Jeff.Jammer 18/06/2023
Belamente Dolorido!
Aqui você encontra muita tragédia, injustiça, horror e dor. Creio que tudo que uma guerra pode proporcionar.
Embora o tema não seja ela em si, é impossível se desconectar, pois é todo o pano de fundo. E todas as agruras da história são originadas dela: fome, miséria e exploração.
Nesse contexto, como vive uma menina cega desde os seis anos, sem mãe, logo depois sem lar, e depois sem mais ninguém? Ela sobrevive cheia de esperança. De amor pelo pai e pelas histórias que ele contava e que ela lia. O livro é entremeado de citações da sua obra predileta, Vinte Mil Léguas Submarinas - Júlio Verne. E ela sempre relaciona seu dia a dia às aventuras do professor Aronnax. É como ela, Marie, vê a vida.
A história dela é tão bem contada que a gente se sente cego, captando o entorno como ela, aos poucos, fragmentado, a ponto de ficarmos ansiosos com que perigo está na frente.
Marie é forte, esperançosa e corajosa, até onde uma menina com 16 anos pode ser. E também é igualmente frágil.
Em outra esfera um menino cativante. Inteligente, dedicado e doce. Werner. E que vai se questionando qual o lado certo. Um menino que embora tome o lado errado, não pode ser culpado, pois as alternativas não eram fáceis e acessíveis. E escolhê-las poderia significar a morte.
Nesse livro não há reviravoltas. Tudo é muito real. E como o real nesse contexto de guerra, tudo é fatídico, dolorido, horrível.
Da forma como é escrita a guerra e a ocupação, parece que estão sempre vendo ela do lado, como um fogo gigante, sempre perto, que não queima na hora, mas que esquenta demais, joga fumaça demais, e a gente inala ela aos poucos, ou seja, não tem como fugir.
Mas tem muito amor aqui. Muita solidariedade. União e resistência. São momentos lindos de ver.
O que não é dito a gente aquiesce. É a guerra e, portanto, a gente não tem dificuldade para entender.
Pessoas se vão, outras ficam, outras ficarão perdidas para sempre. Uma dúvida no peito, uma saudade que dói.
Uma história realista, sem firulas. Cheia de medo real, de dor real, e de pequenos momentos felizes que não compensam os danos, mas que fazem percebermos que às vezes a felicidade é isso, não uma plenitude, não é total, não inteira, mas um gesto, uma palavra, uma lembrança, um momento - um momento feliz.
Viver não é sofrer. Mas na vida há sofrimento. Não é só alegria, mas podemos rir quando a oportunidade acontece.
Recomendo!