Ilusões Perdidas

Ilusões Perdidas Honoré de Balzac




Resenhas - Ilusões Perdidas


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Ana Sá 07/06/2024

Retrato do provincianismo e panorama do jornalismo literário
Situado temporalmente na primeira metade do século XIX, o romance narra a história do jovem Lucien Chardon de Rubempré, que deixa sua cidade natal no interior da França rumo a Paris, onde passa a alimentar ainda mais seu desejo de consagração literária. Entretanto, desprovido de capital econômico e social, o poeta não demora a perceber qual é afinal o cartão de visitas da capital:

"É difícil ter ilusões sobre qualquer coisa em Paris. Aqui há impostos para tudo, vende-se tudo, fabrica-se tudo, até mesmo o sucesso".

Através dos trânsitos sociais do protagonista, somos inseridos por Balzac num retrato impecável de alguns dos embates entre o provincianismo cafona do interior e um pretenso cosmopolitismo esnobe e corrupto dos parisienses. Como pano de fundo, temos uma aula da história da imprensa e das relações estabelecidas entre jornalismo e literatura.

Sim, os temas abordados em "Ilusões Perdidas" (1837) são densos e a mim, em particular, impuseram um ritmo de leitura lento, mas adianto que isso diz mais sobre a minha relação com esse tipo de romance do que sobre a narrativa em si. Balzac impressiona por ser sofisticado sem abrir mão (totalmente rs) da fluidez. Eu realmente me envolvi muito com as personagens e com a trama! É claro que se você não tiver o mínimo interesse em acompanhar, por exemplo, os pormenores da arte da tipografia ou da biografia de Napoleão, algumas passagens podem ser bastante cansativas. Mas no meu caso, não sei explicar, muito do que me parecia desinteressante ou monótono teve algum momento (não todos! rs) que me fisgou. Só não consigo passar meu pano com glitter pra parte final, pois (na minha desumilde opinião) ela chega a se tornar burocrática nos detalhes e um pouco inverossímil no excesso de reviravoltas.

Para ilustrar como encarei o romance, recuperei nas minhas anotações uma cena inicial que talvez exemplifique as boas sutilezas que Balzac consegue costurar à criticidade de seus retratos sociais, o que justifica o saldo bem positivo da minha experiência de leitura. Nela, um pai tipógrafo "do interior" dá um banho de água fria no filho recém-chegado da capital e entusiasmado com as novas ideias e técnicas observadas em Paris:

"- Ha! Ha! Meu rapaz, a província é a província, e Paris é Paris! Se um homem de L’Houmeau [província] lhe chegar para mandar fazer seu convite de casamento e você o imprimir sem um Cupido com guirlandas, ele não vai pensar que está casado e o devolverá se vir apenas um C, como o que usam esses seus senhores Didot [de Paris], que são a glória da tipografia mas cujas invenções não serão adotadas nas províncias antes de cem anos. É isso."

Aliás, indo da tipografia à imprensa, não me surpreendi ao descobrir que este livro compõe por vezes a bibliografia de cursos de jornalismo. Para além dos dados históricos sobre a imprensa em si, ele impressiona por suas exposições acerca do poder do jornal na construção ou destruição de livros e de figuras públicas. Considerando que vivemos num tempo em que o espaço midiático dado a vencedores de prêmios literários só tem se alargado, me vi estabelecendo alguns paralelos também com o cenário atual.

Antes de encerrar, preciso fazer minha menção honrosa a Lucien: ele foi daquele tipo de protagonista que eu amo detestar! Viciado em se iludir, aspirante a poeta ingênuo e sem dinheiro, parasita monetário da família, culpado por amar demais... Um combo de vergonha alheia adorável de acompanhar!

Cabe lembrar que "Ilusões perdidas", mesmo com suas quase 800 páginas, é um grão de areia em "A Comédia Humana" de Balzac, então a história do jovem Lucien não se encerra totalmente aqui. Há uma passagem do livro que diz que "Todo homem, a não ser que tenha nascido rico, tem o que se deve chamar de sua semana fatal", e neste romance me parece que o foco foi o antes e o durante da "semana fatal" de Lucien. Não tive vontade de ler o título subsequente de Balzac de imediato, mas foi uma leitura tão marcante e envolvente que, talvez, possa ter sido plantada em mim a vontade de desbravar, no meu tempo, tudo o mais que o autor tenha a retratar sobre essa França que ainda diz tanto sobre nós. Acertou quem disse que eu iria gostar deste livro!

