projetado na vitima, que tinha tudo o que queria ter: nada mais que um mecanismo defensivo do ego (Freud explica). Os personagens do Gabriel sempre são muito intensos, e merecem, com toda força do mundo, uma análise psíquica.
A história do casamento forçado da Ângela, irmã dos assassinos, a realidade vivenciada em uma sociedade que condena uma mulher por atitudes que são louváveis quando feitas por homens, me revirou o estômago desde o início. Mas o que me deixou mais puta foi a frieza com que a Ângela supostamente desonrada delatou um inocente e seguiu a vida sem culpa. Ainda futuramente, o homem que devolveu ela justamente pelo motivo de não ser mais virgem retornou para ficar com ela, ou seja, A MORTE DE SANTIAGO NÃO FOI SÓ UMA INJUSTIÇA, FOI TAMBÉM INÚTIL. Foi apenas um evento.
Ninguém sente culpa, mesmo que todos sejam culpados, eles efetuam a racionalização pela forma com que tudo aconteceu, justificando o silencio, que é o pior tipo de conivência.
Todos mataram Santiago Nasar, os gêmeos só puxaram a faca.