spoiler visualizarFelipe Duco 19/09/2017
Se não fosse uma continuação, seria um livro ainda melhor
Nunca é fácil falar sobre os livros da Tilly. Sempre tenho uma relação de amor e ódio com ela, oscilando entre a veneração e jogar o livro pela janela de tanta raiva.
Tirando as primeiras páginas onde Tracy aparece muito (mesmo que com o retrato de uma rotina tediosa e desinteressante) o grosso do livro não explora como deveria a nossa heroína. Correção: quase tudo no desenrolar da narrativa tem a ver com Tracy, mas ela não aparece. Acompanhamos as histórias: de Daniel Cooper, um serial killer fanático religioso; Jean Rizzo, inspetor de polícia com problemas no casamento, tentando pegar Daniel e esclarecer seus motivos; a história de Jeff, que é um ladrão profissional "aposentado" tentando voltar à ativa com roubos arriscados; Elizabeth Kennedy, outra ladra profissional em ascensão - embora ela falhe bastante; e por fim, e menos importante, temos também a vida de Tracy (literalmente aposentada da vida de crimes, mãe de família, morando interior dos Estados Unidos), essa segunda parte da história da nossa protagonista também é monótona e pouco excitante, além de ser frustrante. Minha expectativa de ler a sequência de "Se Houver Amanhã" era voltar ao ambiente de adrenalina, aventura, roubos bem executados e a mente genial de Tracy, porém nos deparamos com uma história absolutamente diferente.
O livro não é ruim, tem ritmo, umas pequenas reviravoltas boas, mas não cumpre o que promete: "ser a sequência de tirar o fôlego da obra prima do autor mais traduzido do planeta."
Duas coisas também me incomodaram o livro inteiro: a semelhança em relação a personagens da Tilly. Esse foi o quarto livro dela que li com a marca Sidney Sheldon e tem elementos das obras anteriores que são explícitos demais. Jean Rizzo é tão parecido (em vida, profissão, personalidade e propósito) com Danny McGuire de "Anjo da Escuridão" que parecem ser a mesma pessoa em universos diferentes, assim como Daniel Cooper é idêntico em personalidade (e pelo fato de perseguir a protagonista sem um motivo sensato) com Gavin Williams de "Depois da Escuridão". Embora os dois conceitos sejam bons e funcionem (o fanático religioso e o investigador cativante e atrapalhado) nesse livro eu tive a sensação de ideia requentada.
O meu maior medo assim que soube da existência dessa continuação era que eu imaginava que para executar os planos extraordinários de Tracy e Jeff era necessário ter uma mente tão brilhante como a do mestre Sidney Sheldon e eu desconfiava que talvez Tilly não fosse tudo isso: e infelizmente foi verdade. Os poucos roubos que acompanhamos no livro, que deveriam nos arrepiar, foram bem fracos e difíceis de se convencer.
Mas Tilly se saiu bem apesar de tudo.
Se não fosse uma continuação, seria um livro melhor do que a encomenda, porque em todos os momentos em que ele se desenvolvia, sem tentar ser uma sequência ambiciosa, a obra se saiu bem. Não me importei com o fato de Tilly ter começado a história onde a primeira terminou, nos anos 80 e ter continuado já em 2014, como se nada tivesse acontecido. Achei que deu certo, foi quase imperceptível e coube bem no contexto todo. Fiquei surpreso e bem satisfeito com o rumo que a vida pacata de Tracy tomou (seu relacionamento com Blake Carter é primoroso), tenho um carinho por Jean Rizzo e Elizabeth Kennedy, que foram as duas estrelas centrais dessa história e também Daniel Cooper (que chegou só no meio do trama, mas que mandou na porra toda, embora eu não me lembre que ele era tão lunático assim no primeiro livro). A linguagem da Tilly, todas as referências históricas e o refinamento da escrita chegaram o mais próximo de Sidney Sheldon e isso é muito positivo.
O que me faz gostar desse livro mais do que deveria é a expectativa que a continuação dele me trás. Já estou contando com o fato de que Tracy não teve sua vida e seu mundo explorado aqui pra que ela arrebente com a nossa cara em "Um Amanhã de Vingança".
E mesmo que tenha parte de mim, bem no fundo, que me avise que talvez isso não aconteça, eu escolho acreditar.