Obs.: em 2021 saiu a adaptação cinematográfica homônima dirigida por Xavier Giannoli. Assisti na Prime, após a leitura, e gostei! 
Jacy.Antunes 07/06/2024minha estante
Parabéns por sobreviver ao livro. O filme também é muito bom.


Marcelo217 07/06/2024minha estante
Ótima resenha. Notei que concordamos em vários pontos e faz sentir


Marcelo217 07/06/2024minha estante
que não li "errado" kkkkkk


Craotchky 07/06/2024minha estante
Que texto incrivelmente bem escrito, Anyta! Que bom que gostou dessa leitura, conseguindo extrair dela satisfação. E seu breve retrato de Lucien já desperta um misto de emoções em relação a ele. Realmente parece um personagem interessante de se acompanhar.


Vania.Cristina 08/06/2024minha estante
Tenho uma edição antiga desse livro na estante que foi do meu pai, mas nunca li. Não sabia que o tema era esse e me interessei. Quem sabe não chegou a hora de pegar e ler. Obrigada Ana


Paulo Sousa 08/06/2024minha estante
o melhor de balzac! ??


Andre.28 10/06/2024minha estante
Balzac inspirado demais nesse livro. Pra é a melhor obra dele.


Ana Sá 11/06/2024minha estante
Jacy, gostei muito do filme também! :)

Vania, se ler volta pra me contar! :)


Ana Sá 11/06/2024minha estante
Paulo e André, já tinho visto vocês elogiarem este livro por aqui... Agora consigo entender! haha


Ana Sá 11/06/2024minha estante
Marcelo, senti o mesmo ao ler sua resenha... Aquela sensação de "então não fui só eu" haha


Ana Sá 11/06/2024minha estante
Filipe, muito obrigada! :)

Ah, pra mim foi dessas personagens que pra não esquecer, irritou, deu dó, de tudo um pouco! Um tipo bobão muito bem desenvolvido! haha




Michela Wakami 04/06/2024

Iniciei a leitura toda empolgada, e realmente estava lendo um livro repleto de fatos interessantes, que revelam como funcionava o mundo editorial e jornalístico da época, que talvez não tenha mudado muito, tendo essas falcatruas até os dias de hoje, infelizmente, com poucas excessões.

O nosso protagonista é um ser insuportável, cheio de ilusões, que não se cansa de cometer atitudes burras.

Quando o livro chega na terceira parte, a leitura torna-se maçante e o final decepcionante.
Sem falar nas partes irritantes.

Dei três estrelas, devido a primeira e a segunda parte que eu gostei muito.
FSouzaPinto 04/06/2024minha estante
Adoro suas resenhas super sinceras ???


Michela Wakami 04/06/2024minha estante
Obrigada, Flávia.???




