Cynthia 02/07/2012A Moreninha - Joaquim Manuel de MacedoUm grupo de estudantes de Medicina, Fabrício, Filipe, Leopoldo e Augusto, estão em um papo descontraído sobre amores e mulheres, quando decidem passar o dia de Sant'Ana na casa da avó de Filipe, D. Ana, na ilha de ... (Paquetá). Augusto, ainda contrariado, se vê diante de um desafio. Galanteador convicto, não se convence da promessa de Filipe de que é impossível sair da ilha sem se apaixonar. É aí então que decidem fazer uma aposta: Augusto há de cair de amores por uma das moças da ilha. O perdedor deverá escrever um romance. A partir daí, Augusto cede à pressão dos amigos e resolve acompanhá-los em sua visita à ilha.
Desafio aceito, portanto, os quatro jovens rumam à ilha onde mora D. Ana e se encantam com as diversas belezas que a paisagem traz ao espírito. E, claro, beleza que não nasce somente da natureza, mas também das belas moças da família que compartilham com os jovens um final de semana tranquilo na ilha. Ou melhor, talvez não tão tranquilo com a travessa D. Carolina, uma jovem de 15 anos também conhecida como Moreninha. Diferente da maioria das moças, que encantam principalmente pela graça, beleza e etiqueta, D. Carolina age como uma garota cheia de vida, brincadeiras e senso de humor, pregando peças e sem, no entanto, perder o seu encanto próprio e um charme diferente que chama a atenção de Augusto.
Durante um passeio no jardim, o jovem Augusto se senta na companhia de D. Ana e conta a ela um pouco sobre sua história e as decepções pelas quais passou que o fizeram se tornar a pessoa que é: não um homem amargurado e que evita a presença ou o amor das moças, mas o contrário, uma pessoa que procura um pouco do amor de cada rabo de saia em que coloca os olhos, apreciando em todas o seu ponto forte e sem se prender a uma apenas. Assim, é capaz de amar um pouco todas as mulheres. Sem saber quem estava espreitando e ouvindo de bico a conversa, apesar das suspeitas, Augusto também revela a D. Ana que seu verdadeiro amor está, na verdade, guardado há muitos anos em um pequeno breve que carrega consigo desde pequeno, quando encontrou uma pequena moça por quem se apaixonou e aguarda, desde então, reencontrar para poder devotar todo o seu amor a uma única mulher.
"A moreninha" é considerado o primeiro romance do Romantismo Brasileiro, período assim chamado, a princípio de maneira zombeteira, por trazer às artes uma visão do indivíduo sobre as coisas do mundo, os sentimentos e a natureza exaltada. Tudo, claro, de maneira muito romântica. Diferente de como a Literatura era tratada até então, o Romantismo se despiu da racionalidade e do sentimento de representação do real para tornar-se algo, em outras palavras, inovador e, sim, moderno. Pode-se dizer que a modernidade na Literatura começou a surgir com o Romantismo, embora o moderno seja visto, nesse caso, como algo inovador e que busca romper com os padrões do passado ou até então admitidos pela sociedade. Mesmo que o Romantismo ainda não tenha quebrado tanto com os padrões como faz a nossa Literatura Modernista, esse período literário foi fundamental para o Brasil começar a andar com suas próprias pernas, apesar de ainda usar bicicleta de rodinhas em relação à Europa.
A obra de Joaquim Manuel de Macedo não possui, necessariamente, uma lição de moral para os/as leitores/as ou sequer críticas aos costumes da época, como fez muito Machado de Assis. No entanto, é importante ressaltar que uma das principais personagens, A Moreninha, é uma personagem tipicamente brasileira. É uma mulata que é colocada não como uma personagem heroica ou como símbolo da libertação, mas sim como uma pessoa normal, que se encontra aos mesmos pés que as demais e, inclusive, faz parte da classe alta brasileira. Apesar de se tratar de uma obra de séculos atrás, a leitura é simples e, ao contrário do que eu acreditei por muito tempo no meu ensino médio, não é pesarosa. As descrições são rápidas e simples, e a única ambientação extensa que o/a autor/a faz é para descrever a ilha. E, ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, a proposta de diálogo com o/a leitor não surgiu com Machado de Assis, embora ele tenha aperfeiçoado a técnica de forma única, mas sim no período romântico. Encontramos traços desse diálogo em toda a obra de Joaquim Manuel de Macedo, e existe, também, a impressão de ele não está interessado em dar muitos detalhes, mas, sim, passar logo para os pontos importantes da história.
A obra é recomendada não apenas pela sua importância para a literatura nacional, mas por ser, sim, uma linda história de amor, que originou, talvez, diversos clichês que encontramos nas novelas e filmes produzidos no nosso país. O livro, inclusive, gerou diversas adaptações, tanto para o cinema quanto para a telenovela, além de versões em quadrinhos e outras simplificadas para a leitura de crianças.
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