Anna Laitano 19/02/2020Até que ponto o clássico envelheceu mal?Sei que estamos falando de um clássico (que eu já queria ler há MUITO tempo, aliás), mas sejamos imparciais.
Primeiramente, o começo é absurdamente lento, cheio de detalhes que tornam os capítulos desnecessariamente longos, com narrações que não acrescentam à trama principal. Usando da sinceridade crua: o livro começa chato. Somado ao fato de a edição bilíngue da Landmark ter os capítulos intercalados (um em PT-BR, outro em FR), também atrapalha na questão da fluidez.
Apesar disso, com o avanço do enredo, é possível entender com facilidade como O Fantasma da Ópera se tornou um clássico tão grande. Apaixonados desafortunados, drama, suspense, um protagonista extremamente dualizado e psicologicamente complexo... Com todos os elementos para o sucesso, a fama é justificada.
Ainda assim, resumir o que achei do livro é um misto de sensações difícil de explicar. Mas tentarei fazê-lo da melhor forma.
Se por um lado dá, facilmente, para entender porque Erik, sempre negligenciado, tenta reclamar algum amor a unhas e dentes, por outro, não é uma história que envelheceu bem; especialmente nos tempos em que estamos, com tanta violência à mulher. Então, com a dificuldade de ser mulher em um mundo machista, como ter empatia com um protagonista tão altamente tóxico, que tenta conseguir à força o que não lhe é oferecido de bom grado?
Ainda assim, é impossível não compartilhar das palavras de Christine: "Pobre e infeliz Érik!". Se contentando com migalhas roubadas, é difícil não sentir pelo menos um resquício de pena, especialmente em seu momento de redenção, quando, ao receber algum eco de amor (mesmo que na forma de piedade), finalmente compreende que para retribuir tal ato, tem que deixar aquela que ama livre para ser feliz -- coisa que ela nunca poderia ser ao seu lado. De certa forma, Érik viveu por amor, em sua procura descabida e suas noções tortas, e morreu por ele também, ao entender o lado mais altruísta do sentimento.
Em resumo: Se você é do tipo que não aguenta machismo e que sai declarando "morte ao pên*s" (o que é problemático, mas obviamente não entrarei nessa questão aqui), este definitivamente não é um livro para você; passe bem longe! Agora, se você quiser explorar um clássico psicologicamente complexo, O Fantasma pode ser uma boa pedida.