Rayssa 24/02/2024Bela históriaPublicado originalmente em 1982, A cor púrpura narra a história de Celie, uma mulher preta de origem muito humilde que nasceu no sul dos Estados Unidos durante o período entre guerras.
Escrito por uma narrativa epistolar, isto é, por cartas, vamos acompanhar a grande, embora triste, história de Celie. Desde a infância, a protagonista passa por diversas formas de violência, tanto física como emocional, sendo a mais chocante de todas o abuso sexual sofrido pelo próprio padrasto aos seus 12 anos de idade. Diante desse cenário, a autora nos coloca de frente com uma realidade cruel de racismo, machismo e misoginia.
A autora é muito inteligente ao optar por usar uma escrita coloquial, cuja simplicidade nos aproxima demais da história. A formalidade é deixada de lado para que a oralidade possa perpetuar a mensagem de Celie de forma mais honesta e viva. A humanidade da personagem é muito comovente, sua construção é impecável, assim como são os demais personagens dessa bela história, sobretudo Nettie e Shug.
Aliás, graças a essas duas mulheres, Celie consegue ganhar consciência de seu valor como ser humano, mas sobretudo como mulher. Com a descoberta do amor e da sexualidade, nossa protagonista consegue finalmente florescer e se tornar uma mulher forte e capaz de tudo.
A discussão sobre a fé também é dos pontos mais interessantes desse livro, na medida que temos aqui uma série de reflexões interessantíssimas sobre a existência de Deus em suas mais diversas formas e significados, inclusive sobre o que significa Deus na história da religião para os negros. Nesse contexto, destaco também a incrível participação de Nettie na África, momento em que temos contato com uma cultura tão rica e até um pouco controversa quando aponta a existência de um racismo oriundo da própria comunidade negra.
Em suma, essa foi uma leitura fantástica. Uma história com muita violência sim, mas não deixa de ser muito bonita e emocionante. Recomendo demais!