spoiler visualizarGabriel 21/04/2024
Uma história sobre racismo, machismo, solidão e desamparo.
O livro passa por diversos assuntos, contando a história da vida de uma mulher negra, passa por temas como racismo, sexismo, misoginia, papéis de gênero, religião, colonialismo e desigualdade social. Há muitos pontos tocantes e delicados. Algumas questões me tocaram mais a fundo, como é caso da discussão acerca da religião, do choque de culturas e da solidão.
Durante a leitura do livro, fiz uma reflexão sobre a relação da Celie, a protagonista, com a Shug, uma linda mulher. Celie vai progressivamente se descobrindo homossexual ao decorrer de sua vida, pois não tem desejo por homens, além de sofrer abusos e violências por parte deles, tanto de seu padrasto quando ainda era menina, como do seu marido posteriormente. Shug é uma mulher completamente diferente, pertence à vida boêmia, é uma artista, cantando em bares e ganhando a vida. Quando Shug passa a morar na casa de Celie, por ser amante de seu marido e estar doente, Celie não fica com raiva, mas passa a desejar ser próxima de Shug. Desse modo, Shug ajuda Celie a se descobrir sexualmente e criar coragem para fugir.
Depois de Celie fugir, passa por um bom tempo com Shug, até que, infelizmente, Shug deixa Celie para viver um romance com um rapaz mais novo.
A Celie faz algumas reflexões enquanto sofre pela ausência da Shug. Esse tipo de reflexão é familiar a mim e acho que a qualquer pessoa que tenha passado por isso.
Ela primeiro se pergunta se a Shug alguma vez a amou, olhando para si mesma e só vendo uma mulher feia e desinteressante . Ela acredita que sim, Shug a ama, mas mesmo assim é difícil se conformar com o fato de que a amiga foi viver uma aventura romântica e sexual, deixando-a para trás.
Celie quer acreditar que Shug a ama, e para resolver essa contradição, Celie decide que Shug tem o direito de fazer o que quer, Celie se responsabiliza pelo próprio desejo e pela própria dor. Celie obriga a si mesma a entender que amar alguém deve ser amar sem querer possuir, amar sem esperar ser escolhida de volta, e que o outro tem o direito de ser feliz sem sua presença.
Ela fica em paz com essa decisão, imagino que a amizade com seu ex-marido e o trabalho bem sucedido na costura tenham ajudado no processo de cura desse sentimento.
Outra reflexão interessante de Celie é que seu amor por Shug e sua dor pela falta da amiga seja devido a solidão. Ela entende que nunca foi feliz, e entende que talvez tenha se apaixonado por Shug apenas porque nunca tinha recebido afeto de verdade. Esses pensamentos acabam com a autoestima de qualquer pessoa. Imagino que abandonar o isolamento e trabalhar em algo que você seja bom seja o modo correto de superar isso. Celie vai para a costura e mantém laços com outras pessoas. Criando autoestima, tornou-se capaz de amar Shug sem sofrer por ela estar ausente ou ter ido embora, pois a vida continua e parar no tempo é bobagem