Márcia Regina 29/06/2010
"No teu deserto"
Não gostei. Achei a relação descrita de forma artificial, tão “descrição” mesmo que comecei a duvidar de Miguel Sousa Tavares.
Quando li "Equador", também dele, saí com uma sensação parecida, de uma superficialidade no aspecto sentimento, percepção da dor, mas era uma grande história, foi escrita com pesquisa, talento, isso salvou o livro e salvou com louvor.
Já "No teu deserto” continua não me sensibilizando, não tem a trama e, inclusive, tem momentos de escrita bem, bem chão.
Fui atraída pelo primeiro parágrafo. É agoniado, marcado pela raiva da perda, raiva que é angústia, impotência, solidão, vontade de rebater e mesmo de machucar. Realmente gostei. Depois, para o gosto da Márcia, só desandou.
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"(No fim, tu morres. No fim do livro, tu morres. Assim mesmo, como se morre nos romances: sem aviso, sem razão, a benefício apenas da história que se quis contar. Assim, tu morres e eu conto. E ficamos de contas saldadas.)"
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O autor apresenta a história como um relato pessoal de um amor que teria vivenciado em uma viagem pelo deserto.
A partir de um determinado ponto, começam a aparecer também as falas da mulher, num contraponto/complemento ao personagem masculino. Não convenceu, não é a fala de uma mulher, penso que sequer a de um homem imaginando o ela falaria. São palavras forçadas, frases comuns, já tão ouvidas, quase de almanaque.
Lembrou histórias que vamos traindo com a memória, acrescentando ideias e lembranças, misturando, imaginando, transformando em algo maior do que realmente foi. O problema é que a passagem para o papel não concretiza a imaginação. E uma história, pelo menos enquanto estou lendo, gosto que seja real para mim.
Essa resenha está dura demais, eu sei, mas achei fraquinho, quase insosso. E ele tem talento para mais, poderia dispensar a publicação deste.