Matheus 29/05/2024

Ilusões Perdidas - Honoré de Balzac
Este romance não é apenas uma peça central de "A Comédia Humana", mas também uma profunda exploração da sociedade francesa do século XIX, um verdadeiro monumento literário que exibe a genialidade de Balzac como observador e narrador. O enredo acompanha Lucien Chardon, um jovem poeta de uma pequena cidade provinciana, Angoulême. Movido por uma ambição ardente e um desejo incontrolável de fama, Lucien sonha em conquistar Paris com seu talento literário. Ele é acompanhado em sua jornada por David Séchard, um impressor talentoso e dedicado que sonha em inovar no seu campo. Juntos, eles enfrentam os desafios e as desilusões que vêm com a busca pelo reconhecimento e sucesso. A narrativa é meticulosamente dividida em três partes, cada uma revelando diferentes aspectos das vidas de Lucien e David. Na primeira parte, "Os Dois Poetas", Balzac nos apresenta ao ambiente provinciano de Angoulême, um lugar onde as grandes aspirações de Lucien parecem fora de lugar. Aqui, Balzac mostra sua habilidade em retratar a vida cotidiana com uma riqueza de detalhes que faz cada cena vibrar com realismo. Na segunda parte, "Um Grande Homem da Província em Paris", Lucien chega a Paris, onde é inicialmente acolhido pela aristocracia graças ao apoio de Madame de Bargeton. No entanto, rapidamente ele se vê mergulhado no lado sombrio do mundo literário e jornalístico parisiense. Balzac utiliza a jornada de Lucien para criticar duramente a corrupção e superficialidade desse mundo, onde os valores morais são frequentemente sacrificados em nome do sucesso e da influência. Lucien é seduzido e, eventualmente, destruído por esse ambiente corrupto, revelando a fragilidade das suas ilusões. A terceira parte, "Os Sofrimentos do Inventor", volta a focar em David, que enfrenta suas próprias batalhas em Angoulême. Balzac retrata com compaixão as dificuldades enfrentadas por David enquanto ele luta para proteger sua invenção e sustentar sua família. Paralelamente, Lucien retorna a Angoulême, desiludido e arruinado, uma sombra do jovem ambicioso que partiu em busca de glória. "Ilusões Perdidas" é uma crítica feroz e lúcida da sociedade francesa. Balzac não poupa ninguém: desde os aristocratas até os jornalistas, passando pelos aspirantes a artistas e os homens de negócios, todos são submetidos ao seu olhar crítico. A obra disseca a corrupção, a hipocrisia e a venalidade da vida parisiense, destacando como os sonhos e as ambições podem ser facilmente destruídos pela realidade implacável. A grandiosidade de Balzac reside na sua capacidade de criar personagens profundamente humanos e complexos. Lucien, com suas aspirações e fraquezas, e David, com sua integridade e sofrimento, são retratos vívidos de indivíduos que enfrentam as forças esmagadoras da sociedade. Balzac utiliza um estilo realista e detalhado, transformando cada página em uma rica tapeçaria de observações sociais e psicológicas. "Ilusões Perdidas" não é apenas um romance; é um espelho da humanidade, refletindo as esperanças, desilusões e lutas que definem a existência humana. Com esta obra, Balzac solidificou seu lugar como um dos maiores escritores de todos os tempos, capaz de capturar a essência da vida com uma precisão e profundidade incomparáveis. Através de sua narrativa, ele nos oferece uma visão eterna das complexidades e contradições da condição humana.
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Aline330 25/05/2024

Um bom livro, especialmente pelos seus temas. A insensatez na juventude, o jornalismo como propaganda, as ilusões perdidas...
O ponto negativo fica por conta do esforço necessário para ler a obra, são descrições longas, lá pelo meio eu já estava entediada, o interesse só voltou no final.
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Renato 18/05/2024

De volta a Angouleme
O volume II de Ilusões perdidas trata do retorno de Luciena à província, após a sua queda diante da sociedade de Paris. Essa parte do romance detalha mais a situação de David Search e sua família esposa Eve, e a luta que eles travam contra seus fiadores para evitar a falência e manter a sua subsistência.
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Renato 18/05/2024

Obra prima de Balzac, Ilusões perdidas faz um retrato da sociedade francesa no século XIX, contando a história de David Sechard, responsável por uma tipografia da província de Angouleme e do Lucien de Rubempré, um belo jovem com aptidão a escritor. Este, o personagem principal da história, vai a Paris para tornar realidade as suas ilusões, onde se depara com as tramas de uma cidade que se funda a sua dinâmica em acordos hipócritas e mesquinhos, tendo como tônica de seu discurso o dinheiro, o poder e a cobiça.
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Paulo 15/04/2024

Obra-prima
Li a edição de bolso da Saraiva, que peca por não trazer as três partes do livro divididas em capítulos.

A primeira parte, intitulada “Os dois poetas”, conta a história dos amigos David Séchard e Lucien Chardon, residentes na cidade provinciana de Angoulême. Ambos eram muito diferentes: David era trabalhador e pé no chão, enquanto Lucien, muito belo, era vaidoso e ambicioso ao extremo.

David trabalhava na gráfica que fora de seu pai, um velho avarento que o explorava por meio de um contrato leonino pelo qual lhe repassara a tipografia e suas máquinas. Lucien era um poeta de talento promissor, então com 22 anos, que ascendeu socialmente na cidade interiorana devido a seu relacionamento com a sra. De Bargeton, casada, com 36 anos, nobre e de gosto extravagante pelas artes e letras.

