Ana Júlia Coelho 20/02/2024Acompanhamos a trajetória de Jean Valjean desde que saiu das galés - onde viveu como forçado por 19 anos, até o fim de sua vida.
Foi dolorido ver as injustiças que um sistema comete com alguns crimes de pequena relevância e a forma que isso marca o prisioneiro para sempre. Vivendo em condicional, Jean Valjean precisa apresentar para todo mundo com quem interagir o seu documento informando que é perigoso e um ex-forçado. Cansado desse estigma e com a raiva fervilhando em seu coração, ele volta a furtar, mas dessa vez com uma consequência inesperada.
Jean Valjean muda de vida, ajuda todos que a ele recorrem, revoluciona economicamente a cidade onde se estabeleceu, mas, novamente, sua vida dá mais uma guinada: dessa vez ele se vê protetor de uma criança indefesa e órfã. Inocência e criminoso, andando lado a lado, criando um vínculo mais forte que diamante, acompanharemos o crescimento de Cosette ao lado desse a quem ela chama de pai, tudo isso às voltas da Revolução Francesa, enquanto um policial continua à caça de Jean Valjean.
Todo mundo sabe que um livro desse tamanho é pra lá de entediante em diversas partes, e é com uma obra dessas que percebemos a importância da amizade: se Victor Hugo tivesse algum amigo, com certeza seria alertado sobre a morosidade da história, onde poderia cortar, tranquilamente, umas 1000 páginas sem perder a essência da narrativa sobre Jean Valjean. Mas o autor gosta de contextualizar tudo, descrever tudo, florear algumas falar, incluir monólogos, o que deixa a história bem truncada no quesito fluidez. Não à toa, tinham dias em que eu conseguia ler pouco mais de 10, 20 páginas, antes de me entediar.
Mas, sobre a história, eu particularmente gosto muito. É um desenvolvimento simples, sem grandes acontecimentos, com personagens que se deparam frequentemente com dilemas entre fazer o certo e fazer o que o coração manda. Eu amo a forma com que ele conecta a história das pessoas e desenvolve os relacionamentos – muitas vezes bem problemáticos – em cima desses encontros. Também gosto do contraste entre algumas figuras. A autoridade representada no papel de Javert, onde a única coisa que importa é o cumprimento da lei, e o mau caratismo dos Thenárdier, que vivem dando golpe em quem passa. No meio desses dois extremos, temos nosso protagonista, que se esforça para se manter dentro do moralmente aceitável.
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