Euflauzino 24/06/2011O brilho em meio à escuridãoInadvertidamente e por curiosidade, de repente, me vi em meio a uma guerra em torno daqueles que defenestravam este livro e outros que o mantinham num lugar privilegiado de fã.
O livro traz a história de Bartolomeu, Júnior e Anja. Bartolomeu, um menino especial, que num revés da vida perde o pai e logo após também a visão. Júnior, um psicopata e aqui cabe a observação de que Koontz praticamente nos coloca na mente deste home cruel e é difícil não nos desestabilizarmos com tanta loucura. E Anja, menina fruto de um estupro e que terá importância capital no desenrolar da trama. Existem outros tantos personagens belos e outros nem tanto, mas é inegável a condução correta e ordenada de todos eles.
Capítulos são distribuídos entre as personagens principais dentro de cada núcleo, mas é a convergência entre as histórias destes 3 personagens, com situações cotidianas e pitadas sobrenaturais, que faz deste livro uma leitura fascinante. É a máxima de como o acaso pode impulsionar o destino de todos, jogando-os numa montanha-russa de acontecimentos inexplicáveis.
O livro parece ter sido escrito por duas pessoas diferentes. Um escrevia núcleo do psicopata e outro o da família de Bartolomeu. Existem algumas situações forçadas que incomodam, mas não subtraem o brilho imaginativo de Koontz. Algumas personagens deveriam ter ganho mais relevância, ficam perdidos em meio à história, inconclusivos. Ainda assim me agarrei firmemente a este livro.
A sucessão de tragédias deixa um gosto amargo na boca, mas Koontz cria trechos de pura poesia, como este que transcrevo, ao traduzir toda a dor de uma mãe que chora e em meio ao choro tem que lidar com a cegueira prematura do filho amado:
“A lua tremeluzia, as estrelas borraram – mas apenas por um instante, porque a devoção de Agnes a este menino era uma fornalha feroz que temperava o aço de sua espinha e trazia um calor seco aos seus olhos.”
Confesso que neste trecho eu chorei feito criança ao sentir a agonia da mãe. Apesar de todos os contratempos, este é um autêntico Koontz, cheio de magia, de lances sobrenaturais, mas acima de tudo emocional – é o que gosto neste autor: a facilidade de nos comover, de conduzir o leitor a um desfecho quase sempre previsível e ainda assim surpreendente.