Apesar dos esforços da sra. de Bargeton, Lucien é ridicularizado pela sociedade de Angoulême, que não dava valor às letras e que desprezava sua origem humilde. Embora o relacionamento amoroso entre Lucien e a sra. de Bargeton tenha se mantido no plano platônico, as fofocas da sociedade fizeram com que eles decidissem se mudar para Paris.

No final da primeira parte, David casa-se com Éve, irmã de Lucien. Juntamente com sua sogra, David e Éve passam a residir em condições humildes na tipografia, pois eles entregaram suas economias para Lucien tentar a sorte em Paris.

A segunda parte do livro, “Um grande homem da província em Paris”, conta a história das ilusões perdidas de Lucien na capital francesa.

Rapidamente ocorre o desencanto mútuo entre Lucien e a sra. de Bargeton, causado pela nova vida em Paris. O jovem poeta, deslumbrado com a beleza e o frescor das moças parisienses, passa a enxergar a Sra. de Bargeton como velha e sem graça. Por outro lado, a Sra. de Bargeton percebe que, face aos artistas da capital, Lucien não era o intelectual que ela pensava; antes, era um caipira que não se ajustaria à sociedade parisiense. De possíveis amantes, transformam-se em inimigos.

Lucien logo se vê sozinho e miserável na capital francesa. Alia-se a um grupo de intelectuais pobretões como ele, mas idealistas, chamados de “Cenáculo”. Não consegue lançar em Paris seus dois livros, um de poesia, o outro um romance de época. Acaba ingressando no jornalismo e vende sua consciência e seu trabalho em troca das mais ardilosas negociações, em que acontecia frequentemente a destruição e a construção de reputações. Em rápida ascensão social, consegue ficar famoso, une-se à uma bela atriz de teatro, compra roupas da moda e se vinga, por meio de artigos de jornal, da Sra. de Bargeton.

Após sair dos jornais liberais em que trabalhava e ingressar nas fileiras da imprensa que defendia a monarquia, com o escopo de obter um título de nobreza, Lucien é perseguido por seus ex-colegas e rapidamente perde sua reputação e seus bens. A Sra. de Bargeton vinga-se dele.

A crítica de Balzac à imprensa é mordaz: não havia qualquer mérito no meio jornalístico, apenas interesses escusos e dinheiro. O ambicioso Lucien, como era ingênuo, foi completamente engolido pelas raposas da imprensa. Perdera suas ilusões sobre o valor da literatura - em Paris, tudo se resumia às relações sociais pautadas pelo dinheiro.

Completamente miserável e com a reputação queimada em Paris, Lucien decide voltar a Angoulême após 18 meses na capital.

A última parte do livro, “os sofrimentos do inventor”, conta as dificuldades de David Séchard em produzir um papel mais barato para impressão enquanto tentava pagar as dívidas feitas por Lucien em Paris. Ele se mostrou um laborioso e incansável inventor.

Aqui penso que Balzác tenha carregado muito a mão: tudo dá sempre errado para David, que é sabotado por seu funcionário mais próximo e é alvo de fraudes e maldades constantes perpetradas pelos irmãos Cointet, seus concorrentes na tipografia. Achei meio caricatural o herói romântico ter que sofrer até o final, ser preso injustamente, ver sua esposa passar por enormes dificuldades, enquanto para os vilões da trama tudo dava sempre certo. Fiquei angustiado enquanto lia essa parte.

Ao tratar das perseguições ao inventor David, Balzác denuncia a injustiça do sistema judiciário francês, que prestigiava completamente os interesses dos credores às custas da ruína dos devedores.

O contraste entre a conduta de vida dos amigos David e Lucien reflete, de certa forma, os próprios dilemas morais comuns à condição humana. Afinal, Lucien gostava apenas do status de ser poeta, não propriamente da poesia. Tinha a “natureza dos que amam as colheitas sem o trabalho”. Ele queria ser alguém, embora sem agir para tal. Por outro lado, David encarnava o trabalho lento e consistente, a perseverança: ele queria realmente inovar com seus experimentos e não simplesmente fazer dinheiro ou parecer o que não era.

David conhecia sua condição, suas qualidades e defeitos, sabia onde estava pisando. De uma certa forma, triunfou ao final. Já Lucien, vaidoso e ambicioso, queria simplesmente colher de onde não havia plantado, vivendo uma vida de ilusões. Perdeu-as todas.

O ritmo da trama é muito bem construído. Não conseguia parar de ler e “devorei” rapidamente o envolvente romance.

Carpeaux chama Balzac de “Homero da sociedade” e “Maquiavel da burguesia”, comparando-o a Shakespeare como grande conhecedor da natureza humana. Ele tem razão.

Sei o quão descabidas são as comparações em literatura, mas, após a leitura desta obra-prima, estou em sérias dúvidas se Flaubert é realmente o maior escritor francês que já li.
Ana Sá 07/06/2024minha estante
Paulo, muito bom esse paralelo que você faz das trajetórias do David e Lucien!

Concordo sobre o desfecho "caricatural", me faltava essa palavra pra nomear o que senti sobre a fase final de David!




Paulo 15/04/2024

Obra-prima
Li a edição de bolso da Saraiva, que peca por não trazer as três partes do livro divididas em capítulos.

A primeira parte, intitulada “Os dois poetas”, conta a história dos amigos David Séchard e Lucien Chardon, residentes na cidade provinciana de Angoulême. Ambos eram muito diferentes: David era trabalhador e pé no chão, enquanto Lucien, muito belo, era vaidoso e ambicioso ao extremo.

David trabalhava na gráfica que fora de seu pai, um velho avarento que o explorava por meio de um contrato leonino pelo qual lhe repassara a tipografia e suas máquinas. Lucien era um poeta de talento promissor, então com 22 anos, que ascendeu socialmente na cidade interiorana devido a seu relacionamento com a sra. De Bargeton, casada, com 36 anos, nobre e de gosto extravagante pelas artes e letras.

Apesar dos esforços da sra. de Bargeton, Lucien é ridicularizado pela sociedade de Angoulême, que não dava valor às letras e que desprezava sua origem humilde. Embora o relacionamento amoroso entre Lucien e a sra. de Bargeton tenha se mantido no plano platônico, as fofocas da sociedade fizeram com que eles decidissem se mudar para Paris.

No final da primeira parte, David casa-se com Éve, irmã de Lucien. Juntamente com sua sogra, David e Éve passam a residir em condições humildes na tipografia, pois eles entregaram suas economias para Lucien tentar a sorte em Paris.

A segunda parte do livro, “Um grande homem da província em Paris”, conta a história das ilusões perdidas de Lucien na capital francesa.

Rapidamente ocorre o desencanto mútuo entre Lucien e a sra. de Bargeton, causado pela nova vida em Paris. O jovem poeta, deslumbrado com a beleza e o frescor das moças parisienses, passa a enxergar a Sra. de Bargeton como velha e sem graça. Por outro lado, a Sra. de Bargeton percebe que, face aos artistas da capital, Lucien não era o intelectual que ela pensava; antes, era um caipira que não se ajustaria à sociedade parisiense. De possíveis amantes, transformam-se em inimigos.

Lucien logo se vê sozinho e miserável na capital francesa. Alia-se a um grupo de intelectuais pobretões como ele, mas idealistas, chamados de “Cenáculo”. Não consegue lançar em Paris seus dois livros, um de poesia, o outro um romance de época. Acaba ingressando no jornalismo e vende sua consciência e seu trabalho em troca das mais ardilosas negociações, em que acontecia frequentemente a destruição e a construção de reputações. Em rápida ascensão social, consegue ficar famoso, une-se à uma bela atriz de teatro, compra roupas da moda e se vinga, por meio de artigos de jornal, da Sra. de Bargeton.

Após sair dos jornais liberais em que trabalhava e ingressar nas fileiras da imprensa que defendia a monarquia, com o escopo de obter um título de nobreza, Lucien é perseguido por seus ex-colegas e rapidamente perde sua reputação e seus bens. A Sra. de Bargeton vinga-se dele.

A crítica de Balzac à imprensa é mordaz: não havia qualquer mérito no meio jornalístico, apenas interesses escusos e dinheiro. O ambicioso Lucien, como era ingênuo, foi completamente engolido pelas raposas da imprensa. Perdera suas ilusões sobre o valor da literatura - em Paris, tudo se resumia às relações sociais pautadas pelo dinheiro.

Completamente miserável e com a reputação queimada em Paris, Lucien decide voltar a Angoulême após 18 meses na capital.

A última parte do livro, “os sofrimentos do inventor”, conta as dificuldades de David Séchard em produzir um papel mais barato para impressão enquanto tentava pagar as dívidas feitas por Lucien em Paris. Ele se mostrou um laborioso e incansável inventor.

Aqui penso que Balzác tenha carregado muito a mão: tudo dá sempre errado para David, que é sabotado por seu funcionário mais próximo e é alvo de fraudes e maldades constantes perpetradas pelos irmãos Cointet, seus concorrentes na tipografia. Achei meio caricatural o herói romântico ter que sofrer até o final, ser preso injustamente, ver sua esposa passar por enormes dificuldades, enquanto para os vilões da trama tudo dava sempre certo. Fiquei angustiado enquanto lia essa parte.

Ao tratar das perseguições ao inventor David, Balzác denuncia a injustiça do sistema judiciário francês, que prestigiava completamente os interesses dos credores às custas da ruína dos devedores.

O contraste entre a conduta de vida dos amigos David e Lucien reflete, de certa forma, os próprios dilemas morais comuns à condição humana. Afinal, Lucien gostava apenas do status de ser poeta, não propriamente da poesia. Tinha a “natureza dos que amam as colheitas sem o trabalho”. Ele queria ser alguém, embora sem agir para tal. Por outro lado, David encarnava o trabalho lento e consistente, a perseverança: ele queria realmente inovar com seus experimentos e não simplesmente fazer dinheiro ou parecer o que não era.

David conhecia sua condição, suas qualidades e defeitos, sabia onde estava pisando. De uma certa forma, triunfou ao final. Já Lucien, vaidoso e ambicioso, queria simplesmente colher de onde não havia plantado, vivendo uma vida de ilusões. Perdeu-as todas.

O ritmo da trama é muito bem construído. Não conseguia parar de ler e “devorei” rapidamente o envolvente romance.

Carpeaux chama Balzac de “Homero da sociedade” e “Maquiavel da burguesia”, comparando-o a Shakespeare como grande conhecedor da natureza humana. Ele tem razão.

Sei o quão descabidas são as comparações em literatura, mas, após a leitura desta obra-prima, estou em sérias dúvidas se Flaubert é realmente o maior escritor francês que já li.
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Ana Sá 07/06/2024minha estante
Paulo, muito bom esse paralelo que você faz das trajetórias do David e Lucien!

Concordo sobre o desfecho "caricatural", me faltava essa palavra pra nomear o que senti sobre a fase final de David!




Erich 13/04/2024

Li a versão do Clube de Literatura Clássica, que utiliza a tradução Ernesto Pelanda e Mario Quintana diretamente do original em francês.

O poeta às vezes é um ser desprendido da realidade material. E, tal como domina as letras para descrever suas ilusões, seu mundo irreal, ele se perde em não saber julgar nem avaliar o mundo material.

Este livro é uma lição de vida. Temos Luciano, um jovem belo e inteligente. Inteligente, porém não sábio. Vemos ele se erguer num pedestal e de lá ser arremesado.

Ao ler, várias passagens me despertam a sensação de "isso vai dar errado". Devido principalmente à evidente insensatez cometida. Mas teria percebido isso no passado? Ou teria junto com Luciano, vivido ilusões e só caido na real bem depois? Essa dúvida me faz pensar que este livro seria uma ótima leitura para qualquer potencial 'bon-vivant', para qualquer jovem que objetiva obter glória.

A história não contém somente uma ilusão, nem somente um momento de aprendizado. São de fato diversas Ilusões Perdidas.

Agora, adicionar aqui algumas citações que achei interessantes

"As dívidas! Não existe homem forte sem dívidas! As dívidas representam necessidades satisfeitas, vícios exigentes. Ninguém triunfa senão acossado pela mão de ferro da necessidade.
- Aos grandes homens, a casa de penhores reconhecida! - gritou-lhe Blondet
- Tudo querer é tudo dever - afirmara Bixon
- Não! Tudo dever é tudo ter tido! - respondia Des Lupeaulx"

"A influência e o poder do jornal estão apenas em sua aurora - disse Finot - O jornalismo está na infância, há de crescer. Tudo, daqui a dez anos, há d depender da publicidade. O pensamento tudo iluminará, e ele [fará reis, desfará monarquias]. Por isso, se a imprensa não existisse, seria preciso não a inventar; mas existe, dela vivemos."

" - Vejo a poesia num lodaçal.
- Eh, meu caro, você ainda tem ilusões."

"A queda de um grande homem está sempre em proporção da altura a que chegou."
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Procyon 03/03/2024

Ilusões perdidas ? comentário
?Não há uma virtude que não seja acompanhada por um vício.? (p. 305)

(Trecho retirado de minha resenha no medium)

Balzac faz um apanhado a respeito do ressentimento social (reflexo de sua própria experiência como impressor), em que os personagens balzaquianos são meros escravos amargurados do desejo, apresentando protagonistas ambiciosos, mas antipáticos, com uma atitude detrativa para com a vida na província. Tudo isso, aliado ao seu brilhante sistema de ?personagens recorrentes?, Ilusões perdidas se faz como um ?estudo de costumes? frio, incisivo, porventura sardônico, objetivo e superlativo, satírico e sentimental. Com uma história retilínea, com demasiada atenção às regiões e aos detalhes pormenorizados, apresentando e desenvolvendo os personagens de forma minuciosa, com um diálogo vivo e um ritmo dinâmico, além de um narrador ?onisciente? que faz de Balzac uma espécie de cirurgião da sociedade com uma notável capacidade de observação e de uma memória prodigiosa, ao mesmo tempo, incisivo e com uma peculiar atitude de austeridade para os tipos traçados. Este livro, editado pelo selo Penguin, da Companhia das Letras, e traduzido por Rosa Freire d'Aguiar, e com introdução do estudioso britânico Herbert J. Hunt, é por vezes cansativo, por vezes cruel e cru, como a sociedade, como a vida. Sublime.
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Pdrmcd 28/01/2024

Um retrato da vida
Decidi ler ?Ilusões Perdidas? depois que uma professora na faculdade, na aula de Ética do Jornalismo, disse que todo jornalista tinha que ler essa obra.

A princípio, eu achava que seria parecido com outro livro do mesmo autor, que se chama justamente ?Os Jornalistas?.

Mas Ilusões Perdidas é muito mais do que isso. É um retrato de todos os sentimentos que temos durante a vida na constante busca de uma consagração. Julgamos Lucien pela sua avareza em alguns momentos, mas quem nunca pensou, ou mesmo tentou, dar tudo de si em prol do reconhecimento.

É um romance difícil de ler, especialmente pela extensa descrição que Balzac faz nos capítulos, mas, quem tiver paciência e apreço pela história, vai encontrar inúmeras lições de vida que nos ajudam a refletir sobre nossas próprias atitudes.
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Eliane406 12/01/2024

A restauração francesa
Balzac é um escritor da sociedade e de seus habitantes, soube observar e analisar cada tipo social. Ilusões Perdidas é um retrato panorâmico e corrosivo da Restauração Francesa do início do século 19. O escritor da vida com um compêndio de textos e personagens de A Comédia Humana, usou seus personagens para relatar a sociedade corrompida de seu tempo, em Ilusões Perdidas o personagem principal Lucien tenta vencer na vida, valendo-se da sua habilidade como escritor, mas sua ilegitimidade e cabeça dura o leva por cano nos tortuosos, indo parar em no mundo corrompido jornalismo, dominado pela ganância e falta de ideais.
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Karina599 10/01/2024

Balzac
Demorei muito pra terminar um livro que certamente terminaria em três dias no máximo, mas estava muito indisciplina com a leitura que merecia mais a minha atenção.
Voltarei a ler Balzac, Ilusões perdidas foi uma ótima experiência literária.
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Marion 13/12/2023

O título do livro entrega
Um jovem escritor que começa a ficar famoso em sua cidade vai para Paris para se consagrar e daí pelo título do livro já sabemos tudo
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Rodrigo Kimura 13/12/2023

Uma aventura sobre ingenuidade
Enquanto se acompanha a história, percebe-se a ingenuidade presente nas relações humanas que envolvem interesses, ambições e poder